sexta-feira, 5 de abril de 2013






Bárbara Costa Ribeiro

Aquilo que faz o melhor lugar do mundo
Dia desses, vagueando pela internet, me deparo com a seguinte história: uma loja australiana começou a cobrar 5 dólares (cerca de 10 reais) a todo cliente que entrar no estabelecimento e não comprar nada. Os famosos "estou só olhando". Lá na Austrália, um "showrooming"; aqui no Brasil, "caroço" (gíria de vendedor).
A dona da loja alega ter tomado a decisão porque já não podia arcar com o prejuízo de ver todos os clientes em potencial entrarem, tomarem dicas com ela, pesquisarem produtos e irem comprá-los em outras lojas ou supermercados, mesmo não existindo diferença de preço em relação à sua empresa e as demais.
Sob a sombra desse curioso caso, tenho de admitir que vida de vendedor e de proprietário é mesmo de lascar. Aturam diariamente clientes mimados, indecisos, outros ainda grosseiros, pechinchadores extremados, estressados... De fato, lidar com o humano não é fácil. Sobretudo o humano com carteira. Mas, bem, minha simpatia pela classe lojista termina aqui.
Pode soar brusco, mas se trata de uma questão séria, pois minha lista de traumas desencadeados por eles é longa... Já desenvolvi até um padrão de comportamento angustiante ao me ver diante de atraentes vitrines, mas não conseguir entrar na loja por saber que, ao fazê-lo, a mocinha escorada no balcão virá até mim e dirá as palavras: "Tá procurando alguma coisa em especial?". E eu terei de dizer a triste verdade: "Não, obrigada, tô só olhando". E a moça se emburrará. E pensam que irá embora, resignada, liberada para atazanar um cliente mais acessível? Não! A moça ainda está ali, grudada ao meu calcanhar, enquanto dou uma olhadinha tímida e acuada às peças. Agora, imagina se a medida da australiana vira costume e chega ao Brasil... Minha lista de traumas passaria a ser compartilhada por muitos outros.
Entretanto, existe um lugar... Um único lugar, um paraíso na Terra, ao qual batizei "Pasárgada dos pobretões angustiados que estão 'só olhando'", onde os caroços odiados pelos vendedores podem ser felizes. Adivinhe que lugar é esse. Uma livraria, claro! Fico impressionada sempre que adentro qualquer uma delas... Ali, o capitalismo habilmente vestido de cultura e conhecimento não machuca. "Sessenta reais nessa edição de bolso incompleta? Opa, na hora!". Ali, você não tenta pechinchar. Ali, sabe que não precisa. Entende que, ao pagar uma fortuna por um livro, está fazendo feliz a um escritor que fará você duas vezes mais feliz. Não há ônus.
E o mais impressionante, o mais poético nesses estabelecimentos, ainda não é o preço astronômico que você paga sorrindo, como se fosse de fato um valor irrisório; não é o cheiro de papel novo, das capas ainda não amassadas, algumas ainda cobertas pelo plástico; nem mesmo contemplar as estantes repletas de conhecimento inestimável; ou ainda a satisfação condescendente de ver um Machado de Assis e um José Saramago lindamente ajustados na prateleira entre um Paulo Coelho e um Ricky Martin biográfico. Não, meus caros. O que há de mais estupendo, de mais delicioso numa livraria, são os vendedores.
Diferentes dos demais de sua classe, esses que trabalham com livros parecem ser donos de uma generosidade e compreensão sem fim. Experimente entrar e caminhar até eles, com sua cara de universitário esgrouviado, os olhos tristonhos, a escoliose charmosa, a mochila num ombro só. Eles logo compreendem a sua condição de falência estudantil. Pode entrar e ficar à vontade. Com eles, nada de perguntas: "O que tá procurando?". Na verdade, sorriem e não mais se dirigem a você até que os solicite. Não perseguem sua cauda, não se colam aos calcanhares, não farejam o seu pescoço. E a melhor parte dessa melhor parte é que os vendedores não se importam se você quiser ler os livros ali mesmo, de graça e o quanto quiser!

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