sexta-feira, 5 de abril de 2013






Ética na cidade
Autor: José Alberto Tostes


            Este tema foi escolhido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo para o Seminário que será realizado nos dias 22 e 25 de abril de 2013, durante a realização do SOS Cidades em Macapá. O objeto deste título visa acima de tudo possibilitar um amplo debate sobre outros subtemas: a questão ética;  população e os direitos e obrigações sobre o uso e ocupação do solo urbano; legislação urbana ambiental; projetos públicos e privados, e por fim, atuação profissional na área de arquitetura e urbanismo.
           É importante discutir sobre que parâmetros a questão ética permeia as ações individuais e coletivas nas questões estratégicas da cidade, são inúmeros os problemas graves que afetam a qualidade de vida urbana, existem enormes dificuldades para fazer valer o cumprimento das leis  existentes, acarretam múltiplos transtornos para toda a sociedade. Na prática, discutir a ética enquanto principio moral, é algo distante dos segmentos públicos, privados e institucionais. Este problema é generalizado, atinge de diversas formas: o descumprimento de regras básicas de mobilidade; acessibilidade; obstrução do passeio público; construção de fossas nas calçadas; alteração de projetos; construções clandestinas; invasões; irregularidades no sistema de coletiva de lixo são alguns temas mais frequentes que afetam à cidade na totalidade.
           Existem questões macros que afetam a qualidade de vida não somente urbana, mas institucional como: desvio de verbas públicas; mau uso dos recursos públicos; obras com má qualidade de execução; capital humano sem formação adequada; formação de grupos com interesses coloquiais; formação de cartéis; sucateamento das instituições públicas e a completa falta de recursos tecnológicos. Tais problemas estão diretamente vinculados aos preceitos éticos, isso tem um preço impagável por toda a sociedade, a desestruturação da estrutura urbana da cidade.
            Este cenário vem provocando uma “avalanche” de outros entraves: a burocratização pragmática das esferas públicas, que somente se manifesta de acordo com os interesses momentâneos e ocasionais, tal fato, evidencia que nos últimos 30 anos, diversos gestores municipais mal conseguiram administrar os problemas puramente cotidianos. Os projetos arrojados, audaciosos, geradores de emprego e renda, ficaram em segundo plano. A ética tem sido deixada de lado, existe quem afirme inclusive um velho chavão popular: “rouba, mas faz”, como se roubar realizando alguma coisa, fosse algo digno. Estamos vivendo uma crise de valores éticos e morais, não importa quais os meios que são utilizados para se chegar a algum resultado, com tanto que se chegue aos resultados pretendidos, mesmo que seja de forma maliciosa ou tendenciosa.
            Muitos teóricos da Sociologia, Filosofia, Ciência Política, e até mesmo de setores mais tecnicistas vem destacando as diferentes interações sociais motivadas pelo advento da globalização e pelos mecanismos tecnológicos, boa parte destaca a velocidade com que as informações são tratadas e manipuladas a favor, ou contra alguém, vive-se um tempo de sensacionalismo extremo, o que importa é o resultado. A cidade é o lugar para se viver em comum, em comunidade, mas contraditoriamente o que se percebe, são múltiplas contradições, organizações sociais servientes, conselhos municipais e estaduais comprometidos e representações políticas viciadas.
            No começo dos anos 70 do século XX, outros teóricos conhecidos como Castells, Harvey e Levrebve defendiam o direito à cidade como algo fundamental e pertinente em função dos valores defendidos pelo capital especulativo e pelas grandes multinacionais.  E importante pensar que isso tem contaminado a sociedade, nossas representações também estão comprometidas, como um gestor eleito com recursos do capital privado de uma grande empresa, será capaz de tomar decisões no futuro que irá prejudicar esta mesma empresa. O modelo de financiamento de campanhas políticas só acelera para jogar a ética no lixo.
            Este sentimento que afeta a cidade na sua totalidade precisa ser debatido, porque é tão complicado cumprir a lei? Recolher o lixo adequadamente? Respeitar o trânsito? Não dirigir embriagado? São diversos fatores que afetam a vida na cidade. Como pedir para a população não denunciar o criminoso, se não há nenhum tipo de proteção preventiva. A população foi acostumada e se acostumou a achar que o dever é só cobrar e pedir, setores organizados da sociedade não conseguem apresentar propostas para pensar a cidade. Isso é uma crise ética? Na realidade, são valores que precisam ser resgatados em diferentes lugares: nas escolas, no trabalho, nas universidades, nos órgãos públicos e por toda a sociedade.
            A ética na cidade precisa ser idealizada a partir da família, da rua, do bairro, da cidade, do município, do estado, da ideia de nação. Pensar em algo deste tipo redimensiona a ideia de viver em comunidade. Somos transgressores de nosso próprio espaço, estamos vivendo sob a síndrome da desconfiança e do medo. Vive-se um território de grupos, não importa a natureza destes grupos, os objetivos propostos serão alcançados, independente de quais meios utilizados. É preciso discutir a urgentemente a ética na cidade.             




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