sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ANTENADOS

ESCREVA A SEU EU 

Escrever sempre foi uma das coisas que mais amo na vida desde que aprendi a fazê-lo. É como se, ao escrever, eu pudesse organizar o mundo. Ou ainda,  não dando conta de tamanha bagunça, pelo menos conseguisse registrar e eternizar todos os acontecimentos do meu mundo.
Ao falar, muitas vezes não consigo me expressar com a potência que pretendia. Ao escrever, é como se cada vírgula e reticências dissessem algo por mim. Comunicando-me pela palavra escrita, posso pesar cada termo e raciocinar sobre aquilo que eu mesma penso. Escrever foi a forma que encontrei de dar voz à minha voz.

É verdade que cada um encontra uma maneira de se expressar no mundo, e não necessariamente através do que grafa. Há quem pinte, quem componha, quem cante, quem desenhe, quem toque, quem esculpa, quem fotografe... O talento e as afeições são múltiplos e condizentes com as personalidades.
Contudo, penso que a escrita deveria ser aquele tipo de atividade a que todo ser humano se dedique. Ela não deveria ser omitida a nenhum de nós, seja pelo analfabetismo, seja pela falta de domínio linguístico, seja por falta de motivação. Escrever deveria ser para nós como conversar com um amigo - algo essencial à vida. Quando você escreve, dialoga. É aquele momento em que se olha por dentro e pode conversar consigo mesmo.

Embora Platão não concorde comigo, defendendo que a escrita foi como um atentado à memória, à tradição oral, e que através da escrita os discursos passam a não mais ter vida, repousando petrificados em papiro, penso que escrever seja a melhor maneira de  perpetuar lembranças e transportá-las através de um meio material a outros tempos no futuro.

Minha proposta: que cada indivíduo compusesse para si uma espécie de diário, que tivesse algumas folhas de papel seguras sobre as quais pudesse escrever desde as mais triviais experiências do cotidiano até os sentimentos mais íntimos...

Todos nós devemos isso ao nosso eu do futuro, pois um dia, remexendo nalguma gaveta antiga, encontraremos esses papéis velhos, minuciosamente preenchidos com uma porção de nós mesmos, e então, ao lê-los, imediatamente nos lembraremos de quem um dia fomos.

Escrever é encontrar-se a si mesmo, e vale tanto para o presente quanto para o futuro, quando você revisitará aquilo que foi um dia, e que provavelmente não recordava mais.


Escrever é guardar-se para futuros resgates. Não pela experiência melancólica de uma paralisante nostalgia,  mas para entender um pouco mais de si e perceber que os problemas, angústias, aflições daquela época longínqua, tudo isso já passou. Escrever é, por fim, lembrar-se que tudo nessa vida passa.

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