sexta-feira, 29 de julho de 2011

Quem quer viver para sempre?

 Gerson Nei Lemos Schulz
Esse é o título de uma música da banda "Queen" (Who Wants to Live Forever?) que foi composta em 1986 para o filme "Highlander, o guerreiro imortal", conforme nome no Brasil. O filme conta a história de um habitante de outro planeta que mora entre os humanos cuja principal característica é ser imortal.
O primeiro filme mostra o personagem principal chamado Connor MacLeod descobrindo que é imortal. São duas histórias paralelas, uma que se passa em 1986 em Nova York e outra em que ele vivia na Escócia do século XVI. Na história que se passa no início da Modernidade ele vive com uma companheira que, aos poucos vai, naturalmente, envelhecendo. Essa parte do filme acaba quando ela morre e ele vai embora da Escócia permanentemente jovem, pois não pode envelhecer nem que queira.
A questão central do filme é indagar o expectador sobre a possibilidade de um homem ser imortal e, sendo, o que ele faria com essa capacidade. E você, o que faria se pudesse ser imortal?
No filme dos anos 1980 o personagem vê todos que ele mais ama morrerem. MacLeod vive a morte de todos os outros menos a sua. E vive sabendo que se se envolver com alguém amorosamente, a mesma história se repetirá. Assim, a intenção do filme é mostrar o lado negativo de se ser imortal, em outras palavras, ao invés de Connor MacLeod ser feliz, ele é infeliz.
 A imortalidade desejada pelo homem desde que começou a compreender a morte, desde que a morte entrou no jogo cultural e adquiriu significado ontológico e não apenas filogenético, passou a ser desejada como forma de combate à morte e à natureza. O homem pré-histórico desejava tanto ser imortal para dominar a morte quanto dominar a natureza para ser o "homem". Desde então não é mais possível ser-se homem sem impingir às gerações esse combate contra a natureza que é "cruel" (porque a morte é natural), estaria aí a crueldade da natureza.
Aí o homem passou a ontologizar o corpo, ou seja, passou a ver nele e dentro dele, a alma (criação, símbolo) seu para driblar a morte, para amenizar a ausência do corpo morto do outro que pensava que lhe pertencia (esposa, filho, pai). Criou-se a religião!
Surgiu a civilização, surgiu a igreja (zoroastrismo, judaísmo, hinduísmo, cristianismo, islamismo). Mas não é o fato de muitos acreditarem na religião que a torna algo verdadeiro. Ela é um jogo fundado sobre estruturas fixas que não passam de máscaras que criam uma realidade como um mosaico cria a ilusão da compreensão da totalidade. A infra-estrutura da religião é "deus", a hierarquia, sua superestrutura. Não existindo "deus", todo resto desaba. Rui o alicerce. Perde-se todo sentido do discurso do sacerdote que não passará de um jogo de palavras (máscaras) para esconder uma realidade, a morte, e o fato inegável que ela continua sendo a ausência do outro/a.
                                  
Enfim, acredite no padre, pastor, reverendo, quem quiser. Mas não sendo ingênuo. Saiba que todos esses "valores" não vêm de cima, não vem de "deus", vem do homem para esconder aquilo que ele (o homem) acha imperfeito na “criação”, entre outras coisas, à morte.

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