sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Folosofando o cotidiano

Cuidar da Amazônia
            Definir cuidados sobre aquilo que não estamos perto é algo repleto de complicadores. Ser atento, aplicado, vigilante com aquilo que não vemos sentido por não vivermos em meio, no entorno, por não convivermos, é algo que define, certamente, alheamento diante do não pertencimento.  
            Para muitas pessoas, certamente, a Amazônia é lugar ambíguo. Olhar a região norte do Brasil, onde está a grande maioria da floresta tão cobiçada é aprender por paradoxos. Esse aprendizado deve ser feito urgentemente, caso não se queira cair em erros. Não há limites neste mundo, não há fronteiras racionais neste mundo, não há logo ali, aqui, acolá. Aos desavisados o próximo passo, o próximo pensamento ou conjectura sobre a Amazônia esbarra em tanta terra, tanta vida, tantas maneiras de ser, tanto de tantas coisas escondidas nos recônditos da terra, na obviedade dos olhos que não conseguem ver posto que o estranhamento deva ser algo praticado, as vezes merecido. Pensar na Grande Floresta é um exercício de sublevação. A série de atentados e contrasensos direcionados a floresta sinalizam que a tal conjunção de forças construídas e acumuladas pela criatura humana compete de maneira desigual com a natureza, compõe uma luta desigual em ambiente cuja imagem se opõe aos ditames do progresso, da modernidade, da luta desenfreada da técnica dominadora.
            Num mesmo sentido de entendimento não se deve esquecer o olhar sobre as comunidades, as populações. De maneira semelhante essa mesma técnica, modernidade e ganância está presente no trato das populações dessa região. O esquecimento institucional, a falta de cuidados diante de direitos constitucionais adquiridos, a inserção dessa pessoa em conjuntos de práticas desconexas, diversas daquilo que antes era comum em seu cotidiano, as suas necessidades básicas dificilmente atendidas. E nesse caso não está se falando dos coletivos populacionais onde o diferencial são os modos de viver, as chamadas tradicionalidades, estamos falando desse cidadão dos povoados, das vilas, das pequenas, médias e grandes cidades, estamos falando do amazônida.
            É preciso pensar a Amazônia como lugar de pertencimento, de maneira orgânica, significativa e respeitosa. Esse pertencimento se faz no entendimento de que cada indivíduo perceba, em seu lugar de ligação e de vida sendo vivida, sendo parte desse conjunto maior pensando não somente a floresta, sua fauna e flora, mas a pessoa, o individuo, os atores sociais, diante dos processos e necessidades internas, diante das provocações exteriores, diante das particularidades individual-coletivas. O caso não é ver o ser amazônida como alegoria ou como condição de inferioridade, mas ver-se parte de um organismo cujos valores e contradições nos colocam a prova todos os dias. Cuidar da Amazônia é construir uma história do presente-futuro que evidencie a diversidade da vida, os ritmos particulares desse viver, sem, no entanto, esquecer de debater, observar, criticar e agir sobre a natureza das relações, explorações, cobiças, desmandos, perseguições diante de mananciais, pessoas, indivíduos e coletivos que vivam essa realidade. Cabe a cada individualidade, a sua maneira, cuidar da casa onde vive. Cuidar de si e dos outros. Nosso desafio no tempo.

Msc. Luciano Magnus de Araújo
Antropólogo, professor da UNIFAP no curso Ciências Sociais
www.observatorioamapa.blogspot.com

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