Quem são os verdadeiros animais?
Não
existem números oficiais de gatos e cães sem dono que perambulam pelas vias
públicas das cidades do País, e em Macapá não é diferente. Entretanto, os
especialistas e as entidades protetoras dos animais estimam que eles
representam 10% do total daqueles que
vivem em residências.
O
abandono dos animais, em especial os animais domésticos como cães e gatos, é um
problema que afeta cada vez mais as cidades, não somente aqui em nosso País
como em todo mundo. Além de ser uma grave violação ao direito dos animais, gera
inúmeros problemas de segurança de saúde pública nos grandes núcleos urbanos.
Como
estes animais são tratados pelo poder público?
Posse,
propriedade, compra e venda. Expressões cotidianamente aplicadas aos nossos
bens, como casa e automóvel, são também utilizadas para se referir a seres
vivos que, geralmente por escolha nossa e não deles, estão sob nossa
responsabilidade. Não é de agora que os animais são descritos como outro bem
qualquer. No próprio Velho Testamento, encontramos passagens em que o povo
recebe orientações divinas sobre como indenizar, por exemplo, quando um animal
de um vizinho se fere ou morre em terras de outra pessoa.
Já
com relação a legislação brasileira, são vários os dispositivos que
regulamentam a compra e venda, tratam da saúde do animal como forma de prevenir
doenças, possui um sentido bem mais comercial e político-social do que a
preocupação com a saúde e o bem estar dos animais.
Para
o promotor de justiça Eron Cordoli, professor de Direito Ambiental da
Universidade Federal da Bahia e membro do Ministério Público Estadual, lamenta
o tratamento que é dado aos animais no mundo jurídico atual, "Não é um
privilégio só do Brasil. O mundo jurídico ainda vê os animais como um objeto, como
uma coisa. Como um carro, como uma casa, destituídos totalmente de valor
jurídico e, em boa parte, também de valor moral. Sempre que há o interesse do
ser humano em relação aos animais, prevalece o interesse dos seres humanos. É
uma postura muito discriminatória. Isso é injusto e isso fez com que vários
pesquisadores de variadas universidades ao redor do mundo, e vários ativistas
sociais também, formem hoje um movimento que luta pelo reconhecimento dos
direitos dos animais."
Mesmo
nas cidades em que o poder público tem atuado para proteger esses animais, o
papel das organizações não governamentais é fundamental para auxiliar nesse
trabalho. Quando a política voltada para os animais não se preocupa com o seu
bem estar, limitando-se apenas ao controle de zoonoses, as ONGs passam a ser a
única esperança de vida para milhares de bichos abandonados pelas ruas.
A
Sociedade Mundial de Proteção Animal, conhecida pela sigla em inglês WSPA, é
uma federação que reúne milhares de ONGs em todo o mundo. No Brasil, a entidade
é sediada no Rio de Janeiro e conta com 103 ONGs filiadas. A WSPA atua através
de suas filiadas ou diretamente, promovendo campanhas educativas. A presença das ONGs na defesa dos animais
se dá por ineficiência e absoluta
omissão do poder público.
Aqui
em Macapá isto é perceptível, não enxergamos nenhuma ação por parte da
Prefeitura visando recolher das ruas os animais doentes, os que foram
atropelados, os mutilados e os abandonados. Os doentes para serem
diagnosticados e tratados e os abandonados para serem adotados. Também não
temos tido notícia por aqui de nenhuma ONG fazendo este atendimento.
A
constatação destes animais abandonados em Macapá é mais visível quando
percorremos os bairros mais afastados do centro da cidade. Eles costumam frequentar
e se adaptar melhor às periferias, já que a menor circulação de carros e a
precária coleta do lixo domiciliar, feita no máximo três vezes por semana,
favorece a permanência deles nestas áreas.
Em
décadas passadas, víamos em Macapá a tal chamada “carrocinha”, com os seus
exímios laçadores, fazendo o
recolhimento dos animais que perambulavam pelas vias públicas. Ao longo dos
últimos anos, os prefeitos falavam rapidamente que iriam ativar o serviço do
canil municipal, porém, nada era feito efetivamente, e até hoje nenhuma ação
foi posta em prática.
Diante,
desta omissão do poder publico municipal, o Ministério Público bem que poderia
propor medidas legais para controle populacional de animais abandonados na
ruas. Trata-se de um caso de saúde pública e de meio ambiente que a população
de Macapá está exposta no dia a dia.
O
que ainda se enxerga por aqui é uma campanha capenga de vacinação, sem saber
qual o universo de animais vacinados que vão atingir, pois, como já afirmamos,
não existem estatísticas oficiais disponíveis. Só esta ação é muito pouco para
um problema que expõe os habitantes de uma capital com uma população estimada
em 415 mil habitantes.
Adrimauro
Gemaque (adrimaurosg@gmail.com)
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