sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobrevivente - Francisca Basílio da costa

“Antes era sacoleira por necessidade, hoje é uma terapia”
Francisca Basílio da costa
Abinoan Santiago
Da Reportagem/Estagiário



A série sobrevivente segue mais uma semana trazendo a trajetórias dos pioneiros amapaense, e nessa contaremos a batalhadora história de uma pioneira no Estado do Amapá que recebeu a equipe do Tribuna Amapaense um pouco desconfiada, mas depois de apenas alguns minutos de conversa, percebemos logo o carisma dessa mulher que não deixa de ter o sorriso no rosto. Francisca Basílio da Costa, nascida em 08 de maio de 1936, 75 anos, natural de Serra de São Tomé no Rio Grande do Norte. Filha do agricultor Oscar Basílio da Costa e da dona de casa Gecina Alves da Costa.
Ela tem a característica de uma mulher guerreira. Viúva de Diocleciano Pedro Ribeiro, criou sozinha os seus nove filhos (Eugênio, Fernando, Elisabete, Dáqueo, Divanaide, Asprênio, José Valério, Marcos Luis e Dione), começou a trabalhar como sacoleira vendendo roupas em escolas e nas ruas e avenidas de Macapá, com veremos no decorrer dessa matéria.
A (s) vinda (s) à Macapá
A primeira vez que dona Francisca veio para Macapá foi em 1960, devido o marido ter vindo um ano antes para trabalhar como motorista da Indústria de Comércio e Mineração (ICOMI), “O meu marido veio primeiro, os pais dele já moravam aqui, então com um ano já morando aqui ele mandou me buscar e eu vim”, disse dona Francisca.
Na primeira viajem à Macapá, ela demorou a chegar, tudo por que naquela época os vôos não eram todos os dia, ela veio de ônibus de Natal para Belém e na capital paraense ficou até o outro dia. Ela ficou em um hotel paraense um tanto quanto exótico, como conta, “Me lembro muito bem o hotel que fiquei se chamava “Hotel dos Viajantes”, era de altos e baixos. Lembrou ainda de um episódio peculiar nesse hotel, “Teve um momento que eu fui fazer o leite das crianças, chegando à cozinha eu me deparei com uma cozinha de outro mundo, era tudo molhado, suja, e ainda pude ver um homem velho, alto, branco que estava se tremendo, sentado numa cadeira. Vendo aquilo eu perguntei a uma senhora que estava na cozinha, ‘Porque esse senhor está desse jeito?’ Ela me disse que era malária, mas naquela época eu nunca havia ouvido falar nessa doença, depois ela ainda me explicou que era uma enfermidade freqüente na Amazônia e quando eu terminei de fazer o leite, eu desci as escadas do hotel e acabei escorregando me machucando com a queda, até hoje sinto as dores na coluna, explicou dona Francisca sobre o hotel.

Quando chegou a Macapá, de acordo com a nossa sobrevivente, ela tentou se adaptar ao ex-territorio, mas não conseguiu, tudo por que em Natal – cidade onde morava antes de vim para o Amapá -  ela vivia de comércio e chagando em Macapá não havia obtido uma mercearia para exercer o ofício de comerciante, como afirma Francisca, “Eu sempre vivi no comércio, em Natal, antes de vim pra cá eu já trabalhava no comércio. Quando eu cheguei aqui não tinha comércio pra mim”. Permaneceu por um ano e sete meses em terras Tucujus, voltando para a capital do Rio Grande do Norte, onde voltou a viver do comércio.
Mas um fato inesperado aconteceu, ”Quando eu voltei para Natal eu não sabia que estava gestante do meu quarto filho (Dáqueo), pensava que estava doente, contou Francisca, lembrando que depois que o marido dela soube, pediu para que voltasse imediatamente para Macapá. Então retornei para o Amapá.
Neste retorno e com a gravidez do Dáqueo, que um mês depois nasceu no Amapá. E aqui chegando, teve a grata supresa de que o marido já havia comprado uma casa, na qual vive até hoje.
“Quando eu cheguei aqui eu fiz logo uma pequena mercearia, vendendo feijão farinha, entre outros. O meu marido me dava o dinheiro para eu comprar os alimentos e comercializar na mercearia, eu ia comprar lá no canal da Mendonça Junior, porém o lucro era pouco, e aconteceu o pior, o meu marido não passou mais a me dar dinheiro para comprar mercadorias”, contou a nossa sobrevivente.
A profissão de sacoleira
Dona Francisca começou a seguir a profissão de sacoleira por necessidade, pelo fato do marido não repassar mais dinheiro para fazer compras a sua mercearia, portanto, para conseguir um dinheirinho, ela resolveu peitar o marido e começou vender roupas, “Eu tinha medo de falar com o meu marido pra eu vender roupas na rua, porque ele achava que mulher era só para cuidar do fogão e filhos. Mas me encorajei e falei à ele que iria vender roupas na rua para garantir o meu sustento, afinal, ele parou de me dar dinheiro para a mercearia”, conta Francisca citando ainda que havia uma homem que morava perto de sua casa, chamado Canindé, e ele quem cedeu roupas para dona Francisca vender.
A venda de roupas era árdua, “Andava pelo Buritizal, Jesus de Nazaré, Pacoval, entre outros bairros, tudo a pé. Assim que eu criei meus filhos.  Posso dizer que eu criei meus filhos tudo só, mas graças a Deus, Jesus me ajudou”, conta orgulhosa.
Da necessidade à terapia
Dona Francisca com suas vendas conseguiu montar uma lojinha ao lado de sua casa para continuar com suas atividades comerciais, criou com dignidade seus filhos devido às vendas. Hoje vender tornou uma terapia pra ela, “Eu não gosto de ficar parada, eu gosto muito de trabalhar, eu vou para Fortaleza fazer minhas compras, meus filhos dizem para eu parar de vender, mas eu não consigo. Isso virou uma terapia pra mim. Antes ser sacoleira era necessidade, hoje é uma terapia” finalizou dona Francisca.



 

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