ENTREVISTA COM O MESTRE E DOUTOR , FARMACÊUTICO JOSÉ CARLOS TAVARES
O BOOM DAS PESQUISAS E DA CIÊNCIA
Reinaldo Coelho
Tribuna Amapaense - Como farmacêutico, como a senhor vê esse progresso das pesquisas das vacinas contra o corona vírus e a imunização dos contaminados?
Tribuna Amapaense - Qual é a verdadeira situação das vacinas e sua fabricação no Brasil?
José Carlos Tavares – Infelizmente, eu tenho que dizer que o Brasil está atrás. Não por falta de mãos de obras qualificadas, pois temos pesquisadores de alto níveis e profissionais competidíssimos em qualquer nível, mas, principalmente, devido à falta de políticas públicas, para que haja investimento nas áreas de desenvolvimento de novas vacinas.
Observa-se ai, esta falta política,
principalmente de desenvolvimento de novos fármacos no Brasil, está sendo
demonstrado agora nesse momento. Não houve uma seriedade em termos de
contratação por parte dos países que dominam essa tecnologia, para que haja
essa oferta dessas vacinas para o Brasil. Isso, não quer dizer que não tenhamos
capacidade de produção, veja a experiência do Instituto Butantan, que é uma
referência internacional, ele tem todas condições de produzir qualquer tipo de
vacina, não somente em termos estruturais físicos, mas em termos de possuir a
capacidade de recursos humanos, para se dedicar a essa produção e de pesquisas,
Mas, entretanto o Brasil fica longe em termos de investimento naquilo realmente
deveria se dedicar a investir, eu penso que é uma grande perda.
Tribuna Amapaense - Os laboratórios brasileiros estão com capacidade de manter a produção dessa nova vacina, tendo em vista as outras imunizadoras que aqui são produzidas?
José Carlos Tavares – Os laboratório brasileiros são fantásticos, e eles desde que começou a pandemia se preparam, para justamente para abarcar essa carga de responsabilidade que tem que ter, em termos de produção. Basta observarmos a questão Instituo Butantan, que já tinha o Selo de Qualidade da Anvisa, e, mais especificamente com referência à fabricação da vacina em parceria com a China, já foi dado o aval da Anvisa, que tem o Selo de Qualidade Internacional para essa produção. Eu não vejo problemas para os laboratório radicados no Brasil, para a produção dessas vacinas.
0Tribuna Amapaense - Há uma preocupação de que o Brasil será um dos últimos países a receber uma vacina, quando houver uma. Na sua opinião, o fato de o Brasil estar envolvido no estudo deveria facilitar o acesso à vacina?
Infelizmente, quem está pagando este fato são
pessoas, são vidas. São pessoas que viveram este último Natal triste, pois
perderam entes queridos de suas famílias. Esse tipo de coisa não podemos
aceitar.
E eu acredito que o Brasil será o último a
receber a começar a vacinar. Pois, as indústrias que estão produzindo vacinas e
os governo onde estão instaladas essa industrias não venham acreditar em
nenhuma política que venha adotar, de modo repentino, depois de tantas besteira
que foram faladas e assumidas e esse é um fato a lamentar.
Tribuna Amapaense - As pesquisas para a vacina desse novo vírus, foi exitosa em menos de dez meses, isso garante a eficiência da imunização?
José Carlos Tavares – Existem, para qualquer medicamentos e vacinas, é o mesmo protocolo. Temos de desenvolver a molécula ou então o medicamento, a formulação farmacêutica. Então, partimos para a fase dos ensaios pré-clínicos. Quais são? São ensaios realizados em órgãos isolados, células isoladas ou em animais de laboratórios. Com a vacina é a mesma coisa, ninguém pode pular essas fases. Depois disso, em que depois foi demonstrado a segurança e eficácia em animais de laboratório, celular ou outros métodos, passamos para ensaio clínico. O todas essas fases depende de que? Investimentos. Se tiver dinheiro, eu, por exemplo, em Macapá, posso contratar outros grupos de pesquisas: Da Índia, Polinésia, de Londres e cada um vai fazer uma fase. Por exemplo, se o ensaio pré-clínica, não ficar somente em Macapá, e for distribuída em diversos países, o que vai acontecer? Nós podemos terminar essa fase em um mês, que poderia demorar dois anos. Então tudo depende de investimentos.
Foi isso que aconteceu com esses laboratórios, com
ajuda de recurso interno dos laboratório privados, como também de diversos
governos desses países, investiram e muito. E dividiram a responsabilidade por
diversos grupos, dos próprios países como de outros países.
Para mim dez meses foi um prazo longo, pois penso
que seria mais curto, se não tivessem politizado a realização dos ensaios
clínicos em muitos países, caso do Brasil, onde a Anvisa demorou e o Comité de
Ética Nacional demorou em aprovar os ensinos clínicos no Brasil. Não houve
mistério de ter sido feita em dez meses, poderia ser menos. Eu que conheço e
sou da área, não teve espanto. Acho que poderia ter sido menor tempo em
chegaram a essa vacina.
