Evandro Gama
Procurador da Fazenda Nacional
Especialista em Administração Pública
evandrocgama@bol.com.br
As conseqüências do
atraso da transferência das terras da União para o Amapá
No artigo "Quatro prioridades para o Estado do Amapá",
publicado neste espaço, defendi que o Governo Estadual deveria eleger a saúde
como prioridade número um, depois a educação, a segurança e a criação de
empregos e renda.
No que diz respeito à
criação de empregos e renda, não é novidade para ninguém o enorme potencial das
atividades econômicas do setor primário para melhorar a qualidade de vida das
pessoas que vivem no meio rural e nos centros urbanos.
No caso do Amapá, temos
algumas atividades econômicas potenciais que podem ser desenvolvidas no nosso
setor primário: produção de frutas, produção de grãos (arroz, feijão, milho,
soja, etc.), mandiocultura, hortigranjeiros, pecuária de corte, avicultura,
suinocultura, apicultura, aquicultura silvicultura, extração sustentável de
madeira para a indústria madeireira e moveleira, coleta sustentável de resíduos
florestais para a produção de briquetes, extração sustentável de argila para
olarias e produção de cerâmicas, extração sustentável de produtos florestais
para a produção jóias e biojóias com motivos locais, turismo ecológico e rural
e plantio de grãos para a produção de ração animal, dentre outras atividades.
Cada atividade acima
elencada tem potencial para constituir ao seu redor uma cadeia produtiva com
agregação de valor, por meio do beneficiamento industrial e venda no mercado
local, nacional e estrangeiro.
Os resultados dessas
atividades beneficiariam a todos, em razão da redução do custo de vida no
Estado, da criação de empregos e renda, do aumento da demanda de serviços em
geral e da arrecadação de tributos.
Entretanto,
o Governo não tem recursos públicos suficientes para fazer os investimentos
necessários. Por isso, o seu papel fundamental é criar as condições necessárias
para que se forme no Estado um ambiente de negócios que dê segurança política,
jurídica e econômica aos agentes privados locais, nacionais e estrangeiros que
queiram investir no setor primário do Estado do Amapá.
Tratando-se
de atividades desenvolvidas no setor primário, a segurança quanto à propriedade
do imóvel rural é o primeiro requisito para o desenvolvimento de qualquer
atividade econômica. A falta dessa segurança jurídica causa insegurança no
investidor, que não se sente confortável para investir seus recursos
financeiros. Por outro lado, também inviabiliza o acesso aos créditos
bancários, uma vez que as instituições financeiras não aceitam o imóvel rural
como garantia do financiamento.
Mesmo
cientes da importância do setor primário para a criação de empregos e renda,
desde 2007 os governantes de plantão não tiveram a competência e o compromisso
de resolver de uma vez por todas a novela mexicana que se tornou a
transferência das terras da União para o Estado do Amapá.
Em
2007, quando iniciou o processo de regularização fundiária no Estado, foram
celebrados dois convênios com o Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento
Territorial do Amapá - IMAP. Um no valor de R$ 700.000,00 para
georreferenciamento das glebas e outro de R$ 3.106.179,00 para realizar o
georreferenciamento dos lotes dos agricultores. No ano de 2008 foi celebrado
outro convênio no valor de R$ 4.080.000,00, o qual foi devolvido por falta de
contrapartida do Governo do Estado.
Como
o IMAP se encontra inadimplente perante a União, em razão da execução incorreta
dos convênios celebrados, em 2011 a União resolveu dar uma nova chance ao Estado
e celebrou um novo convênio com a Secretaria de Planejamento do Amapá - SEPLAN
no valor de R$ 7.333.000,00, já tendo liberado mais de R$ 2.000.000,00. Mesmo
assim, até a presente data nenhum resultado concreto foi apresentado.
Enquanto
o IMAP servir de ”cabide de empregos" para cabos eleitorais que não
entendem nada de regularização fundiária todos nós continuaremos perdendo.
Nossos
quarenta mil posseiros ficam chupando o dedo e inseguros; os investidores não
confiam e continuamos importando praticamente tudo o que comemos e, pior, sem
empregos e renda.
Se
isso não bastasse, nossos municípios também não conseguem emitir títulos aos
munícipes - já que não possuem a propriedade da terra, não conseguem
financiamentos para construção de moradias e perdem emendas de programas
federais do Calha Norte, do Ministério das Cidades, do programa Minha Casa
Minha Vida, para água e esgoto, dentre outros.
Dinheiro
sempre teve, mas sempre faltou e continua faltando gestão competente e
compromissada, com foco em resultados.
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