Futebol Amapaense
Camilo
manda às favas
Thayana Espírito
Santo
Da Reportagem
Amapazão 2013 |
Amapazão 2009 |
O grupo de rock
nacional “Titãs”, surgido em São Paulo no ano de 1982, lançou a música ‘comida’
um dos seus maiores sucessos em 1987. A letra deste rock fazia crítica ao
sistema de opressão e da falta de opção do brasileiro, sedento por cultura, por
lazer e por arte. “A gente não quer só comida/ A gente quer comida/ Diversão e
arte...”.
Mesatenista Belissa Lisboa deixou o Amapá por falta de apoio |
John Macapá, atleta do UFC |
O amapaense não quer só
comida, quer diversão, futebol, para ser mais preciso. Pois é inegável a paixão
do povo brasileiro pelo esporte Bretão. Mas o governo socialista de Camilo
Capiberibe insiste em virar as costas para o desporto amapaense. Rifou a
secretaria de Desporto e Lazer primeiramente para os comunistas. Para lá foi um
advogado e agora virou moeda de troca com o PT e naquela pasta aterrissou um
dono de boate, Mário Brandão.
Numa conversa
telefônica com o presidente do Santos Futebol Clube, Luciano Marba a qual
presenciei, o dublê de secretário disse em alto e bom som, que o recurso
financeiro que ficou acertado do governo repassar aos clubes profissionais era
problema do governador, e que ele estava se lixando se haveria ou não
campeonato de futebol profissional no Amapá.
Em que pese a
Constituição Federal consagrar em seu artigo 217º, e seus incisos que entre as
muitas responsabilidades do Estado uma é fomentar o desporto o governador
Camilo deixa claro na sua indiferença com os esportes, amador e profissional
que não se importa com o lazer do povo que gosta de canalizar suas energias
para prática do esporte, seja ele de que natureza for.
Nossa reportagem foi
conversar com os presidentes dos clubes que disputam o Amapazão, é perceptível
a apreensão deles com relação às despesas que fizeram, contando com o dinheiro
prometido pelo governador Camilo Capiberibe.
ex-governador Waldez Goes bateu um bolão no seu governo |
Governador Camillo Capiberibe nada |
É consenso entre os
presidentes de clubes que estão disputando o Amapazão que o descaso do
governador Camilo para com a competição dar um “ar” ao campeonato profissional
de amadorismo, pois todos os clubes, com exceção do Santos Futebol Clube, estão
contando com a boa vontade dos atletas que estão em dificuldades para receber
salários e as premiações pelas conquistas dos jogos. O presidente do Ypiranga
Clube, Tupan Duarte, foi um dos que se diz mais prejudicado, pois disputou dois
campeonatos simultâneos: o Brasileiro da Série D e o Estadual. “A atitude do
governo estadual é negativa, pois para a modalidade progredir é vital que se
tenha incentivo, já que a folha de pagamento do Ypiranga gira em torno de R$
900 mil, mas até agora só foi repassado pelo governo do Estado o valor de R$ 100
mil para disputarmos a Série D do campeonato brasileiro, um repasse
insuficiente que não cobriu as despesas, pois a nossa dívida encontra-se em R$
300 mil”.
Quem imagina que o
descaso é só com o futebol está redondamente enganado. Belisa Lisboa,
mesatenista de ponta e ranqueada para a seleção brasileira mudou de Estado,
hoje mora em Santa Catarina e sua saída do Amapá se deu exatamente por não
sentir apoio necessário para que continuasse a desenvolver o esporte por parte
do governo do Amapá. Outros atletas de ponta das artes marciais, como John
Macapá, atleta do UFC também sentiu a ausência do Estado no momento em que
ascendeu no esporte e projetou o nome do Amapá no cenário mundial.
O que se vê por aqui é
um retrato inverso do restante do Brasil. O Estado; acreditem! Já foi chamado
de “celeiro de craques”, título merecido, pois daqui saíram grandes jogadores
para defender os maiores clubes brasileiros, mas hoje o futebol amapaense está
no fundo do poço. Quem não lembra de atletas como: Bira (ex-Internacional),
Aldo Espírito Santo (ex-Payssandu, Fluminense), Jason (Flamengo), Miranda
(Clube do Remo), Marcelino (Remo, EUA, México), Albano (Payssandu e Atlético
Mineiro), entre outros.
Com a falta de investimento
os clubes do Estado operam com orçamento financeiro limitadíssimo e isso não
permite que os dirigentes façam contratações de atletas de bom nível técnico.
Os elencos que são apresentados aos poucos torcedores que insistem em ir aos
jogos, são de baixa qualidade técnica o que reflete na qualidade duvidosa da
competição. E a comprovação desse momento sofrido do futebol amapaense são as
desastrosas participações dos nossos clubes nas competições nacionais, sempre
sendo desclassificados na primeira fase desses campeonatos, como foi o caso do
Ypiranga na Série “C” e do Oratório na Copa do Brasil.