0Tribuna Amapaense - Qual a diferença da eficácia e da garantia das vacinas que estão sendo colocadas no mercado?
Instituto Butantan (SP) |
José Carlos Tavares – Não vejo diferença de outras vacinas. O que diferencia agora é que foram desenvolvidas com maior rapidez que o caso requer. Não vejo em termos de segurança e do uso dessas vacinas. Todas passaram pelos ensaios pré-clínico e clinico.
0Tribuna Amapaense - Além da vacina, alguns remédio que possa ajudar a salvar vidas nesse momento dos 200 analisados, já existe algum que possa ajudar a controlar a contaminação?
Tribuna Amapaense - Uma nova ramificação do vírus vem acontecendo na Europa, foi detectado no Reino Unido, essa é a verdadeira segunda onda?
José Carlos Tavares – Com referências as variantes, isso acontece devido as mutações. A partir de que o vírus se expandiu e atingiu todo mundo. Pode acontece essa mutações, que popularmente chamamos de variantes. Pesquisadores da Fiocruz, já tinham antecipado, logo depois de três meses da declaração da pandemia que isso ia acontecer essa mutação de modo muito rápido no mundo todo. E está ai. Pois trata-se de um vírus pandêmico. Não se pode chamar de segunda onda. Na verdade é uma infecção com vírus modificado e pode infectar aqueles que já tiveram a Covid. Então, se assim for, podemos dizer que é uma segunda onda, que pode acontecer mais violenta ou mais branda naquelas pessoas já tiveram e a quantidade de anticorpos produzidas são bastantes significativas.
Tribuna Amapaense - Porque os laboratórios não estão registrando e nem pedindo o emergencial de suas vacinas na Anvisa?
José Carlos Tavares – Porque o Brasil demorou em se
manifestar em relação ao interesses pelas vacinas. Agora eles estão lotados,
porque a demanda mundial é bastante grande, e o Brasil ficou para trás. O que
deve ser feito? A própria Anvisa deve dar valorizar a vacina do Instituto
Butantan que é convenio com a China. Isso eu falo com toda a certeza, que um
grandes laboratórios da Inglaterra e da Alemanha, não vão se importar e,
responder com as exigências da Anvisa, tendo uma grande demanda contratada em
muitos países. Esse foi um fato de grande irresponsabilidade de gestores do
Ministério da Saúde e que eu espero que seja resolvido.
O governo brasileiro tem que dar todo o respaldo
e auxilio para o Butantan e a Fiocruz, para que essas vacinas que eles estão
trabalhando com parceria comesses laboratório do exterior, se traduza em
realidade o mais rápido possível, pois os outros laboratório não atenderam
devido a grande demanda que tem de atender.
Tribuna Amapaense - Essa politização no Brasil da vacina fabricada pela China, prejudica o entendimento da população na necessidade da vacinação?
José Carlos Tavares – A politização, possa garantir que foi um tremendo erro das autoridades brasilkeira levarem para esse lado. Agora o que está acontecendo? Descredito tremendo, de uma pequena parcela da população pela vacinação. Mas após começar a vacinação esse posicionamento vai mudar. É uma pena, porque trata-se de um vírus pandêmico, e o número de mortos está chegando aos 200 mil e algo muito sério. E precisaria de uma Política de Saúde Pública Epidemiológica de Vacinação responsável da forma que não aconteceu. Este fato geram transtornos extremamente grande, traduzindo no descrédito da confiança por uma minoria da população brasileira pelo processo da vacinação. Espero que isso se modifique. Com certeza as autoridades que implantaram isso irão responder mais cedo ou mais tarde por isso. Pois, nenhum governo se manteria em pé com descredito em relação da não vacinação de um vírus pandêmico, Essa é uma situação que vai se traduzir em muitos processos judiciais.
Tribuna Amapaense - Os insumos farmacêuticos usados nas vacinas são de origens chinesas e esse ‘preconceito’ traz problemas para o uso no Brasil?
China e é único pais que produz esses insumos e o Brasil depende deles. |
José Carlos Tavares – Os insumos farmacêuticos usados na
fabricação, não somente das vacina, mais em muitos medicamento de alto impacto
na terapêutica farmacológicos os maiores produtores são China e Índia.
Essa questão de politizar contra os produtos da China, é uma
grande bobagem. Se houver uma retaliação por parte do governo da China, o
Brasil estará totalmente quebrado com em termos de implementação de políticas
para diversos outros tipos de medicamentos, não somente para a vacina
Coronavac, como para tratamento de Câncer, medicamento para doenças hematológica,
dermatológicas e todos esses insumos são produzidos na China e é único pais que
produz esses insumos. Isso é uma grande bobagem. E isso parte de pessoas que
não tem nenhuma conhecimento de produção de fármacos mundial e pode prejudicar
o Brasil. Se eu estivesse a frente, manteria uma política de boa vizinhança.
Pois, dependemos e muito da China e da Índia em questões da produção de medicamentos.
