sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pelas cores mais belas



No início deste ano, um crime bárbaro, ocorrido em São Paulo, chocou àqueles que ouviram a notícia. Um jovem de 24 anos matou a facadas o avô de setenta, na chácara em que este morava com a avó do rapaz.
Possivelmente sob efeito de drogas, o jovem, não contente em trucidar o próprio avô, arrancou-lhe também o coração e deixou-o ao lado do corpo. A avó conseguiu fugir, foi localizada em estado de choque e precisou ser internada.
Apesar de chocantemente sanguinolento, parece que o crime já está esquecido. A população deixa que sua indignação vá embora juntamente com as efêmeras notícias veiculadas pela mídia, e isto é triste.
Crimes como o de Edmilson Silva Santos acabam suprimidos a cada lavagem cerebral que sofremos semanalmente e, assim, todos nós perdemos a chance de questionar que arremedo de sociedade é este que estamos construindo e sedimentando para as gerações vindouras.
Mas, quando estes episódios voltam a nos atormentar, não podemos perder a chance de ao menos refletir sobre toda esta loucura que se instaurou no mundo. Na verdade, nem precisamos ser tão globais, falando em mundo... Toda sociedade têm seu gérmen na família, e é para ela que devemos olhar.
Se a família é o principal braço repressor do homem ou não, se oprime ou não, se tolhe o indivíduo ou não, isto é discussão para outro pôr-do-sol, e deixemo-la ao cargo dos Freud por aí. O fato é que a família constitui nossa primeira relação com outros seres. Ali nascemos e ali crescemos, em seu seio, esboçando nossas primeiras – e fortíssimas – experiências de amor e afeto.
Mas, no que esta instituição tão indispensável se transformou? Como é possível que hoje se fragmente de modo tão supérfluo e sem esforço? Será que devemos culpar a todas as famílias do mundo, ou a este próprio mundo moderno? Se tentarmos responder, em uma só sacada, a cada pergunta que surge do choque, certamente enlouqueceremos. Por isso, não podemos perder a calma diante de tantas mazelas.
A verdade é que a família continua sendo o principal apoio para a maioria dos indivíduos. Ela não se deturpou totalmente, e muito menos deixou de ser importante na construção de nossas noções, caráter e valores. Mas é que este novo mundo, moderno, ágil, célere, disforme, bombardeia tanto às cabeças dos seres humanos, que algumas vezes acaba acertando também a sua base, a família.
Hoje, a violência, mesmo sem ser convidada, entra nas casas através da televisão, do computador, do telefone, de qualquer aparelho que esteja dando sopa, e é maquinadora. Se deixarmos, ela rapidamente se infiltra e rói os laços entre pais, irmãos, avós, tios, primos. Principalmente se estes laços estiverem frouxos.
Por isso, hoje em dia, já não podemos mais nos alimentar da ilusão de que tudo sempre terminará bem. Se não trabalhamos em busca de uma verdadeira harmonia e afeição, tudo pode ruir com uma simples troca de palavras. É assustador, mas, em um mundo tão novo e maravilhoso sobre o qual nós caminhamos, ele certamente cobra caro pedágio.
Contudo, não podemos deixar que a força de interação entre as moléculas de nossas famílias perca para as investidas do inimigo: a violência. Em especial, não podemos deixar que se deteriorem os laços tão estreitos que devem existir entre avós e netos.
Poder crescer ao lado de pessoas mais velhas é uma experiência única, extrapola palavras. Nem todo relacionamento entre avós e netos é um sonho, mas cada um deveria se empenhar nisso.
Os avós não são simplesmente personagens remotos, contratados para dar bombom e fazer vontades. Eles são esteio, são diamantes, firmes, brilhantes, duros às vezes, contumazes diante de certas lapidações, mas extremamente preciosos. Se nossos pais erram conosco, nossos avós acertam. Eles sempre acertam. Eles fazem comidas gostosas, contam velhas e boas histórias, abrem seus corações aceitando um sorriso em troca. Eles colhem nossas lamúrias e nossas lágrimas sem precisar perguntar pela besteira que as desencadeou. Os avós são pais pela segunda vez, com a chance de fazer tudo novo, ou tudo perfeitamente igual. Seja como for, são eles os guardiões da família. E tê-los por perto é como pintar todo o dia, com variadas cores antigas, uma nova tela. É sempre uma surpresa. E que essas belas cores nunca nos faltem.

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