segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Artigo



ORA, PALMADAS!
Milton Sapiranga Barbosa

Estou invocado  com  a  polêmica criada em torno da aprovação da Lei que proíbe os pais de corrigirem , uma atitude errada dos filhos,  com  umas boas palmadas.  Psicólogos, pediatras, pedagogos e outros que acham  que entendem tudo de educação infantil, são unânimes em afirmar que com palmadas, a criança vai ficar traumatizada, revoltada, crescer  com tendência a se tornar um adolescente e mais tarde um adulto violento , podendo, inclusive, se bandear para o lado da bandidagem.  Ao escutar  esses comentários, fico pensando com meus botões: “quem dera que no meu tempo de criança fosse castigado com palmadas”, seria uma maravilha.  E é  do meu tempo de criança que conto a seguir duas historinhas “doloriíííídas”.

Primeiro  caso:
Uma bela manhã de sábado, dona Alzira, minha mãe, mandou-me ir no comércio do seu Serafim, que ficava  nos fundos da Igreja dos Irmãos, bem pertinho de casa, comprar  açúcar. Tão logo entrei  na   baiúca, avistei, do lado de fora do balcão, uma nota novinha de 50 cruzeiros. Ninguém a vista, vupt,  guardei  o achado no cós do calção. Fiz a compra, deixei em casa e imediatamente fui  na Banca do Chico Leite, precursora  da  Livraria Zola, e  comprei um monte de gibis  dos meus heróis preferidos( Capitão Marvel, Roy Rogers, Rocky Lane, Tarzan, Cavaleiro Negro, Flexa Ligeira,  Sobrinhos do Capitão, Zé Carioca  e outros mais). Na época se revezavam no atendimento, seu Chico Leite, João Leite,  Lelé, Percival e o Dom Pedro. No domingo, já abraçado com os gibis e pronto para  ir assistir  um filme do Cantinflas no Cine Macapá, a sábia dona Alzira, como toda mãe, perguntou onde  eu tinha conseguido dinheiro para comprar todas aquelas revistas. Contei-lhe  o ocorrido no sábado quando fui fazer compra. Pra que? Ela pegou uma vassoura de açaí   e passou a  acariciar, com lambadas fortíssimas, todo o corpo magricela deste que vos escreve. Enquanto  batia ela    dizia: “Meu filho, o que está dentro de casa não está perdido”, e toma bordoadas e mais bordoadas no couro do Sapiranga. Ela estava coberta de razão . Aprendi  com dureza a lição e repassei aquele ensinamento “que dentro da casa não está perdido”  pros meus guris e até hoje não tenha queixas deles.

Segundo caso:
Certa tarde, depois  de um bom jogo de bola no campinho do aeroporto,  cuja  pista  era onde hoje  existe a rua Hamilton Silva,  cheguei em casa (morávamos na av. Almirante Barroso, em  uma casa velha de assoalho de  paxiúba,  paredes  de palhas, com portas  e janelas de miriti), e reparei que estava “pinhada “ de vizinhos, dentro e fora.  Então perguntei  assustado e surpreso  para dona Leocádia:  O que  foi que aconteceu? Ela respondeu: “ foi um sapo que mordeu tua mãe  quando ela tirava roupa do quarador (o quarador ficava onde hoje é a rua Jovino Dinoá). Não  contei  parada, pequei  um pedaço  de pau  e  fui atrás do sapo maldito que mordera minha querida mãe ( eu não sabia que os mais velhos diziam que era sapo para o veneno da cobra não fazer efeito). Acho que se dissesse que era cobra, o veneno era fatal. Felizmente não foi.

Tava eu lá levantando mato a procura do batráquio, quando senti a costa arder. Era minha irmã, Mariazinha, que  quando soube o que eu tinha ido fazer,  pegou uma corda, dobrou em  duas  voltas   e tome  surra. Ela veio batendo até chegar em casa, quase metade do quarteirão entre Leopoldo e Jovino, onde hoje mora o Sr. Miguel Galvão. Depois ela chorando, colocava  pano embebido em vinagre  para aliviar a dor  e sumir com as  partes roxas em minhas costas. Além  desses dois casos, sofri  muitas outras surras brabíssimas, tanto  que mamãe, 8 anos  antes de falecer, toda vez que ia  em casa e tomava a benção ela dizia “ meu filho, perdoa tua mãe pelas surras que ela te deu”, ao que eu respondia, a senhora não tem nada que pedir perdão, se não fosses  aquelas surras, talvez eu não fosse  hoje, uma pessoa de bem.

Não cresci traumatizado, nem revoltado  e  nem, como  dizia minha “velha”, não “cambei” para o lado da bandidagem . Agora  vem  esses doutos, pra não dizer “babacas”, querendo proibir  umas  “palmadinhas mixurucas” no bumbum da molecada.  Pergunta para finalizar;  Quem, nascido nas décadas de 40, 50 e 60, não levou uma boa surra dos pais ou irmão  mais velho.?  Com certeza, até ele, o Lula,  lá em Garanhuns  deve ter levado umas  boas lambadas do velho Alcides, seu pai, com umbigo de boi, mas  está aí, com pouco estudo, é certo,  como presidente de uma grande nação, o Brasil.

Mamãe e minha irmã Mariazinha já foram para outro plano, mas continuam vivas  em minhas lembranças e amadas em meu coração

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