263 anos
Parabéns Macapá!
Por Roberto Gato
Eita! como o tempo é veloz.
Piscamos e lá se foi mais 365 dias. O calendário romano diz que Macapá no
próximo 4 de fevereiro completa 258 anos. Temos um intervalo secular entre o
povoado criado e entre a de Nuno da Cunha Ataíde Verona (1756) e a Macapá
Sabe; na realidade o que conta mesmo é a história dessa cidade
morena, cantada em verso e prosa por tantos poetas. Alexandre Vaz Tavares creio
que tenha sido o primeiro a deitar versos de exaltação a Cidade de Macapá. Diz
o médico e poeta Alexandre sobre sua cidade.
“Na esquerda margem selvosa do Rio-Mar, o Amazonas”.
Pensativa e descuidosa como essas gastas madonas das noites de bacanal, descansada atividade dos anos, na nova idade, a minha amada cidade, minha cidade natal.
Para Leste, orientada em face, encara o Nascente, de onde lhe envia a alvorada um beijo róseo-nitente em cada um raio de sol. A noite, a Lua de prata fios de pérola desata por entre a florida mata onde canta o Rouxinol.
Ao Oiapoque, o guianense, vão seus solos marginais que se prolongam no plano nas divisões boreais, em Serras em alcantil. A Oeste, vastas campinas. Amplo tapiz de boninas, com pingues raças bovinas. Riquezas e encantos mil.
Por atalaia gigante ou por sinal de defesa do granito mais possante levanta uma FORTALEZA. Negras muralhas ao Sul. Outrora adornadas de aço, faziam troar o espaço dos canhões seus com o fracasso. No vasto horizonte azul.
Outrora, quando ascendia sobre aquela grimpa ingente entre os sons da artilharia o pendão aurifulgente, o auriverde pavilhão; trajava a cidade inteira alva roupagem faceira, pela data brasileira, ou festa de devoção.
Então, que alegre não era ver-se o lêdo rodopio em manhãs de Primavera ou nas tardinhas do estio, de um povo em festa a folgar; moças, com laços de cores, raparigas com mil flores, rapazes buscando amores...tudo era rir e brincar!
Hoje...Lá jaz o colosso quase em total abandono formando quase um destroço na triste mudez do sono do desprezo mais cruel. É correção de soldados. É presídio de forçados. É terror de condenados, de criminosos. Quartel.
Hoje o bronze já não salva da galharda bateria, quer assome a Estrela D’Alva, quer venha findar o dia. Não fosse a luta feral do Rio-Mar com a procela, ou os brados da sentinela quando, a caso, a noite vela, fora tudo em paz mortal...!
Maldito! Maldito seja, vezes mil, um tal governo que insaciável deseja céus e terras e até o averno desfeito em um Ouro só!
Maldito, porqueos legados dos nossos antepassados, em vez de serem zelados, são desprezados em dó!
Sim! Maldita a monarquia aleijão dos privilégios que cegamente confia aos fátuos caprichos régios a sorte de uma Nação.
Ao sistema– imperialismo, ao torpe maquiavelismo Del’Rei Senhor – egoísmo, maldição! Sim, maldição!...
Dorme cidade, em teu sonho sonhas os fulgores de outrora... Veneza já teve um trono, já foi dos mares Senhora e as Nações já leis ditou: mas hoje... ei-la: descansa, rememorando a pujança do fastígio, que a mudança dos tempos lhe arrebatou.
Dorme!...Tens aos teus pés prostrado o Rio-Mar, bardo eterno, que entoa sempre inspirando ora o canto mais galerno, ora os hinos do tufão...Dorme aos sons da cavatina das aves entre as cortinas Dessas florestas divinas. De teu risonho sertão.
(Agosto de 1889, Macapá/Para)
– Alexandre Vaz Tavares foi o primeiro cantor de uma cidade chamada
Macapá, segundo Acelino de Leão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário