sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sobrevivente - Professora Waldecira Queiroz

"Foi uma bênção eu ter vindo para Macapá. Foi onde estudei e ganhei uma profissão que me projetou. Eu amo esta cidade"
Professora Waldecira Queiroz

Por Gabriel Fagundes


Embora não seja natural do Estado do Amapá, foi o que afirmou dona Waldecira Oliveira Queiroz, nossa pioneira desta semana. Com 71 anos, inclusive a maioria dedicados à Educação amapaense, dona Waldecira tem uma história que sem dúvida merece ser contada, registrada e lembrada.

"Eu nasci e fui criada em Parintins, Amazonas, e gosto muito de lá. Meus pais, Waldemar da Cunha Queiroz e Carminda Oliveira Queiroz, eram fazendeiros conhecidos do Alto Amazonas, e já faleceram. Minha mãe era dona de casa, até porque naquele tempo não existiam as profissões que existem hoje, era tudo restrito. Hoje tem e muitas, eu dou graças a Deus por isso. Tenho alguns irmãos vivos e outros que já faleceram. Nós éramos 10, dois morreram ainda pequeninos e seis estão vivos.".

Professora Waldecira Queiroz: uma guerreira
que construiu uma bela história
Dona Waldecira se casou cedo, e conta como tudo aconteceu. "Eu tinha 14 anos quando conheci meu marido e pai dos meus filhos, João Pereira da Graça, em Parintins. A minha mãe dizia assim: 'Boneca, tu queres casar com o seu João?', e respondi 'Eu não sei, a senhora que sabe.'. De Parintins nós fomos para Manaus, para casarmos. Nos casamos na Igreja Nossa Senhora Aparecida. Depois, passamos um tempo e então voltamos para Parintins, para morar. Ainda não tinhamos filhos. O meu marido João nasceu em Maués, depois ele se mudou para Belém e foi criado lá. A mãe dele tinha 10 filhos. Naquela época as pessoas tinham muitos filhos.".

Depois de casada, professora Waldecira e seu João vieram para Macapá, já com uma família. "Quando nós chegamos aqui eu já tinha três filhos, que nasceram em Parintins. Os meus filhos são o Washington Queiroz da Graça, Wesley e William. Eu tenho três netos e um bisneto. Quando eu cheguei a Macapá eu não tinha nenhuma profissão", disse professora Waldecira bastante emocionada. Paralelo aos estudos, nossa pioneira continuava a ser mãe, e educava seus filhos passando informações de caráter civismo e religioso.

"Lembro que quando eu cheguei aqui, as minhas cunhadas diziam: 'Mana, vai estudar boneca, vai estudar! '. E eu pensava em como eu poderia começar a estudar se eu nunca tinha estudado na vida.".

Ainda sobre a chegada em Macapá, a nossa pioneira conta que estudou até a quarta série do antigo primário. Como na época para se ingressar nas últimas séries do ginasial, deveria submeter-se a ume exame de admissão ou a quinta série do primário, o que foi feito por ela e concluiu o antigo ginasial. Logo em seguida, cursou o Curso Pedagógico, que hoje corresponde ao ensino médio, e que formava professoras normalistas. Depois de algum tempo, professora Waldecira se submeteu ao exame de vestibular em Licenciatura Curta de Pedagogia. Mais tarde, fez a Licenciatura Plena em Administração Escolar pelo Núcleo da Universidade Federal do Pará no  Amapá. Professora Waldecira relembra com saudades do uniforme padrão utilizado na época. "Lembro bem das roupas: as blusas eram de mangas cumpridas, saia plissada, abaixo do joelho. Eu sempre me vesti assim até porque eu sempre fui uma pessoa de muito respeito. Eu era até analfabeta, mas eu era pessoa com respeito e dignidade.".

Escola Evangélica Periquitinho Verde: foi sua primeira
 escola e atuou como diretora, tempos depois
Pela sua persistência, coragem e doçura, Waldecira angariou, junto aos seus chefes e colegas, confiança e respeito, sendo nomeada para administrar diversas escolas do então Território Federal do Amapá. A primeira escola foi a Escola Evangélica Periquitinho Verde, onde atuou como professora e depois foi diretora. "Existia um convênio na época entre a Divisão de Educação e a dona Nilse das Graças , que funcionava assim: alguns professores era a dona Nilse que pagava, outros era o Governo que pagava. Para eu atuar como professora eu fiz um concurso, no qual eu passei.".

Depois do Periquitinho Verde, professora Waldecira trabalhou na Escola Evangélica, onde começou sua carreira como administradora de escolas. "Depois da Escola Evangélica, eu assumi na Escola Dom Aristides Pirovano. Após esta, fui para o Sebastiana Leni e lembro que era no tempo do comandante Barcellos.". Mas foi no CCA que a professora Waldecira fez história. "Fui a primeira mulher a dirigir o CCA, e assumi com muito orgulho, pois foi um privilégio. Naquela escolas os alunos eram bastante agitados e violentos, jogavam cadeiras de cima do prédio e outras coisas.". Realmente, só mesmo uma guerreira que constrói uma história tão bela assim. Parabéns, professora Waldecira!

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