Ética
na cidade
Autor:
José Alberto Tostes
Este
tema foi escolhido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo para o Seminário
que será realizado nos dias 22 e 25 de abril de 2013, durante a realização do
SOS Cidades em Macapá. O objeto deste título visa acima de tudo possibilitar um
amplo debate sobre outros subtemas: a questão ética; população e os direitos e obrigações sobre o
uso e ocupação do solo urbano; legislação urbana ambiental; projetos públicos e
privados, e por fim, atuação profissional na área de arquitetura e urbanismo.
É
importante discutir sobre que parâmetros a questão ética permeia as ações
individuais e coletivas nas questões estratégicas da cidade, são inúmeros os
problemas graves que afetam a qualidade de vida urbana, existem enormes
dificuldades para fazer valer o cumprimento das leis existentes, acarretam múltiplos transtornos
para toda a sociedade. Na prática, discutir a ética enquanto principio moral, é
algo distante dos segmentos públicos, privados e institucionais. Este problema
é generalizado, atinge de diversas formas: o descumprimento de regras básicas
de mobilidade; acessibilidade; obstrução do passeio público; construção de
fossas nas calçadas; alteração de projetos; construções clandestinas; invasões;
irregularidades no sistema de coletiva de lixo são alguns temas mais frequentes
que afetam à cidade na totalidade.
Existem questões macros que afetam a qualidade de vida não somente urbana,
mas institucional como: desvio de verbas públicas; mau uso dos recursos
públicos; obras com má qualidade de execução; capital humano sem formação
adequada; formação de grupos com interesses coloquiais; formação de cartéis;
sucateamento das instituições públicas e a completa falta de recursos
tecnológicos. Tais problemas estão diretamente vinculados aos preceitos éticos,
isso tem um preço impagável por toda a sociedade, a desestruturação da
estrutura urbana da cidade.
Este
cenário vem provocando uma “avalanche” de outros entraves: a burocratização pragmática
das esferas públicas, que somente se manifesta de acordo com os interesses
momentâneos e ocasionais, tal fato, evidencia que nos últimos 30 anos, diversos
gestores municipais mal conseguiram administrar os problemas puramente
cotidianos. Os projetos arrojados, audaciosos, geradores de emprego e renda, ficaram
em segundo plano. A ética tem sido deixada de lado, existe quem afirme
inclusive um velho chavão popular: “rouba, mas faz”, como se roubar realizando
alguma coisa, fosse algo digno. Estamos vivendo uma crise de valores éticos e
morais, não importa quais os meios que são utilizados para se chegar a algum
resultado, com tanto que se chegue aos resultados pretendidos, mesmo que seja
de forma maliciosa ou tendenciosa.
Muitos teóricos da Sociologia, Filosofia, Ciência Política, e até mesmo
de setores mais tecnicistas vem destacando as diferentes interações sociais
motivadas pelo advento da globalização e pelos mecanismos tecnológicos, boa
parte destaca a velocidade com que as informações são tratadas e manipuladas a
favor, ou contra alguém, vive-se um tempo de sensacionalismo extremo, o que
importa é o resultado. A cidade é o lugar para se viver em comum, em
comunidade, mas contraditoriamente o que se percebe, são múltiplas
contradições, organizações sociais servientes, conselhos municipais e estaduais
comprometidos e representações políticas viciadas.
No
começo dos anos 70 do século XX, outros teóricos conhecidos como Castells,
Harvey e Levrebve defendiam o direito à cidade como algo fundamental e
pertinente em função dos valores defendidos pelo capital especulativo e pelas
grandes multinacionais. E importante
pensar que isso tem contaminado a sociedade, nossas representações também estão
comprometidas, como um gestor eleito com recursos do capital privado de uma
grande empresa, será capaz de tomar decisões no futuro que irá prejudicar esta
mesma empresa. O modelo de financiamento de campanhas políticas só acelera para
jogar a ética no lixo.
Este
sentimento que afeta a cidade na sua totalidade precisa ser debatido, porque é
tão complicado cumprir a lei? Recolher o lixo adequadamente? Respeitar o
trânsito? Não dirigir embriagado? São diversos fatores que afetam a vida na
cidade. Como pedir para a população não denunciar o criminoso, se não há nenhum
tipo de proteção preventiva. A população foi acostumada e se acostumou a achar
que o dever é só cobrar e pedir, setores organizados da sociedade não conseguem
apresentar propostas para pensar a cidade. Isso é uma crise ética? Na
realidade, são valores que precisam ser resgatados em diferentes lugares: nas
escolas, no trabalho, nas universidades, nos órgãos públicos e por toda a
sociedade.
A
ética na cidade precisa ser idealizada a partir da família, da rua, do bairro,
da cidade, do município, do estado, da ideia de nação. Pensar em algo deste
tipo redimensiona a ideia de viver em comunidade. Somos transgressores de nosso
próprio espaço, estamos vivendo sob a síndrome da desconfiança e do medo.
Vive-se um território de grupos, não importa a natureza destes grupos, os
objetivos propostos serão alcançados, independente de quais meios utilizados. É
preciso discutir a urgentemente a ética na cidade.
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