sexta-feira, 29 de julho de 2011

Antenados: Pão e circo

Nos últimos dias, tive a maravilhosa oportunidade de curtir este final de férias na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. Desde minha chegada, tenho saboreado um passatempo interessante: observar as ruas, prédios, casas, belezas paradisíacas e, sobretudo, a juventude.
Essa experiência de analisar pessoas mostrou-se tão profícua em sucessivas epifanias, que ideias novas não pararam de brotar em minha mente. São tamanhas as observações mentais a respeito da cidade e das gentes, que peço licença a todos vocês, meus queridos leitores, a fim de compartilhar algumas delas aqui em nossa coluna.
Na quarta-feira, dia 27 de julho, fui ao cinema com meus primos Bruno e Clara, e reparei na quantidade de adolescentes que havia ali. Parecia um formigueiro humano a fervilhar. Risos, conversas, rostos ensolarados em shorts curtos, e a certeza de que, apesar das filas quilométricas, haveria lugar para todo mundo.
Esta cena de cinema então me fez lembrar a juventude de minha própria cidade. E, inevitavelmente, a falta de sorrisos ensolarados e salas de cinema que temos por aí. Na realidade, nossa amada cidade de Macapá carece de muitas coisas, mas, por enquanto, vamos nos ater ao âmbito do lazer.
O Amapá inteiro precisa, e urgentemente, de investimentos que possam alavancar o turismo, construir uma infraestrutura que possibilite notoriedade e, aos jovens, uma vasta gama de entretenimento que prenda seus corações à terra e que encante aos visitantes.
Ademais, é triste pensar que, apesar da carência que sofremos de entretenimento, existem ainda outras brechas imediatas a serem tapadas. A sede de lazer acaba eclipsada pelas calamidades públicas, peripécias políticas, alienação de direitos e deveres. Entretanto, ainda assim, devemos consolidar a consciência de que também faz parte da construção da dignidade humana a possibilidade de se divertir, e de crescer em uma cidade bem-estruturada, projetada para o agora e para o futuro.
Fortaleza está sendo para mim uma experiência única. Tenho certeza de que existem muitos fatores que elevam o Ceará até o patamar onde está fixado; dentre eles, o tempo de existência desde a sua fundação. Diferentemente, o Amapá é um Estado novo, tem muito a percorrer. Também tenho certeza de que a vida em Fortaleza não é perfeita. Aqui existe pobreza, desolação, violência.
Mesmo assim, o lugar inspira sonhos, ambições, e tranquilidade para se viver uma vida de paz. E, ao olhar o belo mar cearense, só posso voltar a pensar nos amapaenses. Será que nós, vivendo em um Estado menor, mais seguro, onde as famílias ainda se conhecem e se estimam, não poderíamos fazer o melhor com o que nos foi dado?
A alegria despreocupada e buliçosa dos jovens em Fortaleza me fez pensar: “Espero um dia assistir ao despertar total do esplendor de meu Estado”. E posso até soar poética demais, utópica demais, mas esses sonhos sabem bem do que precisam para se concretizar. Se o poder público olhar com mais atenção à juventude amapaense, ao turismo e lazer, e se a população também se preocupar com a vida que nós, jovens, levamos, tenho certeza de que, no mínimo, conseguiremos fazer algum barulho, abandonar a completa estagnação.
Ainda espero que nossas mentes se alarguem, e mais pessoas possam entender que a vida de um jovem nunca será plena enquanto suas opções de divertimento se restringir aos bares, boates, boates e boates. Cabe a todos nós exigir que nosso governo, mesmo submerso em grandes tribulações, nos dê um pouco mais de pão e, obviamente, circo. Ou seja, o necessário para que sobrevivamos e também o “supérfluo indispensável”: a diversão.

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