sexta-feira, 9 de agosto de 2013

“OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS”
A lama que os Capiberibe tentam esconder

José Marques Jardim
Da Editoria

A família Capiberibe, hoje um poderoso clã político do Amapá, esconde como pode, seu envolvimento naquela que para muitos analistas políticos foi o maior golpe para mudar o comando do Estado, a “Operação Mãos Limpas”. Deflagrada curiosamente às vésperas das eleições de 2010, colocou de presente o governo do Amapá no colo de Camilo, que à época estava na penúltima colocação nas intenções de voto, somente à frente do candidato do PSTU.

Foi ele próprio que declarou logo depois de eleito, dever sua vitória à operação da Polícia Federal, que falou de um desvio milionário de recursos até hoje não comprovado e a prisão das principais lideranças políticas daquele ano. Sem qualquer preparo administrativo sobrou para Camilo Capiberibe, até então deputado de primeiro mandato, sem contato maior com o Amapá, devido a longa permanência no exterior e outros Estados, a tarefa de assumir as rédeas aos trancos e barrancos. O resultado tem sido desastroso. Para tentar encobrir a incompetência e inoperância, o atual governador mantém a estratégia de atacar a administração passada, por tudo que dá errado em seu governo.

Tem sido assim desde o dia seguinte à sua posse. A “Operação Mãos Limpas” foi transformada em espada e escudo para manipular a opinião pública. Por ela, o governador ataca e se defende de críticas, tanto da imprensa quanto da própria população. O que os Capiberibe tentam esconder é o envolvimento deles na operação da Polícia Federal, repetindo o discurso da reversão de culpa para a antiga gestão. A frase “herança maldita que herdamos da administração passada”, desfila pelos textos quase infantis, redigidos pela assessoria de comunicação palaciana para explicar desmandos diários na: saúde, educação, segurança pública e em todas as outras áreas da administração. O outro lado da moeda no entanto, existe e envolve o atual governador, o pai dele João Capiberibe, primeiro senador cassado por compra de votos da história da República Brasileira, a tia, Raquel Capiberibe, nomeada Conselheira do Tribunal de Contas do Estado e hoje aposentada e a esposa de Camilo, Cláudia Camargo, hoje Secretária de Mobilização Social.

O filho

O ingresso do governador no elenco das “Mãos Limpas”, se deu também a exemplo dos outros envolvidos, por investigações da Polícia Federal. Não precisou muito trabalho para descobrir o nome dele como titular de 35 contas bancárias. A informação foi divulgada pela revista ÉPOCA, que teve acesso aos dados do Banco Central revelando, que as mais de três dúzias de contas correspondiam a investimentos em quatro instituições financeiras, entre contas-correntes e poupanças. Ainda segundo a revista, em cinco das contas, o nome de Cláudia Camargo aparece como cotitular. A razão de tantas contas bancárias permanece sem resposta até hoje. Camilo Capiberibe como governador recebe o salário mensal de R$ 24 mil.

O fio da meada foi percebido em 2010. Em setembro daquele ano, com a prisão de 18 pessoas, o hoje governador era deputado estadual. Entre o material apreendido nas investigações pelos federais, estavam indícios de que o deputado Camilo e outros parlamentares estariam desviando dinheiro público. O esquema funcionava com a apresentação de notas fiscais frias de uma agência de turismo para justificar gastos com viagens aéreas que nunca foram feitas. Diante das notas, os valores supostamente gastos eram ressarcidos pela Assembleia Legislativa a cada deputado. Nessa mesma época veio à tona o valor da verba indenizatória de cada um dos 24 gabinetes, que pulou de R$ 12 mil para R$ 100 mil pagos por mês. Cada centavo gasto pelos parlamentares era reembolsado. Foi pedido a quebra do sigilo bancário de Camilo Capiberibe e os investigadores acabaram descobrindo as 35 contas. Tragado para dentro da “Operação Mãos Limpas”, o governador fez de tudo para manter a pose de acusador e a máscara de arauto da moralidade. Foi à mídia para rebater as acusações dizendo possuir apenas 8 contas. A opinião pública até hoje não sabe ao certo o que soou pior.

O processo continua em andamento. O ministro João Otávio Noronha intimou o governador a prestar depoimento no Superior Tribunal Federal (STF), em Brasília, por conta das investigações da Polícia Federal e Ministério Público Federal, sobre uso indevido do dinheiro público. Resultado do que foi descoberto em 2010 com as notas fiscais frias para ressarcimento de viagens aéreas que não ocorreram durante o exercício do mandato dele, entre 2007 e 2010. 

