sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Patrimônio arquitetônico de Macapá

Só restam os buracos dos antigos prédios da Cidade Velha
Reinaldo Coelho
Da Reportagem
O povoamento da capital amapaense  se originou a partir da margem direita da foz do Rio Amazonas, no ponto em que deságua na baía de Macapá. Ali foi construído estrategicamente o Fortaleza de São José de Macapá para proteger a cidade. Mais tarde, com a construção igreja de São José, formou-se o primeiro núcleo de habitantes.
Essa é uma matéria para reflexão, a saber: a memória da cidade de Macapá no que concerne ao seu primeiro núcleo urbano, a orla do Rio Amazonas e a sua evolução, ou seja, o Patrimônio Arquitetônico da Macapá Antiga.
Cada governante que aqui chegou se titulou “arquiteto e urbanista”  com o intuito de transformar a Macapá antiga em metrópole e esqueceram de perguntar aos moradores se queriam sua historia  destruída ou preservada.
Berço da cidade, o antigo formigueiro foi escolhido pelo primeiro governador do ex-Territorio Federal do Amapá para abrigar funcionários de segundo escalão do novo governo.  Porém um dos prédios de referencia o Pensionato São José foi vendido e está sendo transformado em sede de uma faculdade local. Tinha certa fama no meio educacional, mas que importava? Aquele terreno seria vendido por muitos milhões de reais. Logo havia muitos prédios que pareciam caixotinhos, construídos no lugar.
O mesmo aconteceu com as residências oficiais do primeiro governo do território, as casas construídas, apresentaram dois modelos, o primeiro em alvenaria, estilo colonial para os servidores do primeiro escalão e ficou localizada ao redor da Praça Barão do Rio Branco. Hoje, das quase vinte residências, somente duas mantém o formato original.
O segundo modelo foi construído estilo palafita, porém com um detalhe os suportes eram de concreto e sob eles as residências foram feitas de madeira. Eram localizados na Avenida Mendonça Furtado no perímetro da Rua Tiradentes e General Rondon e na Avenida Presidente Vargas no mesmo perímetro, sendo que na Presidente Vargas as do lado direito no sentido leste/oeste eram de alvenarias e geminadas.
Hoje estão sendo derrubadas e os prédios vão crescendo em seu lugar. São grandes lojas importadoras, hotéis, pizzarias enfim, foram vendidas muito bem.
A antiga Beira-da-praia, que começava onde é hoje o Macapá Hotel e ia até o encosto da Fortaleza de São José de Macapá, está totalmente aterrada e com prédios modernos, o que lhes fez muito bem, principalmente pela revitalização da Orla da frente da Cidade.
Na atual Mario Cruz existiam a maiorias das primeiras residências (casarões coloniais) dos moradores da época (Açorianos) e foi escolhida para abrigar a Intendência da Vila de Macapá e logo acima, muitos anos depois a residência oficial do governador do Amapá.
É neste perímetro que fica localizado o bairro Central que é o berço da cidade, fundada em 4 de fevereiro de 1758. É a "cidade velha" de Macapá. O bairro encampou os primeiros bairros de Macapá, como o da Fortaleza, onde ficava a antiga Doca; do Cemitério; do Alto; do Formigueiro, onde vivera a Mãe Luzia (Francisca Luzia da Silva) e da Favela onde viveram grandes figuras da nossa cultura popular, entre eles Benedito Lino do Carmo, o velho Congós, e D. Gertrudes. Ali se fixaram as primeiras famílias e a cidade cresceu.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
O desmonte do patrimônio arquitetônico da cidade
Com esse crescimento é que começamos a ver o desmonte das memórias dos macapaenses, pois seus prédios estão sendo paulatinamente destruídas e construídas grandes obras modernas. A verticalização já vem tomando conta da Macapá Antiga.
O urbanista e cursando mestrado em Portugal, José Alberto Tostes, em conversa com a reportagem do Tribuna declarou que “É imensa a dificuldade para se manter o elo entre o passado e o presente, na cidade de Macapá tudo parece estar na contramão. Os prédios edificações na primeira metade do século XX estão sendo demolidas gradualmente para dar lugar às novas construções mais “sofisticadas”, lamenta Tostes.
