sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Vale do Jarí: Grupo Orsa é mais um a levar a riqueza e deixar a miséria

por Reinaldo Coelho

Plantio de eucalipto
Parece que essa sina persegue essas terras. A Amazônia sempre recebeu os grandes visionários e os seus megaprojetos desde que teve sua descoberta feita pelo espanhol Vicente Pizon, mas tiveram suas perspectivas frustradas pela falta de planejamento adequado e, é claro, pelas dificuldades em atuar na maior floresta do mundo.

A ambição pelas riquezas minerais da região amazônica se espalhou pelo velho mundo, inclusive com a lenda da famosa cidade de ouro "a El Dourado" cidade perdida que existiu entre os séculos II a.C e XIII d.C. junto à fronteira do Brasil com a Bolívia. Em 1925, aconteceu à expedição Fawcett que virou lenda e novamente atraiu a atenção do mundo todo para as cidades perdidas na Amazônia. Montou uma expedição para localizar a cidade que ele denominou de "Z" e desapareceu sem deixar rastros. 

A primeira investida americana nas glebas amazônicas foi pelo empresário norte-americano Henry Ford, através de sua empresa Companhia Ford Industrial do Brasil, fundando a Fordlândia no Estado do Pará, para abastecer sua empresa de látex necessário para a confecção de pneus para seus automóveis. O fim deste sonho aconteceu logo após a morte de Henry Ford, tendo o governo brasileiro assumido todos os encargos trabalhistas e recebido os acervos da empresa (escolas, hospitais e 6 mil pés de seringueiras).

Na década de 50, a história se repete, com o mesmo enredo. Foi a vez do Amapá em receber os americanos consorciados da Bethlehem Steel Company com o mineiro Augusto Antunes que fundaram a Indústria e Comercio de Minério S/A ( ICOMI), com finalidade de explorar uma mina inesgotável de Manganês puro nas terras do hoje município de Serra da Navio, seria a redenção amazônica. Foi montado uma infraestrutura residencial e industrial em plena Selva tropical, com atendimentos sociais e de saúde de primeiro mundo. Cinquenta Anos depois, a ICOMI foi comprada por R$ 1 e suas cantadas e encantadas obras arquitetônicas estão em ruínas.

Fábrica de Celulose de Eucalipto
Jarí Florestal
Na década de 60 chegou mais um visionário americano, o bilionário Daniel Ludwig, com o sonho de  na divisa entre os Estados do Amapá e do Pará, desenvolver um pólo agroindustrial na região, que no final das contas, resultou apenas na produção de celulose e no desenvolvimento de uma sede muito bem estruturada, do lado do Pará, no município de Almerim (PA), denominada Monte Dourado, destinada ao Staff da empresa e uma favela em forma de  palafitas, denominada "Beiradão", do lado do Amapá. Até os nomes são significativos.

Em 1982, após investimentos exorbitantes na região, Ludwig se viu obrigado a se desfazer de sua ambiciosa ideia e vendeu a Jari celulose. Em 2000, a empresa passou a ser controlada pelo Grupo Orsa, e Monte Dourado obteve as vantagens do destino da venda da fábrica, já que a Jari Celulose não somente tornou-se economicamente viável, como também se mostrou sustentável, recebendo certificação em 2004 pelo Forest Stewardship Council, uma ONG que atesta o bom manejo de florestas. E do lado do Amapá, nada.

BNDS financia desemprego
Agora em 2012, de acordo com as informações do jornal "O Estado de São Paulo", a Jari Celulose, Papel e Embalagens, vai mais uma vez interromper as atividades da sua fábrica de celulose de eucalipto a partir de janeiro de 2013. A decisão, de acordo com a diretoria da empresa, é devido a busca de alternativas consideradas mais atrativas para a fábrica instalada em Almeirim, no Pará. 

A informação de que a Jari interromperia as atividades em janeiro agradou os analistas. O banco JP Morgan publicou relatório no qual comentava os efeitos positivos da decisão para o mercado de celulose de eucalipto, principalmente para Fibria e Suzano Papel e Celulose. Para a instituição, a medida reduziria a pressão esperada para o mercado por conta do início das operações da Eldorado, neste mês, e de outras duas fábricas de celulose (Suzano e Arauco/Stora Enso), em 2013. Bom para eles, péssimo para os amapaenses radicados no Vale do Jari.



O desemprego
Beiradão em Laranjal do Jari
A Jari Celulose S/A, empresa do Grupo Orsa, contratou financiamento na ordem de R$ 145,4 milhões junto ao Banco do Desenvolvimento Econômico e Social, com recursos destinados à modernização da unidade industrial em Monte Dourado, no município de Almerim (PA) e ao plantio de até 33,7 mil de hectares de florestas de eucalipto no período de 2006 a 2008.
Ainda, de acordo com o site do BNDES, o valor corresponde a 70% do custo total, de R$ 207 milhões. O principal objetivo do projeto é a manutenção da competitividade internacional da empresa, a partir da redução de custo de produção decorrente dos investimentos industriais e do aumento da rentabilidade dos seus ativos florestais.

Segundo informações do Sintracel, está prevista uma paralização de 10 meses na produção industrial para execução das obras de ampliação da empresa e, nesse período, serão dispensados todos os funcionários. Não há garantia de que os trabalhadores retomem seus postos de trabalho após esse tempo. O Sindicato da categoria iniciou um processo de negociação com a Jarcel para impedir as demissões em massa.

Residências do Staff da empresa em Monte Dourado
A decisão tomada está alinhada à posição do grupo de buscar alternativas consideradas mais atrativas para a fábrica instalada no Pará e principalmente a lucratividade. Porém, quanto ao aspecto social e o impacto econômico financeiro que ocorrerá no Vale do Jari com a ameaça de desempregar 5 mil funcionários durante 10 meses, até a empresa encontrar novas alternativas rendáveis para retorno de seu funcionamento. A bancada federal amapaense ao tomar conhecimento da tenebrosa situação dos moradores do Vale do Jari começou a agir com vista de encontrar uma alternativa para a situação. A deputada federal Dalva Figueiredo (PT) já acionou o Ministério do Trabalho e Emprego para mediar às negociações entre o Sindicato dos Trabalhares da Indústria de Celulose de Laranjal do Jarí e Monte Dourado (Sintracel) e a empresa Jarí Celulose S/A (Jarcel) a respeito do Plano de Modernização Administrativa e da Planta de Produção, que levará desemprego a centenas de pessoas. 

Segundo a Deputada Federal Dalva Figueiredo, a demissão em massa de trabalhadores naquela região ocasionará problemas imensuráveis para população do Vale do Jarí. "Por isso acredito que seja possível uma saída negociada entre o Sindicato e a empresa para manter os empregos. Defendo que o poder público tem que acompanhar esse caso", comenta a deputada Dalva. A deputada Dalva Figueiredo solicitou no dia 07/11, informações ao BNDES sobre o contrato de empréstimo, o qual, segundo os trabalhadores, possui uma cláusula de responsabilidade social que garantiria a manutenção dos empregos durante o período de realização dos investimentos na fábrica. A parlamentar também está tentando marcar audiência com a Diretoria do Grupo Orsa em São Paulo para tratar do assunto.

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