sexta-feira, 5 de abril de 2013

Cultura - O até logo do Seu Chico



O personagem principal do Bar Caboclo se despede dos palcos amapaenses e o ator Alcemy Araújo quer novos voos pelo país

Fabiana Figueiredo
fabianafb.ap@hotmail.com

O teatro amapaense está se despedindo e dando o impulso para o resto do Brasil a um de seus atores que colaborou e trabalhou durante 17 anos nos palcos deste Estado. É o ator Alcemy de Araújo Ferreira, 41 anos, 21 anos de carreira, 1,65m de amor ao teatro, paraibano, alegre e risonho, dá seu adeus ao personagem que lhe rendeu o maior sucesso por onde passou: o Seu Chico do espetáculo “O Bar Caboclo”, que é referência da área no Amapá.

O descobrimento
O palco não foi o primeiro lugar que Alcemy trabalhou; ele já foi atendente (ou telefonista) de bip’s, comuns na década de 1990, e se formou no curso de Guia de Excursão Nacional, mas nem chegou a atuar na área. Entretanto, ele afirma que o teatro lhe impressiona há muito tempo: “Eu sempre tive vontade, mas não tinha coragem”. A grande oportunidade de ingressar na carreira foi em 1992, quando Alcemy morava na cidade de João Pessoa-PB, e foi assistir a um espetáculo com seu pai no Teatro Paulo Pontes. “Meu pai era amigo de um diretor de teatro, encontramos com ele na fila, e na conversa, eles acabaram falando que eu queria muito fazer teatro. Por coincidência, lá na Fundação Espaço Cultural da Paraíba havia um curso de teatro, de formação de ator. Eu tinha 23 anos e foi minha primeira profissão com registro”.

O curso durou 6 meses, e “vimos sobre a história do teatro, aula de maquiagem, aula de efeitos, cenografia, atuação, produção; prendemos desde o início da montagem até o final que é a apresentação”. Alcemy comenta: “minha formação é Shakespeare, que não tem nada a ver com o que faço hoje que é essa comédia escrachada, como é n’O Bar Caboclo (risos)”.

A primeira atuação foi em uma produção infantil: “A Formiga Fofoqueira”. “Eu era stand by, se alguém faltasse, eu substituiria. Até que um dia faltou um dos atores e fui chamado pra fazer o Seu Confusolino, um velho dono de uma horta. O teatro estava lotado e eu nunca tinha atuado; deu aquele nervoso, mas deu tudo certo”.

O sucesso da atuação garantiu o convite para um espetáculo que tem mais de 20 anos, e também é sucesso na Paraíba, assim como o nosso Bar Caboclo: “Pastoril Profano”, baseado no folclore paraibano e em uma história real. “O pastoril virou febre, com teatro lotado, viramos temas de programas de televisão, jornais, rádios, trabalhos de faculdades, livros, entre outros”. Após um tempo, a equipe resolveu se dedicar à outro espetáculo, mas não deu certo e nem subiu aos palcos, pelo falecimento do diretor.

O Amapá
A mãe de Alcemy morava com a filha em Macapá, e ele veio fazer uma visita. Acabou ficando, e surgiu o convite de Cecília Lobo - na época, diretora d’O Bar Caboclo - em uma oficina de teatro para fazer o personagem Seu Chico. Convite aceito e a provocação de criar o personagem: o antigo Chico, o ator Miguel Nascimento, “era um negão de quase 1,90m, bem alto e magro. Era um desafio pelas diferenças e pelo espetáculo estar há 5 anos como um sucesso”. A primeira crítica de jornal foi ótima; “pra mim foi um elogio e tanto”, e o público adorou o novo Chico.

O Seu Chico e o Bar
Alcemy tinha um mês para montar o Seu Chico: de roupas velhas, parecidas com um português, com chapeuzinho, “ele é um personagem que existiu, era o seu Abraão, o verdadeiro dono do Bar Caboclo; precisei criar um personagem que fosse equilibrado, a parte fictícia - com as brincadeiras e presepadas que ele faz -, mas também tem a representação histórica”. Apesar do carinho pelo personagem, ele admite: “Ele é um pilantra, um malandrão”.

Com 22 anos de sucesso, o espetáculo do Bar Caboclo é referência no Estado. O sucesso é do Grupo Língua de Trapo, que também possui projetos dramáticos, sociais, infantis e intanto-juvenis. “O teatro amapaense começou a ser valorizado após o Bar Caboclo; o público não tinha e, de certa forma ainda não tem, o costume de ir ao teatro. Mas o Bar lota o teatro”.

Patrocínios
Alcemy comenta sobre o apoio dado para os espetáculos: “o que acontece muito aqui é a dependência do poder público, eles querem o apoio do governo, mas é um apoio quase que um sustento. O governo tem, sim, que fazer a parte dele, dando incentivo para os empresários patrocinarem”. Ele também relata que conseguiu montar a própia companhia “Teatro do Riso”, que realiza peças apenas com investimentos de empresas nacionais e estaduais.

A despedida do Seu Chico...
Perguntado se realmente está deixando o personagem Seu Chico, Alcemy confirma que sim. No mês passado, houve o primeiro adeus com a peça “O Bar Caboclo e os Cabuçus em a Despedida do Seu Chico”, com casa lotada; e, pelo menos, até o mês de maio o ator fará mais despedidas à pedidos do público, com “O Bar Caboclo”, “Os Cabuçus” e “Caçando Muié”, feita com o ator Luis Trindade; tem também as comédias “A Solterona” e “As Encalhadas”, de autoria do grupo Teatro do Riso e que também são sucesso de público com outros personagens de Alcemy. “Tenho muito carinho pelo Chico, me deu prêmio nacional, mas chega uma hora em que você quer crescer”.

... e do Alcemy
O ator voltará à Paraíba, para se dedicar a outros projetos. Um é de circulação nacional: “tenho a intenção de levar o nome do Amapá, mostrar um pouco da cultura, do que tem aqui, mostrar que aqui não tem só índio, não tem só mato, que aqui tem talentos bons e despertar um interesse nas pessoas de pelo menos vir conhecer”. Dos projetos novos, o ator está preparando o infanto-juvenil “EcoLógico” e o “Mudando de Hábito” que também é comédia. Alcemy também vai investir no drama. “Não quero ficar só na comédia, tive formação na área do teatro dramático, então quero fazer um pouquinho de drama”.

“Desde que cheguei, o público amapaense é o maior crítico, em quem eu acredito muito. O Bar Caboclo tem 22 anos, e o Chico tem 17, e desde o início todos os trabalhos que eu fiz tanto como Seu Chico, Dona Severina, Claudete, sempre tive esse apoio dos amapaenses, indo aos espetáculos, elogiando, esse carinho todo, lotando o teatro, isso não tem preço; então, eu devo muito esse sucesso à vocês, que foi o maior incentivo. Uma coisa que eu vou fazer como agradecimento é levar o nome desse Estado lá pra fora, não importa onde eu esteja”.

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