Apesar de vocês
A decisão da executiva do Partido dos Trabalhadores, reunida com apenas sete dos treze membros, decidiu que seus filiados não podem tecer comentários desabonadores a gestão do Partido Socialista Brasileiro (PSB), cuja coligação ganhou a eleição para o governo do Estado.
Essa união dos dois partidos não foi abençoada plenamente pelas lideranças petistas locais. Dalva Figueiredo, por exemplo, se mostrou contrária a união, porém com minoria na executiva do partido foi voto vencido. Hoje quem comanda o PT são figuras foscas, sem brilho e sem voto popular. Joel Banha, um parlamentar sem grandes projeções legislativas é uma figura fechada, de pouca fala e sem o traquejo no trato com as pessoas, habilidade indispensável na boa relação pública. Dora Nascimento, atual vice governadora do Amapá, uma militante com vistas voltadas aos espaços de poder granjeados pela sua posição, mas sem o topete para se impor como liderança política do maior partido político do Brasil e com o mais importante cargo deste País nas mãos. Presidência da República.
Ambos atiraram no que viram e acertaram no que não viram. Dalva estava certa na sua análise conjuntural. O PSB queria tão somente palanque para Capiberibe e Janete. Sabiam os socialistas que suas chances de acessar o Setentrião eram remotíssimas, diria impossível, mas uma operação da Polícia Federal realizada a véspera da eleição os colocou no páreo e o resultado é que vivenciamos. Uma catástrofe para o Amapá. A inexpressividade do grupo político de Joel e Dora está retratada na derrota de Joel para a Assembléia Estadual e de sua irmã, Izídia Banha para edilidade.
Agora de forma arbitrária e sem mais uma vez pensar no PT um fragmento majoritário da executiva toma essa decisão. Amordaçar os petistas, logo eles que foram forjados nas quentes lutas contra a ditadura. Um partido político com uma biografia construída pelo enfrentamento daqueles afeitos ao imperialismo capitalista. No Amapá petista tem de andar olhando para baixo e sem opinião. Os membros do maior partido brasileiro são proibidos de enxergar, de ouvir e de sentir. São "zumbis" que vagueiam sem olfato, paladar e tato. Mortos vivos. Aonde chegou o PT. Um partido político que a cada dia se acapacha subservientemente para atender a ambição deste casal pelo poder. Joel Banha, deputado derrotado nas urnas sonha com o Tribunal de Contas e, Dora Nascimento, imagina uma carreira no legislativo, pois com um partido que perde identidade e densidade eleitoral, fatalmente a cadeira de vice deve está na mesa de negociação do PSB para atrair parceiros mais interessantes.
Reage PT, nem a voz de um de seus maiores líderes José Dirceu que em plenária afirmou de forma categórica que Camilo Capiberibe não honra o que a palavra serviu para encorajar o risível PT amapaense de Dora e Joel e vice versa, tanto faz nesse caso a ordem não altera os fatores mesmo. Se prostram ao pé de Camilo e pedem desavergonhadamente pelo amor de Deus ao PSB para que continuem a comer as migalhas de poder que ainda lhes cai nos cacos de pratos que seguram as mãos tal qual mendigo a pedir pelo amor de Deus pela benevolência dos transeuntes.
Embora não seja filiado a partido político confesso que foi o PT e seus ideais que me levaram um dia as ruas para, vestido a caráter, de vermelho, pedir voto para a Dalva. Hoje, esse PT medíocre, submisso, sem voz, não me apetece. Estou com nojo deste PT do Amapá. Não sei classificá-lo, talvez não tenha competência para tal. Mas você militante histórico pode dizer ao Amapá que PT temos.
Chico Buarque de Holanda fez um hino à ditadura, mostrando que tudo passa e cantou assim:
Chico Buarque
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá
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