O cassado

João Alberto Rodrigues Capiberibe, governador do Amapá de 1994 a 2002 e hoje senador depois da cassação, graças a Lei da Ficha Limpa é outro que faz de tudo para manter no rosto, a já encardida e desacreditada, máscara da moralidade. Não bastasse o rótulo de senador cassado, figurou como personagem principal em um negócio duvidoso, a compra da casa onde mora. O imóvel, segundo apurações, foi transferido do nome de José Ricardo DabusAbucham – representante e irmão do proprietário da construtora Engeform. A empresa prestava serviços à gestão do então governador. Em uma dessas obras, na saúde pública, chegou a receber R$ 17 milhões de um orçamento inicial de R$ 12,3 milhões.

O senador nega envolvimentos escusos para a aquisição do bem e diz ter pagado pelo imóvel, R$ 300 mil em 26 parcelas de R$ 10 mil e uma entrada de R$ 40 mil. João Capiberibe é um poço de negativas. Interpelado pela mídia nacional ano passado, negou todas as acusações. Reuniu recibos e discursou que eles comprovariam a legalidade da transação, apesar de muitos dos documentos não terem seu nome. Também informou desconhecer investigações da Polícia Federal e para o restante dos questionamentos ameaçou processos. João Capiberibe estaria envolvido na farra das passagens aéreas da Assembleia Legislativa, em seu caso, conseguidas pelo filho Camilo, quando este era deputado. Sem saída diante das comprovações dos federais e sem poder ameaçá-los de processo, admitiu ter usado as passagens. Ao assumir o mandato deu outro tiro no pé discursando na Tribuna do Senado. Ele anunciou que pediria informações sobre o desdobramento da “Operação Mãos Limpas”. O primeiro a se explicar foi o próprio filho.

A primeira dama

Para debaixo do tapete a família Capiberibe também tenta varrer o passado de Cláudia Camargo, esposa do governador Camilo. Eles têm pavor em lembrar que ela foi assessora especial de José Júlio Miranda Coelho, quando este era presidente do Tribunal de Contas do Estado. Miranda é um dos principais acusados no inquérito da operação “Mãos Limpas” e quem mais foi citado pelos supostos desvios de recursos públicos. A hoje primeira dama ocupou cargo em comissão no TCE, referência CC-3. Foi nomeada em 16 de março de 2004 com a Portaria 034 assinada pelo conselheiro Manoel Antônio Dias, indicado ao TCE pelo então governador João Capiberibe. Cláudia passou mais de seis anos no cargo e foi exonerada a pedido no dia 10 de dezembro de 2010, quando as eleições, depois da operação “Mãos Limpas” terem definido seu esposo Camilo como governador. O pedido de exoneração supostamente desvincularia os Capiberibe de um dos principais acusados na operação. Foi engano.  Em resumo, o que se tem é um governador investigado sob acusação de participar de um esquema que fraudava notas fiscais, com a ex-mulher servindo um dos presos e principais acusados de uma operação federal. Miranda foi o que mais tempo permaneceu preso.

Outro conselheiro decisivo para a entrada dela no TCE foi Manoel Antônio Dias, que os Capiberibe intimamente chamam de “Duca”. Velho conhecido do clã, deve a João Capiberibe o cargo vitalício no Tribunal de Contas. Não precisa pensar muito para descobrir a razão dele aprovar anos seguidos as contas do governador que o indicou. O jogo de compadres vai além. Com tudo entre família e amigos, quem questionaria qualquer desmando?

Isso é confirmado por uma relação de nomes apreendida na casa de Júlio Miranda. Todos empregados no gabinete do presidente do TCE. Lá, consta além da esposa, um primo do governador. Trata-se de Jorney Souza Capiberibe, também nomeado como assessor especial recebendo salário no valor de R$ 6,1 mil. Na lista, ao lado do nome de Jorney, o do governador, escrito entre parênteses, para lembrar-se de quem partiu a indicação. A nomeação de Cláudia Capiberibe no gabinete de Júlio Miranda foi matéria nacional nas folhas do jornal o Estado de São Paulo.

A tia

Em 2011, a “Operação Mãos Limpas” publica seu segundo capítulo. Mais uma vez os Capiberibe estão na ponta da lança. Na casa de Raquel Capiberibe, conselheira aposentada do TCE, irmã de João e tia de Camilo, agentes federais que cumpriam mandado de busca e apreensão encontram uma lista. O documento, desta vez, não trazia nomeações, mas sim desafetos locais do Partido Socialista Brasileiro, que no Amapá, é praticamente de propriedade da família do atual governador.

