Caos no HE de Santana

Jonh Silva

Especial para o TA

Responsável pelo atendimento de milhares de pessoas diariamente, o Hospital Estadual de Santana (HE), parece viver um dos piores momentos de sua historia. Sendo o maior e mais importante órgão de atendimento na área de saúde do município, pacientes denunciam o caos que se instalou no local. As reclamações vão do péssimo atendimento, passando pela falta de medicamentos e superlotação.

Não é de hoje que essas denúncias vêem à tona tudo motivado pelo descaso com os serviços realizados no hospital. Há pelo menos dois meses a unidade esta sem ambulância necessária para a transferência de pacientes em estado grave até a capital. O serviço hoje é realizado por um veículo da rede municipal e outro do Corpo de Bombeiros.

Uma das situações mais graves tem atingido diretamente o setor de limpeza. A falta de pagamento do governo do Estado para a empresa Amapá Serviços estaria inviabilizando a boa prestação da limpeza. Em protesto aos atrasos salariais os trabalhadores decidiram cruzar os braços, uma forma de pressionar o Estado a honrar com o pagamento da empresa que ficou desde dezembro sem receber pelos serviços prestados. 

A situação caótica relatada por pacientes teria atingido, principalmente, o setor de atendimento pediátrico. Escalpe, mascaras para inalação e medicamentos estariam em falta. O péssimo atendimento prestado por médicos e enfermeiros seria outro alvo de reclamações. A dona de casa Deuzarina dos Santos, 52, conta que levou a neta com suspeita de bronquite e precisou fazer aerossol, para a surpresa da idosa no local não havia a mascara para o atendimento. "Cheguei aqui e levei ao médico e ele receitou um remédio e em seguida disse pra fazer o aerossol, mas na hora não tinha aquela mascara. Meu enteado precisou comprar."

A situação mais grave atinge ainda o setor de pediatria. Pacientes denunciaram que o local não possui número de leitos suficientes e estão sendo obrigados a realizar a medicação de crianças em bancos que acabam se tornando camas. O Servidor Público Cleomar Vieira que precisou de atendimento para uma filha, disse que HE precisa urgentemente melhorar a administração. Ele considera um absurdo crianças serem atendidas ali em bancos de espera. "Vocês tão vendo qual é a realidade daqui. Fico indignado com, e é preciso que faça alguma coisa. O certo é que se continuar desse jeito, esse caos vai continuar a mata gente." 

O HE de Santana recebe todos os dias em média de 390 a 420 atendimentos. A população do município, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de aproximadamente 98 mil habitantes, juntamente com centenas de ribeirinhos que residem nas ilhas vizinhas do Estado do Pará, é essa população que procura a unidade, ocasionando a superlotação. Na intenção de melhorar a estrutura, esta sendo realizada a ampliação da HE. O novo prédio irá contar com dois pavimentos, salas de internações, maternidade e unidades de tratamento intensivo (UTI), porém a obras que teve um custo inicial de R$ 3 milhões esta paralisada. 

A previsão de inauguração por parte do Governo do Estado era o primeiro semestre de 2012, não ocorreu. O novo prédio vai desafogar os atendimentos do HE de Santana, hoje o excedente é encaminhado para o Hospital das Clinicas Alberto Lima (HCAL) e Maternidade Mãe Luzia, em Macapá. Com a ampliação da Unidade aumentará a capacidade de atendimento em mais 110 leitos, totalizando 220. As obras estão paradas e não há previsão da retomada dos serviços.

Justificativa

Na administração do HE há aproximadamente 15 dias, Ângelo Brito afirmou que já conseguiu mapear a realidade do local e pontuou os principais problemas que atingem a Unidade. Segundo ele, hoje, a maior dificuldade se refere ao quantitativo de atendimentos. Para ele a rede municipal deficiente, aliada a demanda de outros municípios vizinhos do Pará, contribui para o aumento na demanda de pacientes. 

Outra dificuldade encontrada se refere ao número de pessoal. Recentemente, o Governo do Estado, cancelou próximo de 33 contratos administrativos de Enfermeiros e Técnicos em Enfermagem existentes no HE. Esses técnicos supriam a demanda de atendimentos, de maneira tranquila. Foram contratados novamente apenas 22 servidores das mesmas áreas, o que seria insuficiente. Sobre a denúncia da suposta falta de medicamentos o administrador Ângelo Brito negou que este fato estaria ocorrendo. "Essa situação não. A farmácia do hospital esta bem servida e caso haja dúvidas é só nos acompanhar para verificar a situação. Logicamente, que este ou aquele paciente sempre vai querer há mais do que o médico receita e isso gera a reclamação mesmo."

Em relação à falta de máscaras para aerossol Ângelo Brito afirmou que talvez por falta de orientação e controle dos profissionais de saúde, os pacientes estavam levando para casa o equipamento, e que isso seria errado já que após desinfecção, os aparelhos podem ser usados em outro paciente.

Medidas

O presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), Gilmar Santiago, disse que já tem conhecimento da situação em que se encontra o HE e que estará reunindo com os membros do Conselho para definir uma data de visita no local. Segundo ele, as denúncias são graves e precisam ser apuradas. Ele tem a expectativa que com a mudança de direção, os atendimentos e serviços possam ser melhorados, caso contrário ele não descarta a possibilidade de oferecer denúncia junto ao Ministério Público Estadual (MPE). "Estamos acompanhando de perto tudo que esta acontecendo no Hospital Estadual. Até mesmo falta de suporte para soros, de escalpe já soubemos que existe. Vamos aguardar mais um pouco, pois houve a mudança de direção. Porém, provavelmente na semana que vem deveremos realizar uma inspeção no local. Caso se confirme todas essas mazelas vamos sim procurar os órgãos fiscalizatórios".