Como sou professor de profissão, muitos me pedem uma definição de educação. Por isso gostaria de dizer que, neste artigo, inicio a discussão sem a pretensão de encerrá-la.
Para Abbagnano (Dicionário de Filosofia, 2007), educação é a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Abbagnano diz que ao conjunto dessas técnicas se chama cultura. Para ele, uma sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração. As formas de realizar ou garantir essa transmissão chamam-se educação.
Para Boisaco (Dicionário de Pedagogia, 1950), a palavra cultura deriva da palavra grega Paidéia. Conforme diz Moacir Gadotti (História das Ideias Pedagógicas, 2005), com o advento do Império Romano esta palavra (Paidéia) tornou-se Humanitas. De Humanitas vem, em português, que é língua neolatina, a palavra educação, e também a palavra humanidade. A confusão existe quando se traduz Paidéia por educação.
A partir disso, posso inferir que educação não é cultura, é forma de transmissão desta para as gerações futuras. Assim, educar, no contexto das línguas neolatinas, é sinônimo de ensinar, mas também é ato de aprender dentro de um processo físico e intelectual. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Título I, Artigo 1°, 1996), afirma que a educação "abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais." Por isso posso afirmar que a educação é um processo? Creio que sim, pois, na ótica que venho expondo, a cultura é seu fruto direto.
Se em uma relação antropológica, cultura significa sobrevivência, não existe indígena que não saiba caçar, ribeirinho que não aprenda pescar, criança urbana que não deva aprender a atravessar uma rua em segurança. A "forma" como os pais ensinam na tribo, na comunidade, na escola é educação.
Concordo com Gonçalves em "Um Olhar sobre a Educação" (2003) que entende educação dentro da concepção histórico-crítica como "fenômeno que se apresenta como comunicação entre pessoas livres em diferentes graus de maturação humana num contexto histórico determinado." E com Saviani em "Educação: do senso comum à consciência filosófica (1989)" que pensa que: "promover o homem significa libertá-lo de toda e qualquer forma de dominação; nas sociedades em que vigora o modo de produção capitalista, a dominação se manifesta concretamente como dominação de classe, então educar, isto é, promover o homem, significa libertá-lo da dominação de classe."
Enfim, concluo que educação é promoção do homem para torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação e intervir nela, transformando-a por meio da ampliação da sua liberdade. A partir disso, acredito que a educação deveria ser ato político (práxico) assumido, e não simples teoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário