sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amazônia

Formação e transformação

               É sempre positivo e necessário ressaltar que o mundo precisa de pessoas que transformem e não que permaneçam comodamente postas em suas locações. Precisamos pensar sobre esse tema cuidadosamente. Nós educadores possuímos a indiscutível missão de transformarmos pessoas para a transformação. Não há como se esquivar dessa missão, sob pena de meramente estarmos contribuindo para uma formação de uma sociedade conformista, passiva, esquiva a seus compromissos.
               Transformar é ter consciência da responsabilidade, é ter aprendido interpretar o mundo, desbastar ou separar e reunir aspectos na complexidade do todo em que vivemos, e voltar ao todo. Essa, na verdade, uma postura tão divulgada nos bancos escolares; tanto que dominamos o mundo, manipulamos, modificamos esse mesmo mundo como uma experiência sem precedentes na história. E para, além disto, temos assuntos ainda não resolvidos. Limpar os excessos enganadores é nossa tarefa, saber desmistificar os discursos falaciosos, enganosos, os silogismos, as ideologias, que querem fazer passar por únicas respostas, por receitas indiscutíveis do que fazer. O que seria, portando, a possibilidade de realização dessas tarefas? É preciso atenção, a perda de rota é iminente. O perigoso alheamento de estar no mundo sem sermos atores dos eventos, dos acontecimentos, das reinvidicações, das emoções de estar no mundo, mas meramente como pessoas de segunda mão do movimento do cotidiano. Uma condição de segunda, terceira e tantas mãos, ou opiniões, que não correspondem as nossas próprias, sugestões sempre de outros, de outras fontes, de meios de comunicação, de interpretes de nossa vida, de certos falseadores...
               Acordar para a vida também requer entender a dificuldade de criar novas posturas diante do vivido, é nosso desafio; essas novas posturas teriam o teor de duvidarem do conforto que temos hoje em nosso cotidiano, de nossa posição social, de nossas certezas, das pessoas que nós somos. Qual o custo social, de vida, de humanidade para tudo isso acontecer? Quem não é para que eu seja? Quem deixa de viver para que eu viva, para que eu possa ir ao cinema, a universidade, ao supermercado? Quantos nunca conseguirão ser cidadãos para que eu consiga ser? Parece absurdo isso? E nesse campo chegamos ao nó do argumento: nesse caso poderíamos permitir que pessoas não sejam, não vivam, não existam como gente, cidadãos, indivíduos, para uns poucos possam ser? Nunca deveremos permitir que outros sejam negados do seu direito a vida. Nossos sonhos devem conter a medida dos sonhos dos outros, e esse raciocínio poderia estar em extensão a outras realidades: a minha liberdade a medida da liberdade do outro, da sabedoria, da felicidade, das conquistas, dos outros, também.
               Sem que cheguemos a cair em terreno igualmente falacioso, e querendo conversar com educadores e pais, façamos nosso papel em sermos agentes de pessoas que sejam formadas para transformar a vida em positividades. Não simplesmente pessoas que ocupam um lugar no mundo, mas que saibam definir medidas morais e éticas de suas ações e dos outros, sem se deixar cair no moralismo; e que tenham sempre em suas definições a ética da vida, da humanidade, do tempo que pertence a todos e cada um de nós. Precisamos pensar na responsabilidade social, mas além, na responsabilidade humana...

Msc. Luciano Magnus de Araújo
Antropólogo, professor da UNIFAP no curso Ciências Sociais
www.observatorioamapa.blogspot.com



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