E principalmente de medicamento de suma importância como para tratamento da
Aids e toda a matéria prima vem da China e da Índia.
José Carlos Tavares – A vacina da Oxford tem essa vantagem da
sua eficácia e as outras também estão apresentando eficácias boas. Mas ela tem
grande desvantagem, a manutenção dela é de baixíssima temperaturas, em torno de
– 20º, o governo brasileiro vai ter de investir em processos de mantenedores de
baixa temperatura. Se possível ela for distribuída no Brasil ela chegue com segurança
a quem vai usufrui-la. Imagine, essa vacina sendo transportada até ao Oiapoque,
a qualquer lugar do Estado do Amapá, então, vai ter uma infraestrutura altamente
qualificável para poder manter a qualidade a eficácia dessa vacina, para sua
aplicação ideal. Então a sua desvantagem é sua manutenção, que é desejável que
se mantenha em baixíssima temperatura. Então
esse é um grande problema para nós que moramos no Brasil e principalmente nas
Zonas que são extremamente quentes como o Amapá, Amazonas e todo Nordeste
Brasileiro.
1Tribuna Amapaense - Financeiramente, seria mais barato para o governo financiar integralmente a pesquisa médica, a produção e a distribuição de medicamentos essenciais, ou é mais barato não fazer isso e essencialmente aceitar os custos sociais e os impactos de viver em um mundo onde uma parcela das pessoas simplesmente não pode arcar com o tratamento?
José Carlos Tavares – Eu sempre defendi e defendo como farmacologista
e militante dentro de indústrias farmacêuticas há anos no Brasil e no exterior,
sempre defendi que o Brasil deve implantar independência de produção de fármacos.
Quando eu falo em independência de produção de fármacos, deve
começar: desde a geração dos insumos, para a produção dos medicamentos através
de sínteses; obtenção a partir de nossas riquezas de produtos naturais até
mesmo o desenvolvimento de medicamentos no Brasil. Temos uma capacidade, em
termos de pessoal, de alta qualidade e de alta qualificação no Brasil. Para terem
uma ideia, o Brasil é o país em 13º lugar, em termos de produção cientifica no
mundo. Está à frente da Suíça e outros grandes países. Isso significa que nós temos
a capacidade em termos de recursos humanos, mais precisa de investimentos,
principalmente da instalação de infraestrutura necessária para a produção de fármacos.
Eu já sugeri a diversos governos do Estado do Amapá, sugeri
de criarmos uma indústria farmacêutica estatal. Essa indústria teria a capacidade
de produzir todos os medicamentos básicos da Relação Nacional de Medicamentos
(Rename) e inclusive produzir alguns medicamento de altos custos e iria
diminuir as despesas do estado com gastos de medicamentos em torno de 80%.
Infelizmente, os governos mantém o interesse em comprar e manter esse status de
dependência com outros estados e outros processos, como o Licitatório, em vez
de produzir localmente. Falta gestão e entendimento em termos da valorização do
Brasil, da Região e do nosso Estado tem em produz\ir medicamentos de alta
eficácia.
Para finalizar, quero agradecer as perguntas, que parece que
você é um jornalista especialista em Ciência. Parabéns e me coloco a disposição
do Jornal.
Perfil Pessoal
Jose Carlos Tavares Carvalho
CCCF - COORDENAÇÃO DO CURSO
DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS - CCCFARM
Descrição pessoal
Sou Macapaense, estudei todo
ensino fundamental e médio em Macapá, em escolas publicas, e depois o curso
superior em Belem.
Formação
acadêmica/profissional (Onde obteve os títulos, atuação profissional, etc.)
Doutorado em Fármacos e
Medicamentos (SP-Capital) pela Universidade de São Paulo em 1998. Realizou
estágio de pós-doutoramento no IFP-Berlin-Alemanha, ex-Reitor da Universidade
Federal do Amapá (período 2006-2014), Professor Titular da Universidade Federal
do Amapá, membro titular da Academia Nacional de Farmácia, ocupando a cadeira
no. 47, membro do Conselho Deliberativo da Farmacopéia Brasileira, foi
Vice-Presidente da UNAMAZ (Associação das Universidades Amazônicas), membro da
Câmara Técnica de Fitoterápicos da ANVISA - MS (CATEF), Coordenador do Comitê
de Apoio a Políticas de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira.
Áreas de Interesse (áreas de
interesse de ensino e pesquisa)
Atualmente participa de 5
projetos de pesquisa, sendo que coordena 4 destes. atua na área de farmácia,
com ênfase em ensaios biológicos. em suas atividades profissionais interagiu
com 391 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. em seu currículo
lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica,
tecnológica e artístico-cultural são: anti-inflammatory, anti-inflamatório,
analgesic, analgésico, anti-inflamatório, anti-úlcera gástrica,
anti-inflamatória, Casearia sylvestris, fitoterápicos e óleo essencial.
Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4251174810000113
Formação Acadêmica
- GRADUAÇÃO
- MESTRADO
Universidade de São Paulo
- DOUTORADO
- PÓS-DOUTORADO
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