A
transfronteirização de estudos urbanos no eixo Macapá-Caiena
Autor: José Alberto Tostes
Este tema é parte de um
conjunto de temáticas para constituir um livro temporariamente denominado a transfronteirização Amapá-Guiana Francesa: uma
construção sub-regional no Platô das Guianas. A primeira aproximação sobre a
discussão dos estudos urbanos está relacionada a concepção sobre como Brasil e
França definem suas estratégias para o espaço urbano. No caso brasileiro,
existem uma série de regras que historicamente foram constituídas através dos
Planos institucionais e proposições de projetos, embora na teoria, seja algo
interessante na prática, configura-se uma fragmentação das ações, pois se
desconsidera muitas vezes a integração com os municípios e com a participação
que cabe aos governos dos estados.
Na França a concepção de
planejamento urbano rendeu profundas contribuições durante o urbanismo moderno
através de Le Corbusier, considera-se a visão mais pragmática de planejar, as
regras são mais claras, tem metas definidas e ações mais encadeadas na forma de
pensar o desenvolvimento físico das cidades e das áreas com Departamento
Ultramarino, como é o caso da Guiana Francesa através da sede em Caiena. Os
franceses têm dado contribuições expressivas para compreender a natureza
sistêmica de ter uma metodologia sobre o uso do solo urbano.
Deve-se ressaltar que no caso
brasileiro, durante décadas, tentou-se através da visão tecnocrática e com
suporte inteiramente físico a implementação de diversos planos, na essência
consideravam apenas questões de base morfológica. No Brasil, esta experiência
teve nos governos militares a grande expressão, a partir dos anos 90, criou-se
no Congresso Nacional a Comissão de estudos para programar o Estatuto da
Cidade, após 11 anos de intensa discussão. Os significativos são os avanços, muito embora o
Estatuto da Cidade não contemple a diversidade de um país como o Brasil. O
Estatuto é uma grande contribuição para estabelecer parâmetros sustentáveis para
todas as cidades brasileiras.
O Estatuto da Cidade na prática é um
documento para as metrópoles, desconsidera a realidade territorial brasileira,
inclusive de cidades na faixa de fronteira, fronteira internacional e tantos
outros. O próprio Estatuto merecia alguns ajustes visando atender a realidade e
o contexto provocado pela dinâmica social. Para os europeus, o Estatuto criado
no Brasil é como uma carteira de identidade para as cidades. No caso
francês-guianense, as políticas de desenvolvimento de Estado estão atreladas as
políticas propostas pela União Europeia, inclusive com o condicionamento das
linhas de financiamento que são rigorosamente definidas e com o cumprimento dos
prazos.
O ideal seria um modelo hibrido considerando
a melhor proposta de cada um dos lados para melhor avaliar a aplicabilidades
dos estudos sobre o espaço urbano. A concepção da União Europeia leva em conta
as necessidades de investimento de médio e longo prazo, bem como a vinculação
efetiva das políticas territoriais. No Brasil, esta concepção está descrita em
dois capítulos da Constituição de 1988, reforçada pelo Estatuto da Cidade, e
tem nas esferas da União, dos estados e dos municípios a conjugação de
responsabilidades, o que deveria ser algo integrador, acaba resultando em
diversos entraves em função do modelo federativo, pois os municípios têm
somente 15% de toda a receita nacional, enquanto que a União e os estados ficam
85%.
Esta explicação evidencia como
alguns parâmetros para discutir a transfronteirização dos estudos urbanos entre
o Amapá e a Guiana Francesa estão diretamente relacionados a este processo que
insere as duas regiões e suas respectivas vinculações políticas institucionais.
Como efetivar uma cooperação efetiva de estudos integrados sobre as questões
urbanas que nos permita avaliar o que irá representar as cidades de Macapá no
Amapá e Caiena capital da Guiana Francesa? Os estudos produzidos nestes últimos
anos têm mostrado pontos importantes para serem avaliados de forma cautelosa
por ambos os lados.
Apesar de todo o aparato citado em
relação à ordem institucional estabelecida por ambos os países (Brasil e
França) Amapá e Guiana Francesa podem estabelecer pontos cruciais de avaliação
sobre a ocupação do uso do solo urbano. Para isso, é fundamental um aparato
categorial de análise sobre as questões metodológicas e teóricas que envolvem
aspectos como: gestão territorial, população, densidade demográfica,
infraestrutura urbana, transportes, mobilidade e acessibilidade urbana, entre
tantos outros critérios.
A transfronteirização dos estudos
urbanos entre as cidades de Macapá e Caiena poderá ser desenvolvida a partir da
necessidade de compreender de que forma com a abertura da ponte binacional irá
ocorrer um conjunto de transformações na paisagem de ambas as cidades. Dentre
este processo é natural que novas interações possam vir a ocorrer na paisagem,
além das perspectivas da chegada da rede
de fibra ótica que levará internet de melhor qualidade para todo o estado.
Todos
esses fatores também estão relacionados a forte possibilidade de uso do Porto
de Santana, pois pela localização geográfica, essas cidades estão próximas de
mercados importadores de bens primários e exportadores de manufaturados. Os
Portos da Guiana Francesa por não fornecerem condições para recebimento de
grandes navios cargueiros não tem condições de abastecer a população,
principalmente os da capital Caiena, onde está a maior concentração
populacional, isto vem sendo realizado em pequenos navios o que encarece muito
o preço final dos produtos.
O
porto de Santana oferece condições de recebimentos de navios de grande monta, e
com a conclusão da pavimentação da BR 156 e a inauguração da ponte binacional,
o que deverá ocorrer em breve, este município seria a solução para a cidade de
Caiena, bem como para toda a Guiana Francesa. Portanto, estudar o processo de
transfronteirização das questões urbanas entre o Amapá e a Guiana Francesa
implica na aproximação de uma série de instrumentos técnicos e políticos, mas
que fundamentalmente passam primeiramente pelo entendimento do significado e
interpretação de todas as cidades envolvidas no corredor transfronteiriço,
desvendando assim, quais as implicações para todas estas cidades em um futuro
próximo?
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