Se você procurar por aí a origem da palavra "sinceridade", encontrará pelo menos duas explicações etimológicas para o termo. A primeira delas afirma que "sincero" vem do latim "sincerus", no qual o prefixo "sin" significa "um", "único", e "cerus" vem do verbo "crescere", ou seja, "crescer". Buscando então um elo entre o nosso "sincero" de hoje e o "sincerus" de antigamente, é possível que esta última palavra seja entendida em um contexto metafórico, no qual "se refere à planta que é de crescimento único, sem enxerto ou mistura de qualquer tipo, e, portanto, é considerada 'pura'".
Agora, se partirmos para uma segunda explicação, diz-se que a palavra vem de outros termos latinos, neste caso "sine" ("sem") e "cera" (a nossa cera mesmo). A história por trás dessa segunda versão conta que os romanos às vezes conseguiam produzir vasos de uma cera tão pura, praticamente translúcida, ao ponto de ser possível enxergar os objetos depositados no interior do recipiente. Aí se dizia algo como: "Parece até sem cera!...", e então surgiu o nosso "sincero".
Independentemente de qual explicação se adira, fato é que em ambas preserva-se a ideia de pureza e transparência, dando base à nossa atual noção de sinceridade, encarada como verdade, franqueza, limpidez, cordialidade, etc.
Bem, o problema ao qual se dedica este texto não está, portanto, nas raízes no termo, e sim no modo equivocado como a sinceridade frequentemente passou a ser definida e nutrida por alguns indivíduos nos dias de hoje.
Tornou-se ponto passivo acreditar que sinceridade signifique dizer tudo aquilo que lhe vem à cabeça, não importando as consequências que a língua possa causar - sobretudo se usada como adaga de ataque. Muito se confunde o substantivo em questão com uma espécie de licença para atos de rispidez e estouvamento. A coisa é levada a tal extremo, que a tal "sinceridade exacerbada" toma ares profundamente opostos a seu sentido original, beirando até a hipocrisia. Um exemplo de caso? Luana Piovani e seu infame Twitter.
Como já se sabe, o Twitter é um site de relacionamentos da internet, um microblog no qual cada ser que desejar pode criar sua página pessoal e postar o que lhe vier na mente, obedecendo ao limite de 140 caracteres por ataque, digo, postagem. Pois bem, a modelo e atriz brasileira, Luana Piovani, de 35 anos, é mais uma entusiasta do Twitter.
Em suas polêmicas colocações, muitas vezes estoura o "filtro" - aquele filtro que todo mundo deveria ter entre cérebro e boca/dedos, para não sair externando irrefletidamente tudo o que pensa. As "cusparadas" cibernéticas da atriz são já notórias, atingindo colegas de classe (a classe artística) e até quem não é (nem o ex-presidente Lula escapou às alfinetadas).
Até aqui, talvez, a situação não seja encarada como grande coisa... Contudo, o problema real de Luana e suas estripulias está no fato de que a maior parte daqueles que a acompanham no blog admiram as palavras da mulher e, adivinhem, acham-na muito "sincera"! Fica a pergunta: Como podem ser "puras" e "cordiais" as colocações de uma pessoa que se acha no autêntico dever de zombar das faces alheias, não importando as implicações (inclusive sociais) disso? E, enquanto se dedica à prazenteira e leviana tarefa do escárnio gratuito, o público cibernético aplaude, ri, concorda, exclama: "Sincera!".
Para arrematar, vem esta mesma celebridade e, explicando o motivo por trás de seu repúdio ao programa televisivo "Pânico na TV", posta no microblog: ... "Porque não dá pra interagir com vocês, seu programa é o fim amore, desrespeitoso e eu não quero ser conivente com falta de ética".
Epa! Como pode apelar à "falta de ética" alguém que evidentemente nem ao menos se importa com o modo pelo qual emite as próprias opiniões a respeito de outrem? E assim a equivocada sinceridade se transforma em hipocrisia...
Os "vasos diáfanos", verdadeiramente sinceros, transparentes, entram em declínio, escasseando silenciosamente, suplantados por um arremedo de verdade-versátil-venenosa do tempo presente. E os brasileiros, bastante encerados, endeusam Piovani por dizer coisas do tipo: "Não acho a Juliana Paes bonita, mas ela estava bem vestida. Lá não era o 'Globo de Ouro', ela deveria ir com um vestido menos chique", ou "Avisem a tampa que gostosa tem que ter peito. Tá parecendo um tronquinho" (para Carolina Dieckmann), ou "Wagner Moura cantando Legião... Estou vendo... Energia boa, intenção incrível, pero está f...".
Triste... No entanto, remediando em parte o caos instalado, ainda há quem sábia e sinceramente se questione: "Não teria Piovani marido e filho com os quais se preocupar?!".
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