No mundo globalizado, o conhecimento multicultural é uma ferramenta muito importante. Saber inglês, espanhol, francês, seja qual for a língua, é importante para o desenvolvimento individual e social, porque não a LIBRAS? Atualmente a sociedade é pouco preparada para atender as diversidades e só quem convive com a dificuldade de viver uma vida sem obstáculos na comunicação que sabe seu verdadeiro valor
Thaís Pucci
Da Reportagem
A Língua Brasileira de Sinais,LIBRAS, é a língua gestual usada por mais de 5 milhões de surdos brasileiros e teve sua origem na língua de sinais francesa. Na terça-feira, 23, é comemorado o dia nacional de educação de surdos, e a LIBRAS tem grande responsabilidade na inclusão dos deficientes auditivos a educação e a interação interpessoal.
A LIBRAS foi incluída como disciplina curricular, e seu uso e difusão, definidos através do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro 2005 (regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000). Ficou assim garantido através da lei, o direito ao acesso das pessoas surdas ou com deficiência auditiva à educação, a fim de propagar a inclusão social e a língua própria do surdo. A lei prevê obrigatoriedade do ensino de LIBRAS em todos os cursos de licenciatura e fonoaudiologia do país, além do apoio ao uso e difusão da LIBRAS pelas empresas que detêm a concessão ou permissão de serviços públicos.
As linguagens de sinais não são universais, e cada país possui sua própria linguagem, que sofre influencias da cultura local.Portanto, deve-se ter atenção às suas variações em cada país . A comunicação dos surdos possui uma estrutura gramaátical própria, e além de ser viva e autônoma, não é mera mímica ou gestos usuais. Na década de 60 ela foi estudada e analisada, passando a ocupar um status de língua, reconhecida atualmente pela lingüística.
A LIBRAS, como as outras línguas de sinais, não tem um sistema de escrita largamente adotado, embora existam algumas propostas, como a SignWriting, que estão sendo usadas em algumas escolas e publicações. Na falta de uma escrita própria, a LIBRAS tem sido transcrita usando palavras em português que correspondam ao significado dos sinais. Para designar que a palavra em português indica um sinal, é grafada convencionalmente em letras maiúsculas e os verbos são usados no infinitivo.
Segundo censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 9,7 milhões de brasileiros possuía algum tipo de deficiência auditiva, o que representa 5,1% da população do país. Deste total, cerca de 2 milhões possuíam deficiência auditiva severa, 1, 7 milhões tinham grande dificuldade de ouvir e 344,2 mil eram surdas. No que se refere à idade, cerca de 1 milhão de deficientes auditivos são crianças e jovens de até 19 anos.
Ainda de acordo com o IBGE, sobre 2010, no Amapá eram 830 surdos, 4.829 pessoas com grande dificuldade de ouvir e mais de 22 mil com alguma dificuldade auditiva.
A criança surda pode desenvolver-se normalmente, de maneira integral e sadia como qualquer outra, precisando desenvolver um canal de comunicação com o mundo que a cerca. O processo de aquisição da linguagem por ela acontece de forma semelhante em diferentes línguas e não depende da modalidade de língua que estão expostas: auditivo-oral ou visuespacial.
Para os surdos, a sua primeira língua ou língua natural (materna) é a língua de sinais, no nosso caso a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A partir da aprendizagem da segunda língua, o português, em sua modalidade escrita, caracteriza-se a abordagem bilíngue. Para que a criança surda aprenda a segunda língua é necessário que ela tenha a primeira língua consolidada, adquirida. Somente a partir daí, a escola pode planejar o processo de ensino-aprendizagem e intervenções para uma nova língua, no caso, a língua portuguesa.
A família também é muito importante neste processo. Além de fundamental no desenvolvimento de toda criança, é a garantia de comunicação e de respeito à característica própria das crianças surdas que favorecem o fortalecimento dos laços afetivos, sociais, emocionais, enfim, o fortalecimento do vínculo familiar. E, para as famílias, aprender uma língua nova pode ser um processo interessante e prazeroso, ainda mais se isso garantir a inclusão de seu filho, não só no ambiente caseiro, como em todos os outros.
Já na fase adulta, as dificuldades são comumente sentidas no mercado de trabalho.Muitos surdos ainda sofrem preconceito e necessitam utilizar as cotas para deficientes para conseguir seu lugar ao sol. Os incentivos à dedução fiscal, na contratação de pessoas com deficiência, abriram muitas portas, mas não basta ter um emprego, é preciso se comunicar. "Devido à falta de profissionais que saibam se comunicar utilizando a LIBRAS, muitos surdos acabam ficando excluídos na empresa ou trabalham em posições onde a comunicação é restrita, como a área de limpeza, estoque e embalagem" contouJohnyelly Ladislau, de apenas 26 anos eintérprete de LIBRAS há 2 anos.
Ela contou que aprofissão de intérprete e tradutora só foi reconhecida em 2010, e ainda é complicado encontrar profissionais capacitados na área, pois poucos se interessam em trabalhar com pessoas com algum tipo de deficiência. Sancionada há menos de 3 anos, a lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, que regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, ainda não fez com que a importância de saber LIBRAS fosse difundida a sociedade.
As pessoas que realizam algum trabalho com deficientes, sejam auditivos ou com qualquer outro tipo de deficiência, acreditam na capacidade de aprendizagem e de viver em sociedade como cidadãos ativos e produtivos. A grande maioria vê a deficiência, aqui a surdez, como uma diversidade e não como uma deficiência. "É muito prazeroso realizar esse trabalho. Eles são pessoas muito esforçadas e dedicadas" concluiu ela.
Quem tiver interesse em fazer um curso de LIBRAS, deve procurar o CAS (Centro de Atendimento ao Surdo), na Avenida José Antônio Siqueira nº875, no bairro Jesus de Nazaré, local onde a intérprete realizou o seu curso.
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Comunicando-se corretamente com os surdos
-O surdo é alfabetizado em LIBRAS, portanto, não é analfabeto.
-Fale pausadamente e de maneira clara, pronunciando bem as palavras. Uma boa articulação dos lábios facilita a comunicação. Use sua velocidade e tom de voz normal.
-Não olhe para o outro lado ao conversar, mantenha o contato visual. Se você desviar o olhar a pessoa pode achar que a conversa terminou.
-A leitura labial se torna mais difícil se você gesticula muito ou tem qualquer objeto na frente dos lábios.
-Ambientes iluminados e boa visibilidade são importantes para um bom entendimento.
-Não é preciso gritar. Como surdo não pode perceber mudanças de tons e emoções através da voz, você deve ser expressivo. É através dos gestos e movimentos do corpo que essas indicações serão percebidas.
- Quando quiser falar com uma pessoa surda e ela não estiver prestando atenção, acene ou toque, levemente, seu braço.
- Quando a pessoa surda estiver acompanhada de um intérprete, dirija-se à pessoa surda, não ao intérprete.
-Se não entender o que a pessoa surda está falando, não tenha vergonha em perguntar novamente. Se for preciso, peça para ela escrever. O mais importante é que exista a comunicação.
-Se souber alguma língua de sinais, tente usá-la. Se a pessoa surda tiver dificuldades em entender, avisará. De modo geral, suas tentativas serão apreciadas e estimuladas.
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