É unanimidade entre os
desportistas amapaenses, imprensa e ex-atletas de que a redenção do futebol
está em dois fatores. Primeiro a participação efetiva dos governos estadual e
municipal com recursos permanentes para que o clube possa investir no elenco e
na sua infraestrutura e segundo a priorização das divisões de base desses
clubes.
Um passo a ser dado no
futebol do Amapá e a consciência de todos os atores envolvidos no esporte, de
forma direta e indireta, de que a profissionalização não só permite a inserção
de atletas do Amapá em grandes clubes, como aconteceu no passado, como pode ser
um dos vetores do incentivo ao turismo esportivo e consequentemente trazendo
dividendos econômicos para o Amapá.
Amapazão
2013
Os oito clubes do
futebol amapaense que estão disputando essa temporada, apresentam suas
administrações com características amadoras, pela carência e falta de
credibilidade do futebol amapaense.
Na fase do amadorismo a
maioria dos clubes chegaram a ter patrimônio construído com esforço de
torcedores e alguns dirigentes abnegados, e até mesmo com incondicional apoio
de governos passados, principalmente da época de Território. Dentre esses
desportistas citamos: Osmar Ribeiro, Alírio Rodrigues, Stephan Houat, Corintho
Silva, Haroldo Pinto, Elimar Borges, Raimundo Anaice, Waldir Carrera, Abdala
Houat, Odoval Moraes, Rodolfo Juarez, Humberto Santos, Milton Correa, gente que
tirava do bolso para servir o esporte.
Uma transição açodada
do amadorismo para o profissional levou os clubes, sem estrutura administrativa
que pudesse suportar as mudanças jurídicas que a nova modalidade esportiva
exigia, mergulharam em dívidas, sobretudo com o Instituto Nacional de Seguridade
Social – INSS. Nesse lapso temporal os clubes mais tradicionais perderam
patrimônio para saldar as dívidas, alguns inclusive com transações nada
transparentes, caso do Trem, que teria ficado sem sede social não fosse Waldez
Góes. Outro clube que perdeu a sede foi o Ypiranga Clube e só com apoio do
governo de Waldez conseguiu reconstruir uma sede. Torcedores do Leão Azul da Avenida
FAB têm reservas com as negociações que riscaram do mapa o patrimônio do Azulino
e do Amapá Clube.
Independente e Santana
foram grandes clubes que por má administração da era do profissionalismo,
perderam suas sedes. De 1990 para cá não se vislumbrou manutenção ou
crescimento das equipes tradicionais do futebol amapaense, quer seja no aspecto
performático ou patrimonial. O que se observa é um definhamento da musculatura
desses clubes e uma sucumbência patrimonial, que chega a tirar clubes como o
Amapá Clube das competições oficiais da Federação Amapaense de Futebol e
colocar o grande esporte Clube Macapá, o primeiro campeão do Copão da Amazônia
na condição de time pequeno.
Para não traçarmos uma
linha de desenvolvimento do futebol vertiginosa, o Santos Futebol Clube faz a
diferença e caminha na contra mão da história, graças ao espírito empreendedor
do Empresário Luciano Marba, que assumiu a administração do clube e desde então
vem fazendo investimento na infra-estrutura e nas divisões de base. Marba
implantou no Peixe da Amazônia um modelo de gestão profissionalizada. Montou um
departamento de futebol que dá esse tratamento ao time profissional, transformando
o Santos em um clube-empresa com o objetivo natural de buscar aferir uma
lucratividade que faça face às despesas do clube e gere lucro. Um dos caminhos
é a formação e a comercialização de atletas no mercado nacional e internacional.
Em recente competição disputada no Pará, na modalidade sub 20 o Santos foi
destaque e projetou o meio campista Willian Fazendinha na competição, inclusive
despertando o interesse de vários clubes por esse atleta.
Diante dessa triste
realidade, infelizmente os demais clubes que disputam o Amapazão não
conseguiram atingir o nível de estrutura patrimonial e gerencial do Santos, e
por isso continuam correndo atrás do patrocínio do Estado e se não vier, a
situação desses clubes que já é ruim, tende a piorar.
Incentivo
Este ano a negociação
para repasse dos recursos ao Amapazão, por motivos políticos entre o governador
Camilo Capiberibe e o Presidente da FAF, Roberto Góes, foram realizadas diretamente
entre os dirigentes, o chefe da Casa Civil e com o titular da secretaria de
Desporto e Lazer - Sedel, Mário Brandão, que anunciou o repasse de R$ 600 mil
aos clubes, valor que deve ser divido em partes iguais para os times
participantes da competição.
O espectro de que o
governo poderia não ajudar os clubes levou o Oratório e Cristal desistirem do
evento. O dirigente da Sociedade Esportiva e Recreativa São José, Rômulo
Simões, afirma que sua folha de pagamento gira em torna de R$ 200 mil. “É fato
que sem a participação do governo muitos clubes não teriam condições de
disputar o Amapazão. O valor repassado ainda não é o suficiente, mas alivia as
despesas e podemos honrar a nossa folha de pagamento. Com isso, poderemos inclusive
contratar novos jogadores”.
