quinta-feira, 30 de maio de 2013


Receituário de sobrevivência à vida



Não se engane não, a vida não é fácil. Há, de fato, gente que tem uma porção de vida vazando pelos bolsos, mas não se dá conta. É gente que existe, sem ser. Só vive mesmo quem sabe sobreviver à vida (ela tantas vezes bandida!...). 
Apesar de serem poucos os que aprenderam a domá-la, a receita para o sucesso da experiência é relativamente simples. Enquanto se aprimora nos ensinamentos aqui contidos, guarde esta crônica, manual de sobrevivência, como se fosse o receituário do seu médico mais confiável. Depois dela, você já não precisará de quaisquer remédios - sua não vivência está prestes a ser sarada.
Quem sobrevive à vida não é aquele que sempre traz um Band-Aid no bolso, para o caso do sapato fazer calo, mas sim quem não tem medo de correr descalço, se o tamanco apertar. Sobrevive à vida quem agradece ao motorista do ônibus, mesmo não recebendo sequer um aceno em troca. Sobrevive à vida quem não mede seus adjetivos, quem os distribui sem parcimônia, gasta seu belo ou feio latim enquanto há tempo, enquanto há vida, enquanto há o que dizer. Sobrevive à vida quem se casa com suas paixões. Sobrevive à vida quem deseja como carreira os sonhos mais loucos... Sobrevivem à vida os que riem das próprias garfes, e usam óculos escuros à noite, sem medo, porque deu vontade. 
A vida é dos que suprimem algumas vírgulas e por que não? A vida é dos que fazem música e fazem filme e fazem espetáculo da própria vida. Mas a vida é também dos que choram. Dos que se molham de lágrimas de tudo. Dos que lamentam a maldade, lamentam de verdade, e também a violência, e a indiferença, e a crueldade... A vida é de quem pensa a respeito de si e do outro.
A vida não é de quem vive a novela - a vida é de quem reinventa, reformula, repensam os próprios dramas, não os da tela. A vida é feita para se aprender a nadar, a andar de bicicleta, a subir em árvore, a comer manga do pé. E só sobrevive à vida quem esfola o joelho, quem suja as mãos na tinta, quem mergulha os pés na lama. A vida é também feita de doces transgressões: comer meleca, roer a unha do pé, fazer xixi na piscina, cortar o próprio cabelo, espiar atrás da porta em que diz "apenas funcionários"... 

E sempre é tempo, enquanto há tempo, de se aprender a sobreviver à vida. Com loucura, com alegria. Sobreviver à vida é fazer limonada com o limão de agora. É pensar "como posso melhorar isso daqui?", se você, por exemplo, estiver preso no elevador com flatulentos suspeitos. Há sempre chance e sempre lugar de treinar a sobrevivência. E, depois de aprender, jogue fora todos os receituários, inclusive este, e vá. Mas que se deixar vivo, sobreviva com maestria. O deixar-se viver pode ser duro, mas pode ser bom. Comece a caminhada pensando no seguinte: a vida é daquele que não espera o feriado para se fizer feliz.

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