De acordo com a visão técnica e de cidadão José Tostes a paisagem da cidade de Macapá vai perdendo aos poucos a relação com o passado. São edificações da época colonial e da Republica. Da época do Território, as Casas da Praça do Barão do Rio Branco, estão desaparecendo, as Vilas da Mendonça Furtado estão quase todas descaracterizadas. No formigueiro, o pensionato está vindo abaixo, o Cartório Jucá, resta os pedaços da casa dos Tavares na esquina da Tiradentes com a Mendonça Furtado. O espaço que era da antiga Rádio Educadora e Gráfica São José tornou-se apenas um buraco.  
Precisamos manter viva a memória dos amapaenses com referencia a sua historia, o Centro Histórico de Macapá, não existe mais, são pequenos o que sobrou. De quem é a responsabilidade pela perda do patrimônio edificado? No mínimo, há uma omissão muito forte dos mecanismos responsáveis pelo patrimônio artístico e arquitetônico da cidade, Macapá está “condenada” em ter apenas a Fortaleza de São José de Macapá como a principal e única referência. Na realidade, Macapá tem poucas vinculações com passado. A demolição das edificações principalmente da época do Território do Amapá é o resultado da ineficácia de políticas de preservação do patrimônio e principalmente da manutenção das peculiaridades culturais construídas em períodos anteriores.
A sociedade em geral se apressa em construir em Macapá uma “nova” cidade, nesta nova cidade, não há espaços para edificações consideradas “velhas” e sem funções. O que se vê em outras cidades e países é a valorização da cultura do lugar, das praças, coretos, igrejas, monumentos e adornos, conjunto que define muitas vezes o enredo econômico deste lugar.
Para o urbanista José Tostes o turismo sobrevive disso, ele reforça que  as principais atrações de Paris, não são as obras atuais e inovadoras plasticamente, há muitas décadas a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, Museu do Louvre e casas que abrigam os cafés do século XIX, dá o caráter peculiar que faz de Paris à cidade mais atrativa do mundo.
 Porém em Macapá a identidade com lugar parece cada vez mais distanciada, nos últimos trinta anos, tudo mudou destaca. O trapiche Eliezer Levi foi modificado, o Igarapé das Mulheres não é mais das mulheres, o Mercado Central não exerce mais o papel de mercado, não existe mais o cine Macapá, cine João XVIII e até a Igreja de São José não é mais a mesma. Qual é a história que vamos contar no futuro? Se a história da nossa gente vai sendo demolida de forma impiedosa: sede do Amapá Clube, Macapá Esporte Clube, do Conservatório de Música, das casas da Praça do Barão, etc.
Segundo Rocha Simão (2006) a preservação do patrimônio cultural, não se caracteriza um entrave ao desenvolvimento, uma vez que é possível estabelecer parâmetros para intervenções no território ao considerar-se a manutenção da ambiência urbana que motiva a preservação, à semelhança da regulamentação do solo urbano de todas as demais cidades. Para esta autora a construção ou modificação da imagem da cidade é uma das principais estratégias para a mobilização da população, além de constituir instrumental necessário para a promoção externa da cidade.
Finalizando José Tostes desta a necessidade da preservação do patrimônio edificado, pois ele resgata o orgulho do lugar e  torna-se fator primordial para agregar a comunidade no projeto de transformação da cidade, com a valorização das coisas locais e com a visão contemporânea da importância do referencial do passado e da cultura. O que ocorre na cidade de Macapá nos últimos anos é um verdadeiro desprezo com os valores culturais locais.
