Evandro Gama
Procurador da Fazenda Nacional
Especialista em Administração Pública
evandrocgama@bol.com.br
A verdade que não quer
calar sobre a saúde pública estadual
No último dia 10 de
abril, o Jornal A Gazeta trouxe uma matéria intitulada “Sistema comprado e não
utilizado pela Sesa poderia ter economizado R$ 13 milhões em compra de remédios”.
Na condição de ex-Secretário de Estado da Saúde, fui questionado sobre as
razões da contratação do sistema "Solução Integrada para Gestão de Compras
Públicas" da empresa Bionexo. O jornal teve acesso a um “Relatório de
Acompanhamento de Execução do Projeto Solução Integrada para Gestão de Compras
Públicas”, elaborado pela empresa Bionexo, no qual demonstra à Secretaria de
Estado da Saúde - SESA o quanto deixou de economizar ao não realizar suas
compras públicas (pregão eletrônico) na plataforma do referido sistema, algo em
torno de 20% sobre o total de valores gastos na compra de medicamentos. Segundo
a matéria, a SESA empenhou R$ 63,7 milhões para compra de medicamentos em 2012,
o que poderia ter gerado uma economia para os cofres públicos de R$ 13 milhões.
Quando assumimos a SESA em janeiro de 2011 nos deparamos
com uma instituição totalmente desorganizada do ponto de vista organizacional,
com servidores desestimulados e baixa qualificação especializada na área de
compras públicas. Além disso, a SESA ainda vivia na "era da pedra
lascada", sem qualquer sistema informatizado que pudesse dar agilidade às
compras de medicamentos e equipamentos hospitalares. Percebemos que sem
investimentos em tecnologia não teríamos como superar a constante e crônica
falta de medicamentos nas farmácias dos hospitais e a dificuldade para
instruirmos e concluirmos os processos licitatórios.
Nesse contexto, decidimos procurar ferramentas tecnológicas que pudessem
auxiliar na solução desses problemas. Foi quando encontramos a "Solução
Integrada para Gestão de Compras Públicas" da empresa Bionexo, naquele
momento histórico em fase de instalação nas Secretarias de Saúde de Mato Grosso
e Maranhão, com posterior instalação no Estado de Goiás e Distrito Federal.
Entretanto, o que mais chamou atenção é que todos os grandes e renomados
hospitais privados do país (como Albert Einstein e Sírio Libanês, em São Paulo)
e grandes redes de hospitais como a rede São Camilo - inclusive aqui no Amapá –
e UNIMED já usavam essa solução eletrônica de gestão e compras da empresa
Bionexo, o que, por si só, já demonstrava sua eficiência, uma vez que as
empresas privadas não costumam jogar dinheiro no lixo.
Ao pesquisarmos (ver www.bionexo.com.br),
verificamos que a "Solução Integrada para Gestão de Compras Públicas"
é uma solução eletrônica de gestão de compras hospitalares, onde a instituição
pública tem acesso on-line a todos os seus fornecedores em todo o país:
indústria farmacêutica, distribuidoras de materiais médicos e medicamentos e
empresas das mais variadas categorias de produtos. Trata-se de uma comunidade
de mais de 5.000 fornecedores especializados na área da saúde, que cresce a
todo momento com a entrada de novos fornecedores, gerando maior competitividade
e resultando melhor possibilidade de redução de preços.
Outra vantagem dessa solução eletrônica de compras é que todas as
transações ficam automaticamente registradas e a instituição pública pode a
qualquer momento realizar consultas de preços, de produtos, quantidades cotadas
e compradas, etc. Além disso, são disponibilizados também uma infinidade de
relatórios gerenciais, auxiliando os profissionais envolvidos nos processos
licitatórios a tomar a melhor decisão no momento da compra.
Outra grande vantagem dessa solução eletrônica, que ajuda muito os
profissionais que atuam nos processos licitatórios, é que a solução Bionexo é a
única que disponibiliza o status da
documentação sanitária e legal de todos os fornecedores cadastrados na
plataforma, possibilitando que a instituição pública tenha mais qualidade e
confiança na escolha de seus parceiros comerciais.
Em 2011, ao contratarmos a "Solução Integrada para Gestão de Compras
Públicas" da empresa Bionexo tínhamos como objetivo: 1) tornar as
licitações da SESA mais rápidas e competitivas, uma vez que o sistema conta com
mais de 5.000 fornecedores especializados na área da saúde; 2) economizar
recursos públicos principalmente na compra de medicamentos, cuja meta para 2011
era economizar de 20% a 30% com a utilização do sistema da Bionexo, algo em
torno de 7 a 9,9 milhões de reais em relação a 2010, quando foram gastos algo
em torno de 33 milhões de reais somente com medicamentos; 3) ter a garantia de
empresas idôneas e com toda a documentação exigida pela legislação na área da
saúde, para evitar empresas que não entregam os produtos e serviços licitados;
4) acabar com a "mendicância" do setor de cotação de preços da SESA,
que ficava implorando às empresas o envio de propostas que pudessem subsidiar o
processo licitatório, com grande perda de tempo; e 5) total transparência nas
compras da SESA, com a emissão de relatórios gerenciais de toda ordem e cujas
informações poderiam ficar disponíveis na internet para consulta dos cidadãos.
Quando deixamos o cargo de Secretário da Saúde, essa solução tecnológica
estava em fase de implantação. Agora, o relatório da empresa Bionexo, que o
Jornal A Gazeta teve acesso, deixa claro que a SESA não está utilizando essa
ferramenta tecnológica, causando prejuízo aos cofres públicos e aos cidadãos,
que continuam sem medicamentos.
Se prevalecesse na SESA o princípio da continuidade
administrativa e uma gestão profissionalizada e de resultados, o atual
Presidente da Comissão Permanente de Licitação - CPL da SESA, Sr. Alexandre
Portilho, não tentaria justificar o injustificável, como o fez.
Todas as justificativas elencadas pelo Presidente da CPL da
SESA na citada matéria restaram ultrapassadas no momento em que a SESA tomou a
decisão de adquirir a ferramenta tecnológica, por meio de processo devidamente
fundamentado e com controle de legalidade pela Procuradoria-Geral do Estado.
Não recebemos com surpresa as resistências à utilização do
sistema Bionexo. A própria empresa informou que, quando começou a oferecer essa
solução eletrônica para os hospitais privados, os funcionários dos setores de
compras desses hospitais resistiram o que puderam, em razão da normal
resistência ao novo e, principalmente, em razão dos acordos inconfessáveis que
possuiam com alguns fornecedores.
A grande verdade que não quer calar é que o Presidente da CPL
da SESA não diz ao povo amapaense que o sistema Bionexo está funcionando com
eficiência nos grandes e renomados hospitais privados do país e nas Secretarias
de Estado da Saúde de Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Distrito Federal,
ajudando-os a superar a falta de medicamentos nos hospitais e economizando
milhões de reais de recursos públicos.
A pergunta que não quer calar: Por que só no Governo do
Estado do Amapá é que o sistema encontra tanta dificuldade para ser utilizado?
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