sexta-feira, 22 de julho de 2011

Eu não cozinho

Aposto que a maioria de vocês, meus queridos leitores, já ouviu a piada: "Por que as mulheres têm pés pequenos?". E, se já ouviram, conhecem a resposta: "Para ficarem mais perto do fogão!". Quando me deparei com esta pérola, o que fiz foi abrir a clássica careta e um debochado "ha-ha", e logo o assunto estava esquecido.
Mas, meus caros, se a vida fosse só uma piadinha, estaria tudo bem. Nós abriríamos nossos sorrisos amarelos e continuaríamos fazendo de conta que foi engraçado e tirando tudo de letra. Entretanto, a vida não é piada. A vida é séria, e peço perdão por levar esta pomposa seriedade adiante aos que não gostam, mas até mesmo uma piada machista como a já citada pode despertar aquela velha sede de falar das mulheres e seus dilemas, suas lutas e perspectivas. De fato, o que me trouxe este assunto à tona foi o recente convite que recebi de minha tia para ser futura militante do PR Mulher (Partido da República). Na última semana, as filiadas do partido se reuniram e discutiram, dentre outras coisas, a autonomia e abertura social e política das mulheres do Amapá, e se seus lugares ainda eram na cozinha.E agora o que eu me pergunto é: "O que todo mundo tem contra a cozinha?!". Não há nada de mal em pilotar o fogão. Não é vergonha ser dona-de-casa, cuidar dos filhos, da comida, do marido, da roupa limpa e passada no armário. Não é vergonha.Podem me julgar inconsistente e de discurso machista, mas não sou. Desprezo as piadinhas sobre fogões e pés pequenos, desprezo qualquer tipo de pseudo-superioridade, mas também desprezo apelos demasiado sexistas vindos de ambos os lados. A questão não é se estamos num clube da Lulu ou do Bolinha, não é só sobre quem ganha mais, nem sobre o embate entre filmes melosos e de ação, sobre cor-de-rosa e azul-marinho. A questão da mulher na sociedade é muito maior. Diz respeito, antes de qualquer coisa, ao poder de escolha. A mulher deve ter o direito de escolher o que quer e pronto. Se quer ser engajada ou não, dondoca ou não. Sabe o que acontece? Somos constantemente oprimidas pelo que a opinião pública e as novas convenções acham que devemos escolher. Querem forçar todas as mulheres a cortar seus cabelos, deixar os sonhos matrimoniais para trás e seguir com a espada em riste. Ei! A vida de cada mulher pertence somente a ela, e por isto mesmo ela é quem escolhe se quer casar, se quer cortar o cabelo, se quer ter só um filho ou um milhão. O que tento dizer, mesmo de modo trôpego, é que as mulheres não são obrigadas a votar em outra mulher para presidente da república, por exemplo, simplesmente porque pertencem ao mesmo sexo. Sei que ainda existe preconceito e subjugação, porque muitos encaram o sexo feminino como manipulável e sem fibra – quem sabe ranço de outras épocas. No Brasil e no mundo, mulheres ainda se submetem a seus parceiros, por dependência emocional, financeira, sexual, e muitas outras ainda são constantemente vítimas de agressão. Mas todas essas mazelas não podem injetar em nós o horror à vida familiar, raiva, medo ou repúdio a qualquer interação com o sexo oposto. Dizem que "mulher não precisa de homem para sobreviver". E não precisa mesmo, porque sobreviver é questão básica, e até as amebas conseguem. Mas todo ser humano tem a necessidade de um parceiro, a necessidade e a inclinação de amar e se sentir amado. A própria bíblia diz: "É melhor serem dois do que um". Se um cair, o outro ajuda. Contudo, até mesmo tal parceria é questão de escolha. O que temos de entender é: as mulheres não são forçadas a renegar todos os preceitos e tradições mais antigos, lançando-se unicamente ao arado das causas feministas. Não. A primeira causa pela qual devemos lutar hoje é o poder de decisão. E, com este poder, cada mulher define se quer passar a vida pilotando fogão ou uma Ferrari reluzente, quem sabe ainda pilotando ambos. E que nenhuma seja marginalizada por sua escolha consciente.Vale também dizer que, apesar de todo o atraso que ainda vivenciamos, a sociedade prossegue mudando. Exemplo? Nós, as adolescentes. Frequentamos a escola, sonhamos com a universidade, planejamos carreiras magníficas... E se perguntarem se sabemos cozinhar, aposto que a maioria dirá: "Eu não!". Eu, pelo menos, não cozinho. Assim, cai por terra a história de que mulher está fadada a beijar as bocas do fogão pela eternidade. Agora é hora de evoluir definitivamente. Só quando nos dermos conta, de fato, de que cada mulher deve escolher o que acha melhor pra si, é que poderemos discutir eficazmente as outras questões, falar sobre agressão, desemprego, disparidade salarial. Antes de tudo, é preciso que as mulheres superem completamente suas inseguranças e estejam bem resolvidas consigo mesmas, para então encontrarmos saídas definitivas, que acabem de vez com todo machismo incauto e feminismo equivocado.

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