Estou em Roma na Itália participando de um curso sobre o desenvolvimento sustentável de cidades históricas, entre as principais abordagens de todo este aprendizado, está primeiramente o cidadão, tudo que deve ser enfatizado na cidade deve ter o cidadão como prioridade. O êxito e aplicabilidade de projetos sustentáveis em centros históricos têm como fundamento, não somente a preservação e divulgação de cidades históricas, mas também, a utilização de preceitos vinculados à estruturação e conhecimento dos usuários da própria cidade e a ordenação das atividades turísticas. Neste sentido, existe uma escala para o desenvolvimento de projetos e alternativas para grandes cidades em macro escala, caso das cidades de Roma e Paris, assim como, há escalas de menor grandeza, exemplo de Serra do Navio no Amapá.
Os projetos sustentáveis vinculados aos centros históricos vão além da perspectiva da existência do atrativo histórico, resulta na organização estrutural em várias dimensões: internacional, nacional, regional e local. Cada um destes estágios possibilita compreender como cada dimensão se apresenta. A partir desta configuração existe a forma de planejamento para inserção dos centros históricos. A cidade é a referencia, para isso, é preciso construir os meios de integrar as políticas públicas nacionais, regionais e locais. Outro fator importante é o desenvolvimento em médio e longo prazo, inclui metas com alcance definido. Os níveis de investimento devem estipular resultados efetivos. Para os efeitos da sustentabilidade, torna-se necessário a participação das esferas de governo; da iniciativa privada e principalmente da população.
Há três importantes fatores: o primeiro é a questão da divulgação do centro histórico com a participação popular; o segundo, a formação e preparação dos recursos humanos e o terceiro, níveis de avanços através do controle e monitoramento de projetos. É fato, os projetos vinculados aos centros históricos são algo fundamental para o desenvolvimento da atividade turística. É importante tratar as políticas estratégicas como algo primordial, essencial, não superdimensionar a capacidade de um determinado lugar. Não há êxito para aquilo que não é planejado.
Do ponto de vista da participação popular é imprescindível o conhecimento, a apropriação dos valores históricos, das diferentes relações estabelecidas e as múltiplas conexões, isso gera emprego e renda, contribui para a melhoria da qualidade de vida. A sustentabilidade dos centros históricos também passa pelo uso de técnicas alternativas do uso de energias renováveis; de acessibilidade e mobilidade urbana adequada às condições do lugar; de um sistema de transporte integrado e diversificado, mesmo nas pequenas escalas, é algo perfeitamente possível. Para participação neste projeto, incluí pelo estado do Amapá: Mazagão, Santana (Vila Amazonas) e Serra do Navio, todos na escala de dimensão micro, porém com um apelo histórico expressivo em relação ao lugar. Evidente que não se colhe resultados imediatos, o desenvolvimento para o futuro exige clareza e coerência na aplicação de recursos públicos e privados. Diante destes lugares citados no Amapá, há uma série de atenuantes a serem considerados: as conexões entre Santana e Serra do Navio (ferrovia) como um meio alternativo da vinculação entre Vila Amazonas e o Conjunto histórico de Serra do Navio.
Entre a teoria e a prática, há um distanciamento principalmente quando se trata de diferentes interesses políticos, econômicos e partidários. No Brasil e na América Latina existe um modelo concentrador do exercício de governança, dificulta a aplicação de políticas continuas e duradouras, também passa pela composição do orçamento público. O orçamento é uma peça importante na definição de planos e programas consistentes.
Quais as lições e reflexões são possíveis de serem avaliadas deste importante curso na cidade de Roma na Itália? Primeiramente compreender a valorização de que existe um centro histórico com um valor inestimável para o lugar; dotá-lo de condições adequadas para se tornar uma grande atração; canalizar investimentos, integrando a um conjunto de políticas públicas e privadas; trabalhar o aspecto cultural e educativo; fortalecer a inserção popular no projeto, agregar o planejamento e gerenciamento de projetos para os centros históricos. No Amapá, a cidade de Mazagão não tem um patrimônio histórico substancial edificado na sua paisagem, mas tem um patrimônio imaterial expressivo para ser catalogado e transformado em uma grande atração.
Para finalizar, este artigo foi escrito no trajeto entre a cidade de Roma e Veneza, ao longo do percurso de mais 03 horas, realizei outras reflexões importantes sobre todo este aprendizado. Os novos gestores, técnicos, estudiosos devem ter a oportunidade de viajar, de conhecer outros lugares, de verificar as alternativas propostas, níveis de informações, de perceber que não basta ter um lugar privilegiado pela natureza, é preciso compreender o que significa planejar com sustentabilidade, de admitir em absorver novos conceitos e rever ideias antigas.
É preciso estudar, buscar o aperfeiçoamento, caso isso não ocorra, estamos na encruzilhada de repetir fórmulas atrasadas, sem nenhum resultado para o futuro. A cidade não pode ser uma célula isolada, os centros históricos expressam as relações entre passado, presente e futuro. Neste trajeto tive a oportunidade de conhecer as experiências de três escalas distintas de valorização sustentável de centros históricos: Roma, Veneza e Florença.
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