sexta-feira, 10 de maio de 2013

Existe diferença entre preto, pardo e negro?


A divulgação, por parte da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), de notícia sobre a ausência de pessoas pretas nos cursos mais concorridos da Universidade de São Paulo (USP), alimentou uma polêmica sobre a forma mais correta de classificar a população pela cor ou raça. Com a bandeira de "politicamente correto" levantada, alguns defenderam que seria melhor utilizar os termos negros ou condescendestes. Mas é errado chamar alguém de preto?
O debate começou porque a Fuvest, responsável pela seleção dos alunos da USP, adotou o padrão de classificação do IBGE, que divide a população do País em cinco grupos: pretos, pardos, brancos, amarelos e indígenas.
A alegação é histórica: o primeiro Censo Demográfico do Brasil foi feito em 1872 e perguntava aos brasileiros em qual dos quatros grupos eles se enquadravam: preto, pardo, caboclo ou branco. Ao longo de mais de 140 anos, foram feitas algumas mudanças na nomenclatura, mas ainda não há consenso sobre a forma de classificar a população.
O dicionário Aurélio é claro: negro é o indivíduo de raça negra e cor preta. Já a definição para o pardo é o mulato, aquele que tem cor entre o amarelo e o castanho ou entre o preto e o branco. E o preto significa a cor da pele dos negros, a cor do ébano e do carvão. Os dicionários em geral escorregam quando também reservam uma segunda definição, pouco louvável, para qualquer uma das três opções. Para negro, há a associação que remete ao que é muito triste e fúnebre. Pardo é o "branco duvidoso, sujo, de cor pouco brilhante".  Preto também pode ser empregado a quem tem "a mais sombria de todas as cores". Por isso mesmo, não é toa que grande parte da população negra não se reconhece como tal. E, muitas vezes, tenta disfarçar o que a realidade não nega.
 Bruno Dallari, professor de linguística da PUC de São Paulo, discorda "A carga está na boca e na palavra de quem fala", diz ele "Preto, por exemplo, é parte da linguagem coloquial e muitas vezes não é pejorativo. Já a palavra negro, quase sempre está relacionada à raça. A palavra pardo é mais aceita, a que sofre menos rejeição pelo povo, é o estatus intermediário. Pretos e pardos não podem ser classificados do mesmo jeito porque, no das pessoas, não são os mesmos", afirma.
Já para José Luiz Petruccelli, Pesquisador do IBGE, que faz pesquisas sobre a diversidade racial há mais de 20 anos no IBGE, reconhece que a classificação pode ser aprimorada, embora defenda que o modelo segue uma série histórica e mudanças poderiam prejudicar a comparação dos dados. "Esse é um tema muti polêmico. Alguns defendem que deveríamos usar a classificação negro, mas o negro é uma identidade social. Leva em conta uma visão política, a identidade de um povo muito mais do que a cor da pele", defende.
O especialista diz não ser correto, para efeito de pesquisas, reunir pardos e pretos em um só grupo, de negros. Segundo ele, a discriminação contra os pretos é muito maior do que a verificada entre as pessoas que se autodeclaram pardas, e essa diferença precisa estar presente nos levantamentos demográficos. "Existe diferença no comportamento social entre pretos e pardos: quando mais escuro, mais discriminado", afirma.
Já a União de Negros pela Igualdade (Unegro), organização de movimentos sociais criada na Bahia e presente em 24 Estados, defende que o mais adequado é usar o termo negro, embora aceite as regras do IBGE. "Como não existe um critério científico para essa classificação, acordou-se em usar a nomenclatura do IBGE para pesquisas, que seria o mais próximo do viável", disse Alexandre Braga, diretor de comunicação da entidade.
Apesar de concordar que quanto mais escura a cor da pele, maior a discriminação, a Unegro acredita que o IBGE possa vir a usar apenas a classificação, negro no futuro. "As pessoas se identificam mais como negras do que como paradas", afirma Alexandre.
Nas pesquisas feitas pelo IBGE, é apresentada uma relação com cinco nomenclaturas utilizadas e as pessoas precisam indicar a qual cor pertencem. Segundo Petruccelli, cada pessoa tem a liberdade para dizer a sua classificação. Ele explica que pretos normalmente são as pessoas que se enxergam com a cor mais escura. Mas em relação aos pardos não há consenso. "Normalmente são as pessoas que se classificam como "morenas" ou "mulatas", mais isso depende da região", afirma.
O pesquisador diz ainda que nas regiões Sul e Sudeste, a população que se declara parda normalmente é de origem africana. Porém, no Norte, muitos pardos são, na verdade, descendentes de indígenas. Ele ainda conta uma história curiosa sobre a situação do Distrito Federal. "A população local, por mais branca que seja a sua pele, se classifica como parda porque vê os brancos como os funcionários públicos que vieram de fora".
Ainda de acordo com o Pesquisador do IBGE, a presença de pretos é menor no Brasil, por isso existe a tendência em reunir pardos e pretos em um grupo de negros. Ele diz que apenas as pesquisas o termo não se aplica, mas que na convivência social é válido agrupar as nomenclaturas. Para o representante da Unegro, ocorre também a resistência em assumir a cor preta e muitos preferem a ser incluídos na lista dos pardos. "A identidade do negro é muito maior, por isso defendemos a utilização desse termo", afirma.
Fica estabelecido, que ainda necessitamos avançar muito com relação a este tema. 

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