sexta-feira, 26 de julho de 2013

EM SILÊNCIO
Interrogações sobre possível envolvimento de corregedor com pistoleiro ficaram no ar



Quase um mês depois da prisão de José Hernandes Lopes Trindade, nada foi respondido sobre as gravações feitas pelo MP, com diálogo entre o assassino e o Corregedor-Geral da Polícia Civil


Três, dos cinco inquéritos contra o empresário José Hernandes Lopes Trindade, de 42 anos, foram conduzidos pela delegada Maria Valcilene, da Delegacia de Crimes Contra a Pessoa, Decipe. Ela conduziu grande parte das investigações contra Hernandes, desde fevereiro passado, que dizem ter descoberto o envolvimento dele em várias execuções. A delegada foi peça chave no andamento do caso que pode condenar o comerciante há anos de cadeia. Valcilene deu coletiva à imprensa logo após a prisão e explicou como o esquema funcionava.


Segundo ela, Hernandes liderava um grupo que levantava para ele, informações das futuras vítimas, geralmente envolvidas com assaltos. De posse dos detalhes, a abordagem era feita pelo próprio empresário, que executava os crimes de próprio punho. Ao menos seis pessoas teriam sido mortas nestas circunstâncias. Os dias da milícia começaram a ser contado a partir de um crime ocorrido dentro de um bar localizado no bairro Beirol, zona Sul da cidade. Lá, uma pessoa foi morta e outras duas ficaram feridas. A comparação de informações, de acordo com a delegada, levou até o empresário.


A prisão ocorreu no começo de julho. Hernandes estava em casa com a família quando a polícia chegou. Ele é dono de uma distribuidora de alimentos que fica no bairro Buritizal. Com ele, três suspeitos foram presos sob acusação de fornecer as informações que confirmavam a morte das vítimas. Seriam eles que chegavam a passar semanas seguindo os passos dos futuros executados. As opiniões se dividiram diante do caso. Insegura, parte da opinião pública se declarou a favor dos atos de Hernandes, no que foi considerado um fenômeno sociológico frente a impotência do Estado em dar proteção ao cidadão. Para muitos, a argumentação era de que “bandido bom é bandido morto”. Para a Lei, crime passível de punição de acordo com o Código Penal Brasileiro.
O caso seria mais um que o amapaense se acostumou a acompanhar nos últimos anos, se não fosse seus desfechos. O passar dos dias revelaram detalhes que envolveriam até mesmo o Procurador-Geral do Amapá, delegado Plínio Roriz. Gravações “vazadas” do Ministério Público mostraram diálogos entre Hernandes e Plínio, onde o empresário pedia que o procurador verificasse o motivo de uma intimação. A ligação foi feita no dia 8 de abril, as 8h48, pelo próprio corregedor. Ele confirma ter mantido conversa com a delegada que apurava as mortes, mas que tudo se tornava mais difícil, devido à falta de uma boa relação. A transcrição de outros diálogos identificam os códigos e gírias como referências a homicídios. O caso ganhou repercussão em parte da mídia e foi ignorado por outra.


Na Decipe, a delegada Maria Valcilene, chefe das investigações que levou à prisão de Hernandes e linha de frente na coletiva de imprensa que esclareceu o caso aos jornalistas resolveu calar sobre a gravação envolvendo o empresário e o corregedor. Ela até hoje prefere não falar sobre o assunto alegando que tudo corre em segredo de justiça. Quase um mês após a prisão de Hernandes e da divulgação das gravações, o que se tem dos órgãos de segurança é o silêncio. O indiciamento de Roriz, ao que tudo indica foi descartado pela delegada por falta de substancialidade das provas. O conteúdo dos diálogos gravados seria frágil para sustentar uma acusação de envolvimento do delegado corregedor com o empresário acusado de pistolagem. Roriz sustenta que a amizade com Hernandes era superficial por ele ser cliente da distribuidora, o que causa estranheza considerando o pedido feito pelo empresário sobre a intimação. O caso segue com Hernandes preso e sem qualquer outro fato que venha a causar euforia. A polícia se mantém calada parecendo esperar que os fatos caiam no esquecimento.

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