"Para ser feliz tem que querer, não adianta procurar a felicidade, ela passa toda hora a nossa frente, mas se você não quiser não a terá" -Samuel José Tobelém
Reinaldo Coelho
Da Reportagem
Nessa situação trágica da história da humanidade a família Tobelem chegava a Amazônia, fugindo da maior catástrofe da humanidade a era Hitlerista, o casal José Tobelem e Maey Alcolumbre Tobelem, comerciantes instalaram-se inicialmente em Belém (PA). Ali nasceria nosso pioneiro dessa semana, Samuel José Tobelém, no dia 2 de fevereiro de 1948 na Santa Casa de Misericórdia, em Belém do Pará. Samuel comporia com Davi, Abraão, Pérola, Sarha, e Elias mais uma família judia no norte do Brasil.
Ao casal José Tobelem e Maey Alcolumbre Tobelem, |
Para sua tranquilidade e de sua família, seu Zé Tobelem queria ir mais para dentro da Amazônia e aceitou a oferta de seu irmão Abraão Perez, que lhe cedeu um terreno denominado Padre Inácio, que fica entre os Rios Matapi e Vila Nova. "Era um recanto tranquilo e escondido. Cheguei neste local com dois anos de idade. Do outro lado é que era a Ilha de Santana, onde existia um Orfanato administrado pelos padres, onde eu comecei a estudar, porém não queria nada com as matérias. Desde os meus sete anos minha paixão era mexer nos motores do barco do meu pai".
Nessa localidade seu José Tobelem, passou a comprar látex e a borracha, assim como a produção agrícola dos ribeirinhos. "Íamos de motor de popa as localidades e fazíamos a compras, naquela época podíamos comprar couro de animais silvestres, assim como o látex e a borracha. Peixes, frutas e vendíamos em Santana.
Infância e a paixão
Sua infância, além dos estudos e das brincadeiras da idade, a vontade de ser dono do próprio negócio incentivava-o a continuar e trilhar a curiosidade pela mecânica de motores. "Com sete anos já puxava a correia do motor, e subia os rios comercializando junto com meus irmãos. Meu sonho era ser Engenheiro Mecânico".
A vontade paterna era que Samuel estudasse, porém aos 12 anos de idade vieram morar em Santana, mais precisamente na Vila Maia que estava começando a ser construída, hoje um dos marcos do município de Santana. "Devido a morte de um dos nossos irmãos, afogado, meus pais resolveram mudar para Vila Maia, onde fomos fundadores da Localidade. Ainda não existia a Vila Amazonas, antes Vila Odivia, que foi construída pelos americanos na época da Indústria e Comércio de Minérios S/A (ICOMI), onde foi montado mais um entreposto comercial dos Tobelem".
Um dos fundadores da Vila Maia, o senhor Francisco "Jacaré", Nobre esposo da Professora Gentila Anselmo Nobre, pioneira na Educação de Santana eram da época dos Tobelem. "Minha mãe praticava corte e costura e meu pai atuava com secos & molhados. Aos meus 14 anos passei a trabalhar na Estrada de Ferro da ICOMI, comprando a produção dos agricultores, que vinham no trem da empresa e aproveitavam para vender minhas cocadas e bolinhos que eu fazia para ajudar a pagar nossa roupa e material escolar".
Porém, a mecânica não saía da mente do jovem Samuel e teve como mentor e líder Chico Abrantes, chefe dos mecânicos da ICOMI e muito amigo dos pais do pioneiro. "Ele começou a me colocar para trabalhar nos primeiros meios de transportes entre Macapá e Santana que eram feitos por Kombi. O primeiro ônibus que teve nessa linha foi do Geroso".
Porém, do lado paterno o interesse era que Samuel estudasse, até que um dia durante o conserto de uma bicicleta, ele foi chamado pelo pai: "Deixa isso e procura estudar rapaz”, que aquilo não tinha futuro e que o resultado seria eu puxar carroça. “Olha aquele carroceiro é assim que tu vais ficar, não queres estudar". O Irmão Francisco responsável pelo orfanato, interviu e disse: "Zé deixa esse moleque de mão, quem vai consertar nossos motores quando eles quebrarem tem que ter um mecânico e pode ser ele".
A resposta foi colocar Samuel no avião e mandar para o Rio de Janeiro, junto com o irmão, foram-se três anos e nada de estudos, porém na mecânica era só sucesso. "Arranjei um emprego em uma empresa de mecânica e com 17 anos liderava os outros profissionais. Naquela ocasião outra decisão foi tomada, essa seria a última vez que seria empregado, e não deu outra coisa. A minha primeira oficina foi no Rio de Janeiro. Voltei para o Amapá com 19 anos e em seguida fui para Belém".
A empreitada na capital paraense não deu certo, aos 22 anos Samuel voltou para o Amapá, pois percebeu que aqui estava começando o progresso. "Tinha se instalado em Macapá a Chevrolet através da Sevel, revendedora da marca. Passei então a prestar serviço de mecânica na empresa. Botei na minha cabeça o que eu queria da minha vida e estou fazendo até hoje, na mecânica. Tanto que, disse que se tivesse 60 anos iria viver do que tinha e estou vivendo".
Paralelo ao serviço de mecânica, fui um dos primeiros motoristas de Praça de Macapá. Trabalhava na rua, e onde tivesse um carro com defeito, lá mesmo eu fazia o serviço. "Um dia o Gatão, me chamou e disse: "Procura um lugar para trabalhar, na rua não pode".
Casamento e família
Nesse vai e vem, chegou a mulher prometida em casamento para Samuel Tobelem, uma tradição judia, era sua prima, Julia Alcolumbre de 17 anos, que era cunhada do irmão mais velho. "Como não tinha a escolha de outros judeus para casar, acontecia entre parentes. Para manter a linhagem. Foram 14 anos de casamento de onde geraram cinco filhos e quatro netos".
Agora, mais do que nunca, Samuel tinha que dar duro para manter a família. E continuou na mecânica, em seguida montou uma loja de peças. "Comprei do Fernando, dono da Fábrica Amapaense que tinha fechado e ido embora para Portugal. Daí surgiu a maior Loja de Auto Peças de Macapá, a Josiel. Fui para esquina da Professor Tostes com a Padre Júlio, quando me divorciei a Julia montou a loja Shalom, que é um nome hebraico, que quer dizer PAZ, também de autopeças e criou os filhos com dignidade, tanto que todos me respeitam".
Durante toda a entrevista o Samuel Tobelem, se manteve alegre e irreverente, demonstrando uma paz interior contagiante, ele resume esse espírito pela linda família que tem e paz que reina no seio deles. São 63 anos no Amapá. "Agradeço a Deus pelo montão de pessoas que eu conheci, por nossa família ter uma raiz muito forte. A gente procura trabalhar numa linha onde ninguém se desrespeita . Minha porta fica aberta, não tenho grades nas portas e janelas. Meus filhos estão todos trabalhando e tocando seus negócios. Isso me envaidece, com todos e com a minha família".
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