BENZEÇÃO, ORAÇÃO E PLANTAS MEDICINAIS: RELATO PESSOAL.
Por Jarbas de Ataíde
Meu
contato com as plantas medicinais e a chamada “Medicina Popular” remonta
a 1ª infância, na minha cidade natal, Curuçá-PA, onde, no grande quintal,
tínhamos árvores frutíferas e ervas medicinais. Quando tínhamos pequenos
desconfortos, me recordo de uma benzedeira, que rezava e fazia jaculatórias,
para expulsar a doença, usando um ramo de planta (vassourinha, arruda,
manjericão), que passava no corpo.
Benzeção,
Oração e Planta Medicinal, três recursos subjetivos e naturais
para tratar doenças simples, que resolviam e impediam de ir aos serviços de
saúde. Nos adultos, o efeito da benzedura poderia ser atribuído ao efeito
“placebo”, induzido pela crença e o ritual da Benzeção. Mas, e nas crianças,
como justificar a eficácia e melhora?
Hoje,
com o avanço dos estudos e investigações da Neurociência, já existe consenso de
que a espiritualidade, a oração, a fé e a resiliência (firme convicção) são
capazes de despertar as defesas do corpo e ativar a autocura. Dessa forma, o
corpo e a mente se recuperam mais rapidamente.
E nas
crianças, que ainda não têm compreensão (0 à 7 anos) ou nas pessoas com
debilidades mentais, como explicar o efeito benéfico da benzedura? Eu atribuo
isso ao efeito terapêutico das plantas medicinais usadas no ritual da benzeção.
Prática essa dominada pelos curadores populares: parteiras, benzedeiras,
ervateiros e raizeiros. Em 1978, a OMS,
na Conferência Mundial de Cuidados Primários de Saúde (Alma-Ata, Kazaquistão), a
UNICEF reconheceu essas práticas populares como auxiliar na saúde.
As
ervas medicinais, encontradas nos quintais, servem como “farmácia viva” para
amenizar as dores e desconfortos. Folhas de brotos de goiabeira para diarreia
funcional; erva doce (P. annisium), cidreira (L. alba),
capim-marinho (C. citratus), para cólicas e dispepsia; gengibre (Z. officinale) e caroço de abacate (P. americana) em
álcool nas artrites e baques; macerado de folhas de mata-pasto (C.
ocidentalis) para impigens; andiroba (C. guianensis) + copaíba (C.
angustifólia) + pimenta-do-reino + mel de abelha, para dor de garganta.
Remédios
e fórmulas populares que resolvem as patologias básicas em todas as idades, que
eram e ainda são usados nas comunidades tradicionais e nas cidades, comprovados
por mim há 60 anos, mas que são consagradas e testadas há séculos pelas gerações.
Com
o avançar da formação, na década de 70, comecei a me interessar pelas plantas,
lendo e estudando o assunto. Ao chegar na Faculdade de Medicina em 1980, o
interesse ficou maior, tanto que meu TCC de conclusão, sob a orientação do
Conservacionista Dr. Camillo Viana, foi intitulado “Medicina Popular:
aspectos do problema”, onde enfocava a credibilidade e uso das ervas entre
acadêmicos, professores de Medicina e pacientes da Santa Casa do Pará.
Já
como profissional e egresso do serviço militar em Oiapoque (Clevelândia do
Norte), onde fiz contato com a natureza e a riqueza vegetal da Amazônia,
cheguei em Macapá, em janeiro de 1987. Conheci o serviço do Centro de Plantas
Medicinais Waldemiro Gomes, onde fiz meu primeiro Curso de Fitoterapia,
tendo como professores Alice Ramalho e o Médico Toyofiça Abe. Meu engajamento na Pastoral da Saúde da
Diocese de Macapá fez com que aprendesse mais ainda os remédios caseiros.
No
período de 1995 à 2002, atuei como Médico pesquisador no recém criado IEPA,
atendendo os pacientes que usavam as plantas e fitoterápicos. Chefiei a Divisão
de Avaliação Terapêutica (1995) e o Centro de Plantas Medicinais e Produtos
Naturais (1999). Foi o período auge da Fitoterapia no Amapá, com reconhecimento
local e nacional.
Enfim,
criei um projeto para a Medicina Complementar do Amapá, incluindo a Fitoterapia
e outras terapias naturais, inaugurado em 2004: o CRTN (hoje, CERPIS), pioneiro no
Norte e Nordeste, que incluí outras terapias integrativas, como legado de minha
contribuição para a saúde pública. JARBAS ATAÍDE, 10.01.2022.
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