sábado, 12 de junho de 2021

SAÚDE EM FOCO - ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE HUMANA

     ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE HUMANA

       


Por Jarbas Ataíde 



    Existem temas que parecem desvirtuar da prática médica. Um deles, pouco incorporado nos currículos universitários, é a espiritualidade. Apesar da Medicina ter impulso e crescimento dentro de escolas e universidades com influencia teológica, a espiritualidade foi substituída por dogmas e crenças. Mas a essência humana transcende a religiosidade e se expressa no convívio, contato humano e relação com o meio-ambiente.

          Tive o privilegio de paralelamente à formação acadêmica, de ter contato e vivenciar a espiritualidade na Ação Católica, Pastoral da Juventude e da Saúde. 

         “A espiritualidade é como o amálgama de emoções positivas que nos une aos outros seres humanos e à nossa experiência com o divino, como quer que o concebamos, ela tem uma profunda base psicobiológica, uma realidade arraigada nas emoções humanas positivas ... [como] amor, esperança, alegrias, perdão, compaixão, fé, reverência e gratidão...”( Vaillant, 2010).  Para esse autor, a espiritualidade não se apega em ideias, textos sacros e teologia. 

        Tanto a visão de “amor e de espiritualidade são resultado de sentimentos conscientes, como: respeito, apreço, aceitação, simpatia, compaixão, envolvimento, ternura e gratidão”. 

       Mas para atingir a integralidade do homem, a Medicina e os médicos devem ter essa noção e abertura para bem exercê-la, para prevenir, identificar, curar ou atenuar os sofrimentos e dores das pessoas. A Medicina é ciência no conteúdo e arte na prática. E essa prática tem muito de intuição, de subjetividade, dons, emoções e sentimentos.

Muito dessa temática foi estudada por Viktor Frankl (1991), como buscar o “sentido da vida”, cuja intervenção terapêutica chamou de “Logoterapia”,  que busca acolher a consciência  e tem como pressuposto “compreender o ser humano como um ser espiritual que não é tocado  pelas neuroses e psicoses, e flui nele o livre arbítrio, o poder pessoal de decidir os rumos da sua vida”.

Incutir essas dimensões na abordagem médica seria fundamental para a tomada de decisão dos doentes, não se submetendo exclusivamente ao ato médico, mas buscando motivações subjetivas para estimular o amor próprio (autoestima) e os valores transcendentais e imateriais (emoções e sentimentos edificantes).

Assim, a Medicina e Logoterapia, teriam uma relação intrínseca com a teologia e a filosofia. Isso daria aos médicos noções básicas de não apenas prescreverem remédios e emitir conselhos teóricos, mas buscar nos pacientes os intensões interiores para se “erguer das dificuldades, enfermidades, vícios, tristezas, o vazio e os golpes do destino, se pudermos ver sentido em nossa existência” (Carvalho, 1997).

Mas o aprendizado da arte médica e a sua prática, marcado pela pressa, a mercantilização, industrialização, tecnologia e, agora, pela telemedicina, tem formado gerações de médicos “que possuem dificuldade de se relacionar e de prestarem cuidados compassivos aos seus pacientes, comprovando... o risco de desumanização  das instituições medicas”  ( Ghadirian, 2008). 

Toda a antiga preocupação hipocrática de tratar a integralidade do homem, buscando a benevolência do cuidar do corpo e da alma, e dos conceitos das terapias orientais, ainda são ignorados por muitas escolas medicas, incapazes de escutar e acolher as “crises subjetivas intensas... e inconscientes” da alma humana. 

Assim, cuidar do homem integral (corpo-mente-espírito-energia), é incutir e incluir na pratica terapêutica valores como “amor, esperança, alegria, perdão e compaixão, que são o combustível da  espiritualidade”. Isso exige da escola, dos profissionais e dos pacientes, a revisão de valores e conceitos, quando procuramos compreender as relações existentes entre a espiritualidade, a religião e a ciência.  Esta “deve oferecer à religião subsídios para o estreitamento da relação entre a espiritualidade e a religiosidade, ... o universo psíquico e apresentando ao ser humano e ao mundo, uma alternativa diante da angustia existencial”.  (Fonte: Logos & Existência, 2014. Revista da Ass. Bras. De Logoterapia e Análise Existencial).  JARBAS ATAÍDE, 07.06.2021. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...