sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Futebol Amapaense
Camilo manda às favas


Thayana Espírito Santo
Da Reportagem



Amapazão 2013
Amapazão 2009




O grupo de rock nacional “Titãs”, surgido em São Paulo no ano de 1982, lançou a música ‘comida’ um dos seus maiores sucessos em 1987. A letra deste rock fazia crítica ao sistema de opressão e da falta de opção do brasileiro, sedento por cultura, por lazer e por arte. “A gente não quer só comida/ A gente quer comida/ Diversão e arte...”.

Mesatenista Belissa Lisboa deixou o Amapá por falta de apoio

 John Macapá, atleta do UFC 

O amapaense não quer só comida, quer diversão, futebol, para ser mais preciso. Pois é inegável a paixão do povo brasileiro pelo esporte Bretão. Mas o governo socialista de Camilo Capiberibe insiste em virar as costas para o desporto amapaense. Rifou a secretaria de Desporto e Lazer primeiramente para os comunistas. Para lá foi um advogado e agora virou moeda de troca com o PT e naquela pasta aterrissou um dono de boate, Mário Brandão.

Numa conversa telefônica com o presidente do Santos Futebol Clube, Luciano Marba a qual presenciei, o dublê de secretário disse em alto e bom som, que o recurso financeiro que ficou acertado do governo repassar aos clubes profissionais era problema do governador, e que ele estava se lixando se haveria ou não campeonato de futebol profissional no Amapá.

Em que pese a Constituição Federal consagrar em seu artigo 217º, e seus incisos que entre as muitas responsabilidades do Estado uma é fomentar o desporto o governador Camilo deixa claro na sua indiferença com os esportes, amador e profissional que não se importa com o lazer do povo que gosta de canalizar suas energias para prática do esporte, seja ele de que natureza for.

Nossa reportagem foi conversar com os presidentes dos clubes que disputam o Amapazão, é perceptível a apreensão deles com relação às despesas que fizeram, contando com o dinheiro prometido pelo governador Camilo Capiberibe.

ex-governador Waldez Goes bateu um bolão no seu governo


Governador Camillo Capiberibe nada

É consenso entre os presidentes de clubes que estão disputando o Amapazão que o descaso do governador Camilo para com a competição dar um “ar” ao campeonato profissional de amadorismo, pois todos os clubes, com exceção do Santos Futebol Clube, estão contando com a boa vontade dos atletas que estão em dificuldades para receber salários e as premiações pelas conquistas dos jogos. O presidente do Ypiranga Clube, Tupan Duarte, foi um dos que se diz mais prejudicado, pois disputou dois campeonatos simultâneos: o Brasileiro da Série D e o Estadual. “A atitude do governo estadual é negativa, pois para a modalidade progredir é vital que se tenha incentivo, já que a folha de pagamento do Ypiranga gira em torno de R$ 900 mil, mas até agora só foi repassado pelo governo do Estado o valor de R$ 100 mil para disputarmos a Série D do campeonato brasileiro, um repasse insuficiente que não cobriu as despesas, pois a nossa dívida encontra-se em R$ 300 mil”.


Quem imagina que o descaso é só com o futebol está redondamente enganado. Belisa Lisboa, mesatenista de ponta e ranqueada para a seleção brasileira mudou de Estado, hoje mora em Santa Catarina e sua saída do Amapá se deu exatamente por não sentir apoio necessário para que continuasse a desenvolver o esporte por parte do governo do Amapá. Outros atletas de ponta das artes marciais, como John Macapá, atleta do UFC também sentiu a ausência do Estado no momento em que ascendeu no esporte e projetou o nome do Amapá no cenário mundial.

O que se vê por aqui é um retrato inverso do restante do Brasil. O Estado; acreditem! Já foi chamado de “celeiro de craques”, título merecido, pois daqui saíram grandes jogadores para defender os maiores clubes brasileiros, mas hoje o futebol amapaense está no fundo do poço. Quem não lembra de atletas como: Bira (ex-Internacional), Aldo Espírito Santo (ex-Payssandu, Fluminense), Jason (Flamengo), Miranda (Clube do Remo), Marcelino (Remo, EUA, México), Albano (Payssandu e Atlético Mineiro), entre outros.
Com a falta de investimento os clubes do Estado operam com orçamento financeiro limitadíssimo e isso não permite que os dirigentes façam contratações de atletas de bom nível técnico. Os elencos que são apresentados aos poucos torcedores que insistem em ir aos jogos, são de baixa qualidade técnica o que reflete na qualidade duvidosa da competição. E a comprovação desse momento sofrido do futebol amapaense são as desastrosas participações dos nossos clubes nas competições nacionais, sempre sendo desclassificados na primeira fase desses campeonatos, como foi o caso do Ypiranga na Série “C” e do Oratório na Copa do Brasil.

