O selvagem da motocicleta
Autor: José Alberto Tostes
Na semana passada tive a oportunidade de viajar até a cidade de Oiapoque, sempre que fui ao Oiapoque foi através dos veículos da Universidade Federal do Amapá como pesquisador. Nesta viagem, aluguei um veículo e dirigi cerca de 1200 km. A viagem transcorreu tranquilamente, logo após a viagem levei o veículo alugado até uma lavagem para posteriormente ser entregue a locadora. Quando cheguei à lavagem, havia um jovem de 23 anos aproximadamente, estava bebendo cerveja, segundo várias pessoas que trabalham nesta lavagem, o mesmo estava à madrugada toda consumindo álcool. Este jovem estava com uma motocicleta, embriagado e não tinha habilitação, tal cenário revelava a visão do perigo. Durante a minha permanência nesta lavagem este suposto motociclista seguiu em minha direção para falar de algo que havia acontecido com ele, narrou agressões que havia sofrido no dia anterior (feriado de 15 de novembro), ouvi atentamente o relato e durante toda esta conversa procurei lhe mostrar as condições adversas em que ele se encontrava em função do álcool, e com o agravante que estava à noite inteira sem dormir. Ao sair da lavagem tomei rumo em direção à via 13 de setembro no Buritizal, para a minha surpresa, o mesmo motoqueiro que estava na lavagem sem as mínimas condições de conduzir qualquer veículo, colidiu violentamente na parte traseira do meu veículo. Todos podem imaginar este quadro...
Este episódio demonstra a grave crise em que a sociedade está presenciando no Brasil e na cidade de Macapá, elevado consumo de álcool, drogas e a completa falta de controle tem feito vitimas de todos os lados, para piorar a situação, é cada vez mais presente o número de jovens que começam a consumir drogas mais cedo, muitas destas drogas são ditas “sociais” como as bebidas alcóolicas. Os índices de acidentes de trânsito em Macapá envolvendo motocicletas são insuportáveis. O cenário é conhecido por todos, bares abertos 24 horas, mas não são somente os bares, são baiucas, ambulantes, lavagens, e todo tipo de local que venda algum produto aproveita a oportunidade para vender bebida alcóolica.
O cenário da cidade está configurado para que todos os dias, entre cena, o selvagem da motocicleta, quem é selvagem da motocicleta? É o personagem que transforma a sua moto no instrumento do perigo. A motocicleta em épocas passadas sempre foi o símbolo de ostentação, todo jovem, sonhava em ter uma motocicleta. No começo da década do novo milênio houve uma “explosão” na venda de motos em todo o Brasil, as facilidades de pagamento em até 100 meses possibilitou que a moto se tornasse de fácil acesso.
Outro aspecto importante ocorreu no final dos anos 90 com a criação de serviço de moto táxi, transporte para muitos considerado de alto risco em função de que a moto não reúne as condições de segurança necessária para realizar este tipo de transporte, a diferença entre o usuário de uma moto e o moto táxi, está exatamente nos objetivos, implica na alteração de valores em relação, as condições de segurança, proteção e riscos contra todos os tipos de acidentes.
O número de motos multiplicou na paisagem das cidades, com isso aumentaram os índices de acidentes, de cada dez acidentes de trânsito, pelo menos 70 a 80% são provocados por motoqueiros selvagens, existem os bons profissionais como toda em qualquer profissão, porém, a situação é crítica. Para cada motoqueiro legal, há pelo menos 02 ilegais, isso torna este tipo de transporte ainda mais perigoso, os ilegais confundem a população que pouco sabe diferenciar quem é quem neste contexto. Os custos com os acidentes são imensos, basta ver os hospitais, as áreas de pronto de atendimento, as clínicas de recuperação, e principalmente perceber as sequelas definitivas como a perda de parte do corpo físico. O que fazer diante de situação tão ameaçadora para sociedade? O mesmo proprietário que vende bebida alcóolica na madrugada inteira pode ter um integrante de sua família como vitima de algum selvagem da motocicleta. A tolerância com os crimes de trânsito tem sido um dos principais entraves para conter atos bárbaros que vem ocorrendo no Amapá e no Brasil.
Inúmeras medidas poderiam ser concebidas e com a participação de toda a sociedade, a participação é reduzida quando se trata do sentimento em prol do coletivo, boa parte da população, das famílias, das organizações e o próprio poder público só tomam alguma providência quando ocorre algo de proporções e com grande repercussão pela mídia local ou nacional.
Muitas motos têm sido utilizadas em atos criminosos, de acordo com moradores da cidade de Santana todos os dias chegam ao Porto de Santana diversas motos sem nenhum tipo de fiscalização, cabe ao poder público investigar de forma criteriosa a procedência e a regularização destas motos. Existem múltiplas soluções, porém, só vão ter resultado se a sociedade entender o real significado da vida em comunidade. Enquanto isso não ocorre, vamos presenciar cada vez mais diversos motoqueiros selvagens colocarem em risco milhares de vidas, e neste momento da perda, da dor, que lamentavelmente parte da população desperta para um problema tão grave.
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