ORA, PALMADAS!
Milton Sapiranga Barbosa
Milton Sapiranga Barbosa
Estou invocado com a polêmica criada em torno da aprovação da Lei que proíbe os pais de corrigirem , uma atitude errada dos filhos, com umas boas palmadas. Psicólogos, pediatras, pedagogos e outros que acham que entendem tudo de educação infantil, são unânimes em afirmar que com palmadas, a criança vai ficar traumatizada, revoltada, crescer com tendência a se tornar um adolescente e mais tarde um adulto violento , podendo, inclusive, se bandear para o lado da bandidagem. Ao escutar esses comentários, fico pensando com meus botões: “quem dera que no meu tempo de criança fosse castigado com palmadas”, seria uma maravilha. E é do meu tempo de criança que conto a seguir duas historinhas “doloriíííídas”.
Primeiro caso:
Uma bela manhã de sábado, dona Alzira, minha mãe, mandou-me ir no comércio do seu Serafim, que ficava nos fundos da Igreja dos Irmãos, bem pertinho de casa, comprar açúcar. Tão logo entrei na baiúca, avistei, do lado de fora do balcão, uma nota novinha de 50 cruzeiros. Ninguém a vista, vupt, guardei o achado no cós do calção. Fiz a compra, deixei em casa e imediatamente fui na Banca do Chico Leite, precursora da Livraria Zola, e comprei um monte de gibis dos meus heróis preferidos( Capitão Marvel, Roy Rogers, Rocky Lane, Tarzan, Cavaleiro Negro, Flexa Ligeira, Sobrinhos do Capitão, Zé Carioca e outros mais). Na época se revezavam no atendimento, seu Chico Leite, João Leite, Lelé, Percival e o Dom Pedro. No domingo, já abraçado com os gibis e pronto para ir assistir um filme do Cantinflas no Cine Macapá, a sábia dona Alzira, como toda mãe, perguntou onde eu tinha conseguido dinheiro para comprar todas aquelas revistas. Contei-lhe o ocorrido no sábado quando fui fazer compra. Pra que? Ela pegou uma vassoura de açaí e passou a acariciar, com lambadas fortíssimas, todo o corpo magricela deste que vos escreve. Enquanto batia ela dizia: “Meu filho, o que está dentro de casa não está perdido”, e toma bordoadas e mais bordoadas no couro do Sapiranga. Ela estava coberta de razão . Aprendi com dureza a lição e repassei aquele ensinamento “que dentro da casa não está perdido” pros meus guris e até hoje não tenha queixas deles.
Segundo caso:
Certa tarde, depois de um bom jogo de bola no campinho do aeroporto, cuja pista era onde hoje existe a rua Hamilton Silva, cheguei em casa (morávamos na av. Almirante Barroso, em uma casa velha de assoalho de paxiúba, paredes de palhas, com portas e janelas de miriti), e reparei que estava “pinhada “ de vizinhos, dentro e fora. Então perguntei assustado e surpreso para dona Leocádia: O que foi que aconteceu? Ela respondeu: “ foi um sapo que mordeu tua mãe quando ela tirava roupa do quarador (o quarador ficava onde hoje é a rua Jovino Dinoá). Não contei parada, pequei um pedaço de pau e fui atrás do sapo maldito que mordera minha querida mãe ( eu não sabia que os mais velhos diziam que era sapo para o veneno da cobra não fazer efeito). Acho que se dissesse que era cobra, o veneno era fatal. Felizmente não foi.
Tava eu lá levantando mato a procura do batráquio, quando senti a costa arder. Era minha irmã, Mariazinha, que quando soube o que eu tinha ido fazer, pegou uma corda, dobrou em duas voltas e tome surra. Ela veio batendo até chegar em casa, quase metade do quarteirão entre Leopoldo e Jovino, onde hoje mora o Sr. Miguel Galvão. Depois ela chorando, colocava pano embebido em vinagre para aliviar a dor e sumir com as partes roxas em minhas costas. Além desses dois casos, sofri muitas outras surras brabíssimas, tanto que mamãe, 8 anos antes de falecer, toda vez que ia em casa e tomava a benção ela dizia “ meu filho, perdoa tua mãe pelas surras que ela te deu”, ao que eu respondia, a senhora não tem nada que pedir perdão, se não fosses aquelas surras, talvez eu não fosse hoje, uma pessoa de bem.
Não cresci traumatizado, nem revoltado e nem, como dizia minha “velha”, não “cambei” para o lado da bandidagem . Agora vem esses doutos, pra não dizer “babacas”, querendo proibir umas “palmadinhas mixurucas” no bumbum da molecada. Pergunta para finalizar; Quem, nascido nas décadas de 40, 50 e 60, não levou uma boa surra dos pais ou irmão mais velho.? Com certeza, até ele, o Lula, lá em Garanhuns deve ter levado umas boas lambadas do velho Alcides, seu pai, com umbigo de boi, mas está aí, com pouco estudo, é certo, como presidente de uma grande nação, o Brasil.
Mamãe e minha irmã Mariazinha já foram para outro plano, mas continuam vivas em minhas lembranças e amadas em meu coração
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