sexta-feira, 16 de agosto de 2013



Um olhar sobre o trânsito de Macapá
Aqui já discutimos sobre o trânsito de Macapá (O trânsito de Macapá um nó a ser desatado, Edição nº 367, de 20 à 26/07/2013). Naquela ocasião, destacamos como ele está estruturado dentro do espaço geográfico. Os dados foram retratados, mostrando que a zona urbana da cidade de Ma
capá possui 187 km² e uma população estimada em 385 habitantes. Informamos ainda que existem 800 km de vias públicas, porém, somente a metade está pavimentada, vias estas onde circulam 117.756 veículos dos mais variados tipos e tamanhos (DETRAN/AMAPÁ, abril/2013). São quase 630 veículos/km² na zona urbana da cidade de Macapá.

Podemos dizer que existe um veículo para 3,3 habitantes, cálculo feito dividindo a frota de veículos pela população. Ainda podemos afirmar, que este dado representa uma concentração muito grande de veículos em um espaço, com vias em péssimo estado de conservação, com muitos buracos e lombadas que surgem diariamente em função da qualidade do asfalto. A sinalização também deixa a desejar, onde a manutenção dos semáforos, alguns com mais de trinta anos, precisa de atenção redobrada e se torna onerosa, ocorrendo frequentes “apagões”, deixando o trânsito caótico e perigoso.
Em função desta estrutura, o trânsito de Macapá continua fazendo vítimas com danos pessoais e materiais. Em face à estas ocorrências, vamos analisar as estatísticas sobre os acidentes em Macapá, tomando como referência o relatório Acidente de Trânsito de Macapá, última informação disponível sobre este tema, elaborado pelo Núcleo de Engenharia do DETRAN-AP, de julho de 2012. Lá podemos constatar que de janeiro à julho de 2012 ocorreram em Macapá 377 acidentes, onde 197 acidentes (52%) apresentaram vítimas com ferimentos, 178 (47%) vítimas sem ferimentos e 2 (1%) com vítima fatal (morte). Quanto a natureza, em 1º lugar apareceu abalroamento 180 (48%) e em 2º lugar colisão 114 (30%). Como percebemos, os percentuais são elevados desses dois tipos de natureza de acidente em relação aos demais.

O maior percentual de acidentes quanto a circunscrição da via foi a sede municipal de Macapá. Nesses sete meses foram 330 (88%). Quanto à classificação do local de acidente, o cruzamento aparece com o maior percentual, totalizando 183 (49%), seguido da rua com 105 (28%). Outro dado que merece destaque é a fase do dia. Foram 210 (55,7%) acidentes que ocorrem durante o dia, no horário das 12:00 às 18:00 horas, e 167 (43%) à noite, no horário das 18:00 às 00:00 horas. Quanto aos dias da semana, sábado e domingo, ambos com 18%, aparecem com os maiores percentuais de acidentes. A segunda-feira aparece em 3º lugar com 16%. A ansiedade e a pressa de conseguir alcançar seus objetivos no trabalho e cumprir seus compromissos pode ter colocado a segunda-feira nesta posição.
Quanto ao estado da via, o número de acidentes ocorreu em sua grande maioria com pista seca (87%) e com condições climáticas boas (88%), o que indica que quando os motoristas dirigem com cautela os acidentes são minimizados. Já com relação ao número de veículos e pedestres envolvidos em acidentes de trânsito em Macapá, foram neste período 722 pessoas vítimas de acidentes. A 1ª posição foi ocupada pelos automóveis, com 46%, seguido das motocicletas e motonetas, com 29%. Das pessoas envolvidas nos acidentes, 71% são do sexo masculino, enquanto que a faixa etária com maior percentual (33%), corresponde à pessoas de 18 a 29 anos. Estas informações demonstram que os homens estão mais expostos à violência do cotidiano, o que reflete no resultado da expectativa de vida. Muito embora no Brasil nasçam mais homens do que mulheres, existem mais mulheres do que homens. Isso é explicado pela exposição do homem à violência urbana, incluído aí os acidentes de trânsito.




Dois dados nos chamam atenção no relatório: o primeiro é que 9,82% dos acidentes foram causados por condutores não habilitados, portanto quase 10%; já o outro dado interessante é que ocorreram apenas 2 vítimas fatais no período, o que representa apenas 1%. Com relação ao tipo de sinalização onde ocorreram os acidentes, 41% deles aconteceram em locais onde não havia qualquer sinalização, 23% havia sinalização vertical (placas), 10% em semáforos e, também, 10% onde havia faixa de pedestre. Então, podemos concluir que o órgão responsável pelo gerenciamento do trânsito de Macapá necessita, de imediato, melhorar a sinalização horizontal e vertical para evitar os acidentes, assim como a manutenção e substituição dos semáforos.
Campanhas educativas faz tempo que não se vê por aqui. Há necessidade urgente de implementá-las junto aos motoristas e pedestres, estes últimos dando especial atenção para a travessia da faixa de pedestre. Ao atravessar, nem todos demonstram a intenção e outros, mesmo a demonstrando, não aguardam a parada total dos veículos, colocando em dificuldades os condutores. Por ora, o que vimos, quando encontrados, são os agentes de trânsito apenas fiscalizando, aplicando multa e rebocando veículos, sem a preocupação com a orientação do trânsito.
Muito embora já com doze meses que foi elaborado e sem uma periodicidade definida, o relatório traz dados que nos leva a fazer um reflexão sobre a possibilidade de que podem existir registros duplicados, e que esses dados podem ser utilizados pela imprensa de forma sensacionalista, criando na população uma sensação de insegurança. Como as instituições policiais e de fiscalização não possuem uma metodologia definida para que esses dados sejam coletados, nem em nível local como nacional, muitas informações podem estar sendo levantadas mais de uma vez.
Portanto, a dança dos números vai continuar, sempre defendendo interesses próprios e os benefícios que eles podem proporcionar. Mas eles são importantes como forma de conhecer em detalhes como e porque os acidentes acontecem. O trânsito que estressa, fere, mutila e mata, tornou-se um caso de saúde pública. Devemos encontrar uma luz para esse problema e que, ao menos, suavize essas estatísticas. Não importa saber com precisão quantos são aqueles que morreram, ficaram inválidos ou com sequelas. O que importa é que houve mortos ou feridos e que o sofrimento daqueles que ficaram ou que tiveram que se desdobrar fisicamente, psiquicamente e financeiramente poderia ter sido evitado, seja pela atitude dos próprios condutores dos veículos ou daqueles cujos poderes os foram constituídos para tal fim.




Adrimauro Gemaque (adrimaurosg@hotmail.com).

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