segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nossos profissionais bacharéis e seus (re)cursos

           Uma boa fala de um bom: “Hoje em dia sabemos o preço de tudo... e o valor de nada”. Será mesmo sintomático a forma como se desenvolve a educação atualmente? Como estamos nós, educadores, estudantes, familiares, instituições, sociedade em geral? Será que a educação deixou de ser aquilo que há muito tempo um dia já foi? Como era? Quais valores revestiam a prática, o respeito, o entendimento sobre educação?
              A questão indaga todos os níveis, não somente aquele que forma profissionais qualificados, possuidores de canudos do terceiro grau, habilitados para o exercício da atividade, nesse cenário que chamamos sociedade. A questão repercute na formação desses indivíduos sabedores de seu oficio, sua habilitação condizente às necessidades sociais. Um certo valor discutível está evidenciado naquilo que é o propósito de ser profissional em tal área, a real dedicação e compromisso com tal formação e no métier de cada formação, no cotidiano do tornar-se habilitado. Tomo a liberdade de extrapolar o titulo do artigo em alguns dizeres propagados nos meios de comunicação: “seja tal profissional habilitado em pouco tempo”, ou “nós ajudamos você a chegar à sua meta”, ou “nós levamos você a universidade ou faculdade”. Coisas assim são intrigantes tendo em vista que cotidianamente desqualificam os trâmites normais de aprendizado. Alguns diriam: “e daí? É um nicho de mercado, o da preparação, dos cursos ou recursos para prestação de exames”. Bem, sejamos verdadeiros em admitir que tais iniciativas acontecem porque não temos, nós cidadãos brasileiros, competência para avaliarmos nossa condição de sempre buscarmos um arremedo daquilo que não conseguimos fazer com propriedade.
              A crise de valores repercute no presente, para o futuro. Você, meu caro leitor, colocaria sua vida para tratamento de uma enfermidade a uma pessoa que teve que fazer, depois de concluir o curso normal da universidade ou faculdade, um curso que o possibilitava a ter condições de prestar um exame, para ter a permissão de exercer suas atividades profissionais, e não conseguiu? Esse indivíduo reprovado, tendo estudado cinco anos para tal profissão atualmente se vê na condição de um curso breve que daria condições de preparação para o grande rito de passagem, coisa que ele não conseguiu constituir conhecimentos para uma prova que resume e avalia seu aprendizado.  Será que esse profissional em pouco tempo estaria preparado a tratar de pessoas, a curar, ou a resolver problemas de ordem legal? Que valores estaria ele repercutindo já que está a alimentar uma máquina de desfaçatez, que instrumentaliza o individuo ao imediato, aos reconhecimentos mais aparentes em nossa sociedade?
              Qual o preço de uma profissão? Quanto custa ser um membro reconhecido na sociedade, com seu status, sua aceitabilidade? O que perde essa mesma sociedade que suporta estruturas onde indivíduos são meros aspectos de uma ótica da reprodução, fascinados com a aparência das coisas, cada um sempre (re)constituindo aquilo que sempre tão caro ao bom senso de todos: ter o melhor caro, estar com a melhor roupa, sempre estar a reformar melhor a casa, nas melhores festas, com a mulheres e homens mais bonitas e bonitos, promovendo os maiores distanciamentos da realidade. 
              Assim como diz Oscar Wilde logo acima, sabemos muito bem o preço de tudo, mas o valor das coisas, esse momento reflexivo, relativizador, questionador sobre se tal ou tal coisa realmente nos é útil, esse mágico momento muitas vezes nos foge tendo em vista que nos deixamos levar pela última propaganda, pela mais recente oportunidade, pela grande mensagem de fazermos parte das promoções dos shoppings centers ou Malls da vida.
Msc. Luciano Magnus de Araújo
Antropólogo, professor da UNIFAP no curso Ciências Sociais
www.observatorioamapa.blogspot.com

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