segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

SAÚDE EM FOCO BENZEÇÃO, ORAÇÃO E PLANTAS MEDICINAIS: RELATO PESSOAL.

BENZEÇÃO, ORAÇÃO E PLANTAS MEDICINAIS: RELATO PESSOAL.



Por Jarbas de Ataíde

Meu contato com as plantas medicinais e a chamada “Medicina Popular” remonta a 1ª infância, na minha cidade natal, Curuçá-PA, onde, no grande quintal, tínhamos árvores frutíferas e ervas medicinais. Quando tínhamos pequenos desconfortos, me recordo de uma benzedeira, que rezava e fazia jaculatórias, para expulsar a doença, usando um ramo de planta (vassourinha, arruda, manjericão), que passava no corpo.

Benzeção, Oração e Planta Medicinal, três recursos subjetivos e naturais para tratar doenças simples, que resolviam e impediam de ir aos serviços de saúde. Nos adultos, o efeito da benzedura poderia ser atribuído ao efeito “placebo”, induzido pela crença e o ritual da Benzeção. Mas, e nas crianças, como justificar a eficácia e melhora?

Hoje, com o avanço dos estudos e investigações da Neurociência, já existe consenso de que a espiritualidade, a oração, a fé e a resiliência (firme convicção) são capazes de despertar as defesas do corpo e ativar a autocura. Dessa forma, o corpo e a mente se recuperam mais rapidamente.

E nas crianças, que ainda não têm compreensão (0 à 7 anos) ou nas pessoas com debilidades mentais, como explicar o efeito benéfico da benzedura? Eu atribuo isso ao efeito terapêutico das plantas medicinais usadas no ritual da benzeção. Prática essa dominada pelos curadores populares: parteiras, benzedeiras, ervateiros e raizeiros.  Em 1978, a OMS, na Conferência Mundial de Cuidados Primários de Saúde (Alma-Ata, Kazaquistão), a UNICEF reconheceu essas práticas populares como auxiliar na saúde.

As ervas medicinais, encontradas nos quintais, servem como “farmácia viva” para amenizar as dores e desconfortos. Folhas de brotos de goiabeira para diarreia funcional; erva doce (P. annisium), cidreira (L. alba), capim-marinho (C. citratus), para cólicas e dispepsia;  gengibre (Z. officinale)  e caroço de abacate (P. americana) em álcool nas artrites e baques; macerado de folhas de mata-pasto (C. ocidentalis) para impigens; andiroba (C. guianensis) + copaíba (C. angustifólia) + pimenta-do-reino + mel de abelha, para dor de garganta.

Remédios e fórmulas populares que resolvem as patologias básicas em todas as idades, que eram e ainda são usados nas comunidades tradicionais e nas cidades, comprovados por mim há 60 anos, mas que são consagradas e testadas há séculos pelas gerações.  

Com o avançar da formação, na década de 70, comecei a me interessar pelas plantas, lendo e estudando o assunto. Ao chegar na Faculdade de Medicina em 1980, o interesse ficou maior, tanto que meu TCC de conclusão, sob a orientação do Conservacionista Dr. Camillo Viana, foi intitulado “Medicina Popular: aspectos do problema”, onde enfocava a credibilidade e uso das ervas entre acadêmicos, professores de Medicina e pacientes da Santa Casa do Pará.

Já como profissional e egresso do serviço militar em Oiapoque (Clevelândia do Norte), onde fiz contato com a natureza e a riqueza vegetal da Amazônia, cheguei em Macapá, em janeiro de 1987. Conheci o serviço do Centro de Plantas Medicinais Waldemiro Gomes, onde fiz meu primeiro Curso de Fitoterapia, tendo como professores Alice Ramalho e o Médico Toyofiça Abe.  Meu engajamento na Pastoral da Saúde da Diocese de Macapá fez com que aprendesse mais ainda os remédios caseiros.

No período de 1995 à 2002, atuei como Médico pesquisador no recém criado IEPA, atendendo os pacientes que usavam as plantas e fitoterápicos. Chefiei a Divisão de Avaliação Terapêutica (1995) e o Centro de Plantas Medicinais e Produtos Naturais (1999). Foi o período auge da Fitoterapia no Amapá, com reconhecimento local e nacional.

Enfim, criei um projeto para a Medicina Complementar do Amapá, incluindo a Fitoterapia e outras terapias naturais, inaugurado em 2004:  o CRTN (hoje, CERPIS), pioneiro no Norte e Nordeste, que incluí outras terapias integrativas, como legado de minha contribuição para a saúde pública. JARBAS ATAÍDE, 10.01.2022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...