É unanimidade entre os desportistas amapaenses, imprensa e ex-atletas de que a redenção do futebol está em dois fatores. Primeiro a participação efetiva dos governos estadual e municipal com recursos permanentes para que o clube possa investir no elenco e na sua infraestrutura e segundo a priorização das divisões de base desses clubes.
Um passo a ser dado no futebol do Amapá e a consciência de todos os atores envolvidos no esporte, de forma direta e indireta, de que a profissionalização não só permite a inserção de atletas do Amapá em grandes clubes, como aconteceu no passado, como pode ser um dos vetores do incentivo ao turismo esportivo e consequentemente trazendo dividendos econômicos para o Amapá.

Amapazão 2013

Os oito clubes do futebol amapaense que estão disputando essa temporada, apresentam suas administrações com características amadoras, pela carência e falta de credibilidade do futebol amapaense.
Na fase do amadorismo a maioria dos clubes chegaram a ter patrimônio construído com esforço de torcedores e alguns dirigentes abnegados, e até mesmo com incondicional apoio de governos passados, principalmente da época de Território. Dentre esses desportistas citamos: Osmar Ribeiro, Alírio Rodrigues, Stephan Houat, Corintho Silva, Haroldo Pinto, Elimar Borges, Raimundo Anaice, Waldir Carrera, Abdala Houat, Odoval Moraes, Rodolfo Juarez, Humberto Santos, Milton Correa, gente que tirava do bolso para servir o esporte.

Uma transição açodada do amadorismo para o profissional levou os clubes, sem estrutura administrativa que pudesse suportar as mudanças jurídicas que a nova modalidade esportiva exigia, mergulharam em dívidas, sobretudo com o Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS. Nesse lapso temporal os clubes mais tradicionais perderam patrimônio para saldar as dívidas, alguns inclusive com transações nada transparentes, caso do Trem, que teria ficado sem sede social não fosse Waldez Góes. Outro clube que perdeu a sede foi o Ypiranga Clube e só com apoio do governo de Waldez conseguiu reconstruir uma sede. Torcedores do Leão Azul da Avenida FAB têm reservas com as negociações que riscaram do mapa o patrimônio do Azulino e do Amapá Clube.
Independente e Santana foram grandes clubes que por má administração da era do profissionalismo, perderam suas sedes. De 1990 para cá não se vislumbrou manutenção ou crescimento das equipes tradicionais do futebol amapaense, quer seja no aspecto performático ou patrimonial. O que se observa é um definhamento da musculatura desses clubes e uma sucumbência patrimonial, que chega a tirar clubes como o Amapá Clube das competições oficiais da Federação Amapaense de Futebol e colocar o grande esporte Clube Macapá, o primeiro campeão do Copão da Amazônia na condição de time pequeno.

Para não traçarmos uma linha de desenvolvimento do futebol vertiginosa, o Santos Futebol Clube faz a diferença e caminha na contra mão da história, graças ao espírito empreendedor do Empresário Luciano Marba, que assumiu a administração do clube e desde então vem fazendo investimento na infra-estrutura e nas divisões de base. Marba implantou no Peixe da Amazônia um modelo de gestão profissionalizada. Montou um departamento de futebol que dá esse tratamento ao time profissional, transformando o Santos em um clube-empresa com o objetivo natural de buscar aferir uma lucratividade que faça face às despesas do clube e gere lucro. Um dos caminhos é a formação e a comercialização de atletas no mercado nacional e internacional. Em recente competição disputada no Pará, na modalidade sub 20 o Santos foi destaque e projetou o meio campista Willian Fazendinha na competição, inclusive despertando o interesse de vários clubes por esse atleta.
Diante dessa triste realidade, infelizmente os demais clubes que disputam o Amapazão não conseguiram atingir o nível de estrutura patrimonial e gerencial do Santos, e por isso continuam correndo atrás do patrocínio do Estado e se não vier, a situação desses clubes que já é ruim, tende a piorar.

Incentivo

Este ano a negociação para repasse dos recursos ao Amapazão, por motivos políticos entre o governador Camilo Capiberibe e o Presidente da FAF, Roberto Góes, foram realizadas diretamente entre os dirigentes, o chefe da Casa Civil e com o titular da secretaria de Desporto e Lazer - Sedel, Mário Brandão, que anunciou o repasse de R$ 600 mil aos clubes, valor que deve ser divido em partes iguais para os times participantes da competição.
O espectro de que o governo poderia não ajudar os clubes levou o Oratório e Cristal desistirem do evento. O dirigente da Sociedade Esportiva e Recreativa São José, Rômulo Simões, afirma que sua folha de pagamento gira em torna de R$ 200 mil. “É fato que sem a participação do governo muitos clubes não teriam condições de disputar o Amapazão. O valor repassado ainda não é o suficiente, mas alivia as despesas e podemos honrar a nossa folha de pagamento. Com isso, poderemos inclusive contratar novos jogadores”.

