sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Artigo do Tostes - A cidade eterna de Roma


Este artigo tem como finalidade fazer uma ampla reflexão sobre as experiências de projetos, lugares históricos e outras formas de manifestação sobre a perspectiva de desenvolvimento local. Sempre aprendi desde a época da academia, muitos professores de arquitetura recomendavam, sempre que possível viajar. Viajar é sempre uma experiência maravilhosa quando a oportunidade existe e sempre podemos tirar o máximo de proveito de tudo o que é absorvido como base para o conhecimento.

Nos últimos anos tenho tido a felicidade de realizar inúmeras viagens pelo Amapá, Brasil e no exterior. Na minha formação como arquiteto e urbanista, professor e pesquisador da universidade, viajar é sempre a oportunidade de renovar os conhecimentos, intercambiar idéias, fazer novas amizades, apresentar trabalhos e colher as diversidades contrárias, sempre positivas para avançar sobre outros referenciais.  Nesta última viagem realizada, o destino inicial era Lisboa em Portugal, visando participar do evento: Palcos da Arquitetura na Universidade Técnica de Lisboa. Na cidade de Lisboa, quando por lá coloco os pés, parece que estou em casa, tal o grau de familiaridade com a paisagem local.

Lisboa é uma cidade com características bem peculiares em sua paisagem, do alto, tudo parece branco, sua topografia alterna a diversidade do lugar, o cenário do Tejo evidencia a beleza cênica com a travessia da ponte Vasco da Gama, sem ter a fama de cidades mais famosas da Europa, Lisboa, tem um público cativo, a calmaria parece satisfazer a todos os gostos, hoje com uma boa estrutura de ônibus, trens e metrôs, quase toda a cidade está interligada por redes. Nesta viagem, não tive a oportunidade de visitar Coimbra, cidade acadêmica, até o ano passado tive as bases por lá para realizar um estágio de pós-doutorado.

Após o compromisso em Lisboa, tomei rumo à Itália, mas precisamente na cidade de Roma, cujo objetivo era participar de um curso sobre a sustentabilidade em centros históricos. Roma é uma cidade histórica com mais de 27 séculos. É incrível observar a paisagem de Roma, de perceber as interações e condições da chamada cidade contemporânea e a relação entre o passado, presente e futuro, é muito intenso e próximo. A cidade vive e respira a sua história, é muito complexo para nós brasileiros compreendermos a integração entre história, arte, cultura, sociedade, tudo através da arquitetura, algo concreto para os romanos, para nós brasileiros, só fragmentos.

O que faz uma cidade com mais de 27 séculos ser considerado uma grande atração a céu aberto, não são somente palácios, museus, galerias, artistas, isso faz de Roma a chamada cidade eterna. A participação das esferas governamentais, dos técnicos e do povo, tudo mesclado e muito interessante, até a forma de protestar, é com muita profundidade. Ao retornar de Roma para Lisboa, todo o aeroporto Leonardo da Vinci estava carregado de lixo por todas as partes, o objetivo era um protesto de trabalhadores, de acordo com as informações locais, seria sobre as condições de trabalho e de controle da policia local, tal cenário, causava perplexidade, como seria possível que o aeroporto estivesse naquelas condições.

Sempre que viajamos realizamos múltiplos registros, motivados principalmente pelos novos recursos disponíveis, até 10 anos passados, fotos eram tiradas de máquinas com filmes para serem revelados, hoje em dia, em poucos segundos você registra uma infinidade de fotos que passam a trafegar em redes sociais, blogs, jornais e todos os tipos de mecanismos que veiculam informações. A responsabilidade de registrar a cidade é cada vez maior, tirar lições e observar projetos duráveis, concepções que deram certo, verificar os problemas que são crônicos em qualquer lugar do Planeta. O que Roma nos ensina através de 27 séculos, é algo que no Brasil precisamos valorizar muito, a importância do valor histórico, da história, da relação de tudo isso com a economia local, e com o sentimento de pertencimento ao lugar. Não há valor naquilo que não se conhece a dimensão histórica.

Neste quesito, precisamos dimensionar melhor a história local, verificando aquilo que há de melhor para ser valorizado. Roma não seria o que é com todo o passado histórico e a riqueza cultural, se os dirigentes não tivessem realizado projetos, planos, programas para desenvolverem uma relação harmoniosa entre o passado, presente e futuro. Das capitais mais famosas da Europa, talvez Roma, seja a que tem maior apelo religioso, a presença do Vaticano, do Papa e do Museu, dão ao lugar esta notoriedade.  Portanto, viajar é muito mais do que sentir prazer, e satisfação de degustar o berço cultural de parte da humanidade, mas também, adquirir conhecimento, apreender com o conjunto de ações e estratégias, isso nos serve para quando voltar para o local de origem, colocar em prática pequenas ações.

Por último, há de se considerar que a globalização vem mudando parte do cenário e das relações estabelecidas, pode-se dizer que em Roma, há uma forte presença do mercado informal nos mais diversos lugares estratégicos onde o fluxo de turistas é intenso, mesmo sendo um mercado informal, existe uma organização lógica, isso serve para que aprendamos que a informalidade não significa bagunça, desordem e generalização do caos.  
Há muitas dimensões na cidade de Roma, 27 séculos de existência nos ensinam a dar os passos para entender com maior propriedade a realidade em que vivemos. Macapá mesmo com poucos séculos, precisamente 2,5 séculos, existe uma história do lugar, que precisa ser contada e valorizada pelos seus usuários do presente e do futuro. Na nossa realidade, é muito fácil, cortar ou isolar os elos com o passado. O nosso conceito valor histórico e arquitetônico é muito distante do usuário, a relação entre cidade, arte, arquitetura e o urbano é inteiramente fragmentada. Os governantes devem pensar antes de devastar da paisagem aquilo que ela tem de melhor.

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