sexta-feira, 30 de agosto de 2013


PRECARIEDADE
Enfermeiros e médicos denunciam caos no Hospital da Mulher

Conselho de Enfermagem fiscaliza maternidade e detecta situação insustentável, que vai da falta de materiais básicos a profissionais

Hospital Maternidade Mãe Luzia


José Marques Jardim

A falta de estrutura e de gestores competentes tem sido o ponto alto da Secretaria de Estado da Educação desde que o PSB assumiu o governo do Amapá em 2011. De lá para cá, ao menos cinco nomes passaram pela pasta sem grandes realizações. Dois deles, Lineu Facundes e Edilson Pereira saíram indiciados pela Polícia Civil e vão responder a processo. O mesmo aconteceu com um grupo de servidores depois de investigações feitas dentro da SESA.


Situação da HMML


A secretaria transformou-se em um barril de pólvora bem ao lado de um incêndio de problemas que consome os hospitais Alberto Lima, da Mulher e da Criança. Todos passam ultimamente por um dos piores momentos administrativos desde que começaram a funcionar. Mais uma prova disso foi dada pelo Conselho Regional de Medicina, que divulgou esta semana o resultado de uma fiscalização feita no Hospital da Mulher após receber a denúncia de que 12 bebês haviam morrido. De acordo com o presidente do Coren, Aureliano Pires, o número de mortes não foi confirmado. Dos 12 óbitos informados, apenas 2 tiveram confirmação, o que não deixa de ser problema.

A partir da ida ao hospital, o Coren enumerou uma série de irregularidades colocadas em um documento de 14 páginas que relata situações de precariedade que vão da estrutura física à falta de pessoal, segundo explicou o presidente.

Doutor Aureliano Pires, presidente COREN/AP
A primeira observação feita foi a dificuldade para o tráfego de macas para transportar pacientes em estado grave para uma média de atendimentos que chega de 70 a 80 pacientes e tem ainda um setor de observação com espaço reduzido. Outra gravidade é a falta de pessoal nos diversos setores. De acordo com o relatório do Coren, na Observação não existe ninguém, enquanto o número ideal seria de quatro profissionais. No Alto Risco trabalham dois enfermeiros, enquanto o ideal seriam 15. No Setor de Parto Normal, existem dois, enquanto ideal seriam 12. No Pós Operatório a situação é ainda pior. Dois enfermeiros atuam em uma realidade que exige 20 profissionais. O problema continua se agravando. Na UTI Neo Natal, são seis enfermeiros, mas o hospital precisaria de 33 a 39. Ainda de acordo com o Coren, a supervisão e avaliação das atividades não são r ealizadas de forma contínua, com os registros de enfermagem não sendo feitos nos horários padrão e nem assinados pelo profissional.

O Conselho de Enfermagem vai enviar relatório à Secretária de Estado da Saúde Olinda Consuelo, tratando da situação encontrada na maternidade. No prazo de 30 dias será feita outra visita para verificar se alguma providência foi tomada. Resumindo o que viu na Maternidade Mãe Luzia, o presidente do Coren disse ter sido surpreendido com algumas situações. A mais chocante delas, o mau cheiro sentido logo na entrada do hospital. “Logo ao chegar nos deparamos com aquele odor de fossa. Aquilo é um hospital. Como pode os pacientes e os funcionários ficarem respirando aquele mau cheiro?”, questionou Pires. Segundo ele, problemas graves podem surgir a partir desta situação. O caso ganhou repercussão na mídia local para logo depois ser rebatido pela secretária de saúde. Segundo ela, a morte das crianças é algo perfeitamente normal e previsto nas estatísticas.  A declaração dada por ela aos veículos de comunicação repercutiu negativamente. Consuelo foi mais além e também considerou normal o odor da fossa dentro da maternidade. Recebeu mais críticas e se calou. Na contramão, o governo anunciou as obras da Maternidade do Parto Normal sem sequer conseguir administrar a que já existe.

A precariedade também foi denunciada por médicos neonatologistas. Um documento assinado por estes profissionais dá conta da falta de equipamentos básicos e deficiência de profissionais. O primeiro item denuncia a ausência de fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e pediatras. O segundo item é a falta de materiais essenciais e em perfeito estado de funcionamento, entre eles, sensores para monitor, aspiradores, CPAP nasal, berços, incubadoras, equipo para bombas de infusão, umidificadores e prongas para assistência respiratória, pequenos aparelho que evita o entubamento da criança. O documento também assinala falta de álcool, papel toalha e até sabão para lavar as mãos.


Hoje, segundo os médicos, a proporção de técnicos de enfermagem é de dois profissionais para cuidar de 18 a 22 crianças. Um outro problema grave são os casos de infecção. O hospital está com seis casos de infecção por Klebsiela e três por Pseudomonas. Além destes, existiriam mais infecções causadas por outros agentes infecciosos.

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