Yuri Pelaes
Com referência ao repasse do município de Macapá, o Coordenador Municipal de Desporto e Lazer, Yuri Pelaes, declarou que o município já fechou o acordo com os dirigentes no montante de R$ 100 mil. “Estamos trabalhando com todas as forças para fomentar o esporte amapaense. Estive no Ministério dos Esportes logo que assumi a Coordenação Municipal de Esporte e Lazer, para conseguir a liberação de emendas para desporto de alto rendimento do Estado. Pois, temos valores garantidos para trabalhar até o fim deste ano”.

O coordenador de Desporto e Lazer do município, Yuri Pelaes se arriscou a palpitar sobre a ausência de público no Campeonato Amapaense. Segundo ele, é o baixo nível técnico dos jogos que não deve agradar ao torcedor, mas esqueceu de inserir em seu ‘pálido’ comentário que a falta de infraestrutura do Glicério Marques é outro fator que contribui para isso, além da minguada quantia financeira que a prefeitura disponibiliza aos clubes.

Despesas

O secretário Mário Brandão informou aos dirigentes do futebol amapaense, que o repasse do Estado estaria disponível para os clubes a partir de 20 de julho, mas até o momento tudo não passou de mais uma falácia de um governo que já habituou a não cumprir o que anuncia. Enquanto o governo investe R$ 14 milhões na propaganda, não consegue honrar R$ 600 mil com o futebol, enquanto isso os ‘pregos’ vão se enchendo de despesas dos clubes que não têm como saldar as dívidas que o campeonato vai originando.

Mesmo sem dinheiro em caixa, os dirigentes fizeram suas despesas “por conta” e contrataram 46 jogadores de outros Estados, despesas com hospedagem e alimentação, assim como a logística. 99% dos clubes não têm Centros Técnicos para realizarem seus treinamentos e dependem de outras entidades para isso.

De acordo com as informações da diretoria dos oito clubes, serão gastos nos três meses do campeonato R$ 1.985 milhão, ou seja, mais de três vezes o valor prometido pelo governo do Estado. Caso seja dividido democraticamente, cada clube receberá R$ 75 mil de cota. Veja a tabela:

Clubes
Jogadores de Fora
   Despesas

São José

            06
  
      R$ 250 mil


Macapá
 
       -

            -

São Paulo

           03

        R$ 110 mil

Santana
            
           00

        R$ 135 mil

Independente
      
           05

        R$ 150 mil

Santos
        
           06

        R$ 465 mil

Ypiranga
          
            10
       
        R$ 600 mil

Trem
             
            14

        R$ 240

De acordo com as informações da secretaria geral da Federação Amapaense de Futebol (FAF), é grande a oscilação da frequência do torcedor nos jogos do estadual. Este ano os clubes que levaram maior número de torcedores ao estádio foram: Santos, São José e Trem, mas nada se compara com os anos da gestão do ex-governador Waldez Góes, que foram superiores em público e renda. Veja Tabela:

                                                                                               

  WALDEZ


Ano

Renda

Público

2008

308.354

71.763

2009

301.56

46.701







 CAMILO


Ano

Renda

Público

2011

277.612,00

33.152

2012

167.905,00

28.946


ENQUETE


Roberto Foguetinho - “Não sou contra a vinda de jogadores, mas que sejam de qualidade, é a matéria-prima (leia-se craques) acabando, daí o nível baixo, recorde de passes errados e estádios vazios. Os motivos são vários, porém, o mais grave é a falta das categorias de base, os clubes não cumprem a missão de descobrir e preparar os craques para o futuro. Só temos um clube fazendo isso, o Santos, isso pelo empreendedor que é Luciano Marba. Eu o parabenizo pelo empenho, é uma luz no fim do túnel melhorando o nosso futebol”.

Mário Sérgio – Tetra Campeão do Copão da Amazônia: “Tínhamos uns times, muito bem formados, dirigentes que vestiam a camisa do clube, sem interesses fora do futebol. Quando passou para o profissional, nos primeiros anos foi bom, depois vem decaindo e hoje o futebol amapaense está precisando de uma mexida total. Da Federação aos jogadores, estão precisando de uma rebobinada geral, pois está muito complicada. Precisamos reunir em um seminário todos os segmentos para rediscutir o futebol amapaense”.






VICENTE VALDOMIRO (Vadoca) - Ex-Jogador de Futebol
Faz muito tempo que não vou aos estádios assistir um jogo, desde que os nossos governantes largaram o nosso futebol, e se tornou uma bagunça, um futebol que já nos deu muitas alegrias, na minha época os governantes incentivavam os clubes, as torcidas e investiam muito em propagandas e nos clubes, os estádios ficavam lotados. Mas hoje dá tristeza ver os estádios vazios”.

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