Conhecidos pelo sentimento de vingança e perseguição a quem não compactua de suas ideias, personagens divergentes foram relacionados em folhas de papel e descritos.

LISTA NEGRA

Entre os nomes da lista estava o da técnica Andréa Marvão, na função de Coordenadora do Banco de Leite Humano da Maternidade Mãe Luzia. Nas anotações feitas pela tia de Camilo ao lado dos nomes, no de Andréa estava escrito o seguinte: “Era uma das coordenadoras da campanha da Marília Góes (ex-primeira dama na gestão do governador Waldez). Só vivia na residência governamental, em festas com a Marília”. As confissões de rancor seguem citando outros nomes para serem “guilhotinados” pela gestão de Camilo.

Eclemilda Maciel da silva
Gerente do Núcleo de Educação Indígena. Professora do Some. Apoiou Pedro Paulo e no 2º turno era Lucas Barreto.
Maria do Socorro Sena Ramos (a casa dela funcionava como
comitê de Lucas Barreto). Funcionária do contrato administrativo, antes era chefe do setor de pessoal.
Giovana Dias Gomes
Prima de Pedro Paulo: chefe do Abrigo dos idosos; chefe do Super Fácil Jari; chefe na vice-governadoria; chefe no Super Fácil no centro de Macapá. No segundo turno era Lucas Barreto.
Arlete Moreira
Papiloscopista, funcionária federal. Era Jorge Amanajás no primeiro turno e no segundo turno aparecia esporadicamente nos comícios de Camilo.
Antonio Waldez lima
Professor de Filosofia do contrato administrativo fez campanha para o Lucas Barreto desde o primeiro turno, trabalhava em Vitória do Jari.
Ana Lucia de Jesus Rodrigues
Ocupava o cargo de chefe de contratos e convênios da Seed, é uma liderança forte da Pedreira e de alta confiança de Waldez Góes e Pedro Paulo. Não pode pegar nenhum cargo no governo 40. É Perigosa.
“O diretor do departamento da informática da Sejusp
Era o segurança do Gilvam. De alta confiança de Gilvam Borges. Olha o perigo para o nosso governo!”
Cleodineia Paz do Carmo
Ex-gerente do Abrigo São José, seus candidatos eram: estadual Marília Góes, federal Conceição Medeiros, senador- 1 Waldez Góes e o 2º Gilvam Borges. Coordenava o comitê dos Góes no bairro do Congós, próximo à sua residência.
Fracilene Melo
Professora concursada de Itaubal, é assessora da Maria do Socorro na Seed, sempre foi contra a família Capiberibe.
Lana Lameira
É pessoa de confiança do Gilvam e está no nosso governo. Assumiu o cargo de Pedagoga e a direção da escola de Pedra Branca. Fez campanha para Gilvam, Waldez e Lucas Barreto. Diz ter horror à família Capiberibe.
Denise
Gerente do Bailique, no primeiro turno era Pedro Paulo e no segundo Lucas Barreto.
Rafael de Oliveira dos Santos
Contrato administrativo da Seed da época do Waldez com o Pedro Paulo.

 Além da relação, um computador foi apreendido na casa de Raquel Capiberibe. Tudo enviado a Brasília para ser juntado ao processo da “Operação Mãos Limpas”. Raquel é proibida de entrar no Tribunal de Contas do Estado por suspeita de ter participação em fraudes que chegam a R$ 100 milhões dentro do TCE. O esquema de desvios funcionaria com outros conselheiros e funcionários. Entre eles, Regildo Wanderley Salomão; o corregedor Manoel Antônio Dias; ex-presidente José Júlio de Miranda Coelho; Amiraldo da Silva Favacho; o ex-conselheiro Luiz Fernando Pinto Garcia e os funcionários Paulo Celso da Silva Souza, Valdir Rodrigues Ribeiro e Nelci Coelho Vasques. As acusações contra Raquel falam da emissão de cheques e saques da conta do Tribunal diretamente na boca do caixa, além do pagamento a funcionários fantasmas.


A ficha corrida do clã Capiberibe, mostra uma imagem bem diferente do que eles tentam passar para a opinião pública, com um discurso de moralidade e boas intenções. O pânico de não conseguirem a reeleição no governo tem acentuado as aparições do governador e seu secretariado na mídia que ele paga para receber elogios. Por outro lado, a população recentemente declarou sua opinião, em relação a mais quatro anos de Camilo Capiberibe. A pesquisa divulgada pelo jornal Tribuna Amapaense no mês passado, revelou mais de 83% de rejeição quando a pergunta foi a possibilidade de um segundo mandato.

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