domingo, 16 de outubro de 2011




Um Jobs também morre

Nem todo o dinheiro de Steve Jobs foi capaz de salvá-lo. E olha que a quantia era imensa: sua fortuna extrapolava 8 bilhões de dólares. Ele morreu no dia 5 de outubro, aos 56 anos, devido a um câncer de pâncreas descoberto em 2004.
Jobs foi co-fundador da Apple, diretor executivo da Pixar, acionista da Walt Disney, mas, acima de tudo, o homem foi um visionário. No fim dos anos 70, desenvolveu e comercializou uma das primeiras linhas de computadores pessoais e desde então não parou de destilar sucesso. Sua vida e, sobretudo, a sua juventude são retratadas de modo interessante no filme "Os Piratas do Vale do Silício" (Pirates of Silicon Valley). A produção cinematográfica mostra o começo da carreira de Jobs, desde as primeiras estripulias na garagem até a sua ascensão, expondo alguns de seus momentos mais íntimos, inclusive quando conhece Lisa, filha que rejeitara antes mesmo do nascimento e a quem demorou até reconhecer legalmente. E por falar em filhos, o empresário deixou quatro herdeiros. Quatro herdeiros muito afortunados, por sinal. Mas o fato é que o espólio de Jobs pertence ao mundo inteiro.
Estejamos ou não a favor da tecnologia, do capitalismo ou de ousadas empreitadas, devemos reconhecer o valor do homem que propôs ao planeta um jeito novo de consumir. Jobs pensou no atrativo, uniu a isso o inusitado, e conseguiu por fim com que o mundo se ajoelhasse ante suas criações. Sim, ele fez. Ele podia tudo porque sua audácia foi maior que as inúmeras opiniões contrárias. Todavia, nem mesmo um homem tão corajoso como ele fez-se capaz de frear a própria morte.
Ao longo dos últimos dias, a mídia deleitou-se expondo cada recôndito da vida do empresário e, de modo maçante, reprisando o discurso de Jobs como paraninfo de uma turma universitária norte-americana. As cenas de sua explanação estão tão consagradas quanto a própria imagem da maçã de sua empresa.
Contudo, pouco se refletiu nesse ínterim sobre a efemeridade da vida, e como estamos impotentes diante dela, mesmo com todo o nosso avanço e intelecto. Jobs é o exemplo mais acessível e atual de um homem que poderia comprar tudo, possuir tudo, inventar tudo, mas não conseguiu conceber um antídoto para a própria fraqueza.
Um câncer no pâncreas abateu Steve Jobs. E não poderia haver doença mais intrigante, tão intrigante quanto o próprio Jobs. De acordo com médicos, o câncer de pâncreas é um dos mais difíceis de lidar e detectar, por conta de seu caráter assintomático. A doença vai se agravando silenciosamente, à espreita, e só pode ter tratamento efetivo quando descoberta bem cedo. Do contrário, todas as medidas para contê-la atuam como meros paliativos. O risco de se desenvolver esse tipo de câncer aumenta após os 50 anos.
Mas ninguém espera morrer aos 56, não é mesmo? Infelizmente, era o momento de Jobs. E quem pode domar a morte? Nem mesmo os magnatas. Neste momento, momento em que o mundo ainda está submerso em luto e já brota a nostalgia, é importante que façamos uma pausa e analisemos como a vida pode ser pequena, não importa quão grandes sejam os nossos feitos. Todos morrem. Mas não adianta ter medo da morte, deixar que o pânico nos invada. Só precisamos ter a consciência de que a vida é tão pequena, mas tão pequena, que é exatamente na pequenez que encontramos a felicidade. Ninguém precisa de 8 bilhões para morrer feliz. A gente só precisa mesmo ter a consciência de que um dia vai morrer e, assim, parece inevitável que cada segundo da vida se torne mais doce, mais especial, mais lindamente eterno mesmo em sua efemeridade.

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