Yuri Pelaes |
Com referência ao
repasse do município de Macapá, o Coordenador Municipal de Desporto e Lazer,
Yuri Pelaes, declarou que o município já fechou o acordo com os dirigentes no
montante de R$ 100 mil. “Estamos trabalhando com todas as forças para fomentar
o esporte amapaense. Estive no Ministério dos Esportes logo que assumi a Coordenação
Municipal de Esporte e Lazer, para conseguir a liberação de emendas para
desporto de alto rendimento do Estado. Pois, temos valores garantidos para
trabalhar até o fim deste ano”.
O coordenador de
Desporto e Lazer do município, Yuri Pelaes se arriscou a palpitar sobre a
ausência de público no Campeonato Amapaense. Segundo ele, é o baixo nível
técnico dos jogos que não deve agradar ao torcedor, mas esqueceu de inserir em
seu ‘pálido’ comentário que a falta de infraestrutura do Glicério Marques é
outro fator que contribui para isso, além da minguada quantia financeira que a
prefeitura disponibiliza aos clubes.
Despesas
O secretário Mário Brandão
informou aos dirigentes do futebol amapaense, que o repasse do Estado estaria
disponível para os clubes a partir de 20 de julho, mas até o momento tudo não
passou de mais uma falácia de um governo que já habituou a não cumprir o que
anuncia. Enquanto o governo investe R$ 14 milhões na propaganda, não consegue
honrar R$ 600 mil com o futebol, enquanto isso os ‘pregos’ vão se enchendo de
despesas dos clubes que não têm como saldar as dívidas que o campeonato vai
originando.
Mesmo sem dinheiro em
caixa, os dirigentes fizeram suas despesas “por conta” e contrataram 46 jogadores
de outros Estados, despesas com hospedagem e alimentação, assim como a
logística. 99% dos clubes não têm Centros Técnicos para realizarem seus
treinamentos e dependem de outras entidades para isso.
De acordo com as
informações da diretoria dos oito clubes, serão gastos nos três meses do
campeonato R$ 1.985 milhão, ou seja, mais de três vezes o valor prometido pelo
governo do Estado. Caso seja dividido democraticamente, cada clube receberá R$
75 mil de cota. Veja a tabela:
Clubes
|
Jogadores de Fora
|
Despesas
|
São José
|
06
|
R$ 250 mil
|
Macapá
|
-
|
-
|
São
Paulo
|
03
|
R$ 110
mil
|
Santana
|
00
|
R$ 135
mil
|
Independente
|
05
|
R$ 150
mil
|
Santos
|
06
|
R$ 465
mil
|
Ypiranga
|
10
|
R$ 600
mil
|
Trem
|
14
|
R$ 240
|
De acordo com as
informações da secretaria geral da Federação Amapaense de Futebol (FAF), é
grande a oscilação da frequência do torcedor nos jogos do estadual. Este ano os
clubes que levaram maior número de torcedores ao estádio foram: Santos, São
José e Trem, mas nada se compara com os anos da gestão do ex-governador Waldez
Góes, que foram superiores em público e renda. Veja Tabela:
|
WALDEZ
|
|
Ano
|
Renda
|
Público
|
2008
|
308.354
|
71.763
|
2009
|
301.56
|
46.701
|
|
CAMILO
|
|
Ano
|
Renda
|
Público
|
2011
|
277.612,00
|
33.152
|
2012
|
167.905,00
|
28.946
|
ENQUETE
Roberto Foguetinho - “Não sou contra
a vinda de jogadores, mas que sejam de qualidade, é a matéria-prima (leia-se
craques) acabando, daí o nível baixo, recorde de passes errados e estádios
vazios. Os motivos são vários, porém, o mais grave é a falta das categorias de
base, os clubes não cumprem a missão de descobrir e preparar os craques para o
futuro. Só temos um clube fazendo isso, o Santos, isso pelo empreendedor que é
Luciano Marba. Eu o parabenizo pelo empenho, é uma luz no fim do túnel
melhorando o nosso futebol”.
Mário Sérgio – Tetra
Campeão do Copão da Amazônia: “Tínhamos uns times, muito bem formados, dirigentes que
vestiam a camisa do clube, sem interesses fora do futebol. Quando passou para o
profissional, nos primeiros anos foi bom, depois vem decaindo e hoje o futebol
amapaense está precisando de uma mexida total. Da Federação aos jogadores,
estão precisando de uma rebobinada geral, pois está muito complicada.
Precisamos reunir em um seminário todos os segmentos para rediscutir o futebol
amapaense”.
VICENTE VALDOMIRO (Vadoca) - Ex-Jogador de Futebol
“Faz muito tempo que não vou aos estádios assistir um jogo,
desde que os nossos governantes largaram o nosso futebol, e se tornou uma
bagunça, um futebol que já nos deu muitas alegrias, na minha época os governantes
incentivavam os clubes, as torcidas e investiam muito em propagandas e nos
clubes, os estádios ficavam lotados. Mas hoje dá tristeza ver os estádios
vazios”.
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