 Memórias
Graças a alguns abnegados pelas lembranças históricas e que restam fotos e relatos, caso de historiador Edgard Rodrigues e o radialistas, João Lazaro Silva que mesmo morando em São José dos Campos (SP) mantém a historia de Macapá em dias com seu site http://porta-retrato-ap.blogspot.com
_________________________________________________

Macapá Cidade Nova
Devagar os empreendedores imobiliários vão derrubando as memórias amapaenses e prol do enriquecimento Mas não ficaram satisfeitos. “Quem precisa de uma casa velha, o terreno mede 30 por 60?, da para construir um prédio de 13 andares.  Ninguém está prestando atenção mesmo!” E assim está sendo. Derrubaram as casas dos nossos pioneiros, que já se foram e nada puderam fazer para impedir. Venderam os tijolos. Venderam o terreno também. E fizeram, muito dinheiro.
E daí, como ninguém estava prestando atenção ainda, resolveram derrubar o prédio do Esporte Clube Macapá e do Amapá Clube (que velho e feio!), o prédio da antiga Cruz Vermelha (que desengonçado!). Foram destruindo, vendendo, enriquecendo. E daí, um do grupo — talvez o mais espertinho, ou o mais ousado — viu que o prédio do Trem Desportivo Clube era útil para mais um empreendimento imobiliário, estava numa “área privilegiada,” e já que os sócios “não estavam utilizando,” e “nem sequer tinham renda comprovada,” e que afinal não podiam dizer nada. Salvou-se por pouco.
E o povo? Todo mundo calados! Do mesmo jeito que haviam feito no ano do governo Ivanhoe Gonçalves Martins que derrubou as casas na Rua São José esquina com a Avenida Presidente Vargas, foi-se a antiga Cadeia Pública, prédio histórico, surgiu as Lojas Pernambucanas. O centro tinha ficado lindíssimo, e lembrava alguma outra cidade, mas ninguém tinha certeza do que era. Só teve um, porém: ao ver sua cidade descaracterizada, o povo de repente se havia revoltado, mas era tarde demais, porque os destruidores da memória tinham conseguido seu intento, que era ganhar dinheiro, e a única coisa que os moradores de Macapá tinham podido fazer era chorar a perda da sua historia.
Mas agora, a história esta sendo repetida! E ninguém aprendeu com o erro do passado! E então, em bem pouco tempo, a cidade de antigamente, não era mais a mesma. Na verdade, nem sequer parecia com qualquer outra, porque aquelas cidade pelo menos tinham conservado seus edifícios históricos, suas estações, suas catedrais. Lá tinha gente que entendia de patrimônio histórico e respeito. Mas agora, já Macapá não parecia com nada.
Esta é a mesma crise de identidade histórica que permitiu que o povo dormisse enquanto alguém decidiu destruir a antiga Radio Difusora de Macapá e posterior Gráfica São José, a sede do Esporte Clube Macapá, Amapá Clube, e deixar um buraco em seu lugar. Agora, o ataque vai ser aonde?
Mas por que devemos nos opor a esta medida que, de acordo com engenheiros e gente entendidos em urbanistica, vai melhorar o centro da cidade? Por que não nos calamos e deixamos que passassem a pensar por nós e decidam que o progresso e a ordem sigam seu caminho e limpem o centro e construam novos prédios no lugar? Por que não deixar que prédios de escritórios e apartamentos ocupem aquele espaço central da cidade, e que o velho prédio seja derrubado.
O que nos restam do antigo: O Fórum de Macapá, hoje OAB/Amapá; Residência Governamental; Colégio Amapaense; Igreja São José (matriz antiga), Fortaleza de São José; residência da Mãe Luzia; Estádio Glicério de Souza Marques ; Casa de seu Zacarias; Casa de Senhor Menezes (a Casa Cacu); Casa do Pastor Eduardo Muller (1º pastor da Igreja dos Irmãos); a Igreja dos Irmãos; a Igreja Assembleia de Deus; a Igreja Batista; Casa do seu Amorim; Cemitério de N. S. da Conceição; Posto de Puericultura “Iracema Carvão Nunes” e “Hildemar Maia, bairro do Trem; Mercadinho do Trem; Mercado Central; algumas casas na Avenida Iracema Carvão Nunes; Sede do Correios; Cine João XXIII; Cine Macapá; Assembleia Espirita Amapaense;  Casa do Senhor Lucien; Escola Antonio Pontes; Escola Barão do Rio Branco; Banheiro Público do Bairro do Trem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...