sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Oiapoque

Oiapoque
A fronteira do crime organizado

Reinaldo Coelho
Da Reportagem

Em uma visita realizado ao município de Oiapoque, no primeiro semestre deste ano,  pela reportagem do Jornal Tribuna Amapaense, quando tratamos da situação do caótico do serviço estadual de Saúde e paralelo fizemos umas pesquisas jornalísticas, uma delas foi da situação do Hotel Estadual que se encontrava abandonado e servido de abrigo a drogados. Na matéria dessa edição tentaremos mostrar o verdadeiro retrato daquele fronteiriço município onde a prostituição e as drogas são moedas de trocas do crime organizado, além da lavagem de dinheiro através do contrabando do ouro.
Na matéria de capa da Edição passada (385) foi desvendada a realidade de que o Amapá é a uma das Rotas da Droga no Brasil e o Oiapoque, que possui mais de 40 mil habitantes é a porta de saída para a América Central e outros caminhos traçados pelo crime organizado. 





Pois, áreas de fronteira e principalmente aquelas em que há trânsito muito grande de homens e bastante dinheiro em circulação, se transformam rapidamente em lugares de diversão à base de jogo e mulheres. No tocante a isto não há significativa mudança entre a Martinica dos anos 20 e a cidade de Oiapoque em pleno Século XXI.

 Historicamente litigioso 

Oiapoque sempre foi uma zona litigiosa fronteiriça e continua sendo, agora subterraneamente. Tem  um território que permaneceu como área contestada de conflito até 1900, ano em que foi incorporada definitivamente ao Brasil através do Tratado de Berna, após uma disputa jurídica travada contra a França.
Toda a complexidade que cerca Oiapoque, desde sua criação até os dias atuais, traz à tona alguns problemas sociais como a prostituição, a comercialização e uso de drogas, muitos brasileiros residindo clandestinamente no lado francês e os índices elevados de violência através dos esquemas de contrabando, extração ilegal de ouro e lavagem de dinheiro, que continuam persistindo em Oiapoque. 

Os índices de problemas sociais em Oiapoque são muito altos, estando relacionados: a) à falta de perspectiva de emprego para habitantes locais; b) auto consumo de entorpecentes, sobretudo o crack; c) extrema burocracia na implementação de projetos sociais; d) repasses federais insuficientes e d) migrantes que chegam a toda hora pensando em mudar de vida, mas se deparam com outra realidade, muitas vezes tendo que roubar para sobreviver.
Outro fator que sempre existiu e ainda hoje persiste de maneira muito forte em Oiapoque é a emigração clandestina onde muitos migrantes vêem Oiapoque como corredor de passagem para a Guiana Francesa, pois muitos brasileiros quando chegam na fronteira, sentem-se atraídos para o lado francês, ainda mais com a possibilidade de ganhar na moeda francesa, o Euro (CARVALHO, 2006). 

A realidade nua e crua
Não há controle praticamente algum nessa fronteira, onde o rio é facilmente transposto por voadeiras. É grande o tráfico de ouro, de droga (sem informação consistente), de mulheres, que vão se prostituir em Caiena, e de população em geral, que migra para a Guiana em busca de trabalho e de melhores condições de vida, tendo em vista o suprimento de educação e de saúde gratuitos dados pelo governo francês.

Franceses no Oiapoque
Ao contrário de muitos brasileiros temos a forte presença de franceses e guianenses de passagem por Oiapoque, que atravessam a fronteira, principalmente em busca do turismo sexual bastante procurado na cidade, sobretudo em espaços públicos como a Praça Ecíldo Crescêncio Rodrigues, local onde se concentra uma expressiva quantidade de garotas de programa, sobretudo no período noturno. 
Devido a essa forte presença de turistas, o setor de serviços (sobretudo hotéis e restaurantes) ganhou destaque como atividade econômica local. 
Alguns hotéis se associam à rede de prostituição por se transformarem em pontos de encontro entre as brasileiras e os homens oriundos da Guiana Francesa, uma rede com muitos tentáculos no município, por isso mesmo forte o bastante para fazer com que Oiapoque seja considerado uma rota de comércio sexual juvenil internacional para a Guiana Francesa e o Suriname, onde crianças e adolescentes são exploradas sexualmente.
Muitas garotas de programa também atravessam a fronteira para o lado francês em direção ao garimpo, este com forte influência na economia de Oiapoque. 

Real X Euro
Atualmente, o município de Oiapoque sofre com o enfraquecimento de sua economia devido ao fechamento de garimpos no lado Francês e à forte fiscalização na fronteira por parte da polícia francesa em represália aos brasileiros, sendo que no lado brasileiro essa fiscalização na maioria das vezes não existe. Tal fato se reflete em vários setores, conforme constatado, dentre eles, no comércio hoteleiro com o baixo nível de ocupação dos hotéis da cidade, na queda da circulação de moeda (euro) e no fraco nível das vendas do comércio local, entre outros problemas.

Acesso difícil
Os problemas provocados pela dificuldade de acesso na BR 156 repercutem diretamente na vida da população de Oiapoque, posto que a energia elétrica gerada para a sede municipal e às diversas comunidades do município é feita à base de óleo diesel, o que provoca crise de abastecimento de energia elétrica e gás, de alimentos tornando-os encarecidos. Por outro lado, compromete a comercialização da produção local e a prestação de serviços públicos, além de dificultar o deslocamento de pessoas que precisam vir até Macapá. 
Os comerciantes de Oiapoque acreditam que a construção da Ponte não beneficiará o comércio local tendo em vista que estes não estarão preparados para concorrerem com grandes empresas de outros estados, em um novo cenário de concorrência que provavelmente irá se configurar no município. 
Além disso, outro problema é que a Ponte foi construída fora do núcleo urbano do município, o que pode prejudicar as atividades dos estabelecimentos comerciais já existentes, por outro lado, novas dinâmicas comerciais serão estimuladas e novos pontos da cidade de Oiapoque serão re-organizados.

Conflitos
No município de Oiapoque existem as policiais Federal, Militar, Civil, destacamento da Aeronáutica no aeroporto, Companhia do Exército brasileiro em Clevelândia do Norte e do outro lado da fronteira as polícias civil e federal francesa assim como soldados da Legião Estrangeira. Mesmo com todo esse aparato legal e os armamentos existentes tanto os legais como os ilegais, a região está há pouco para iniciar conflitos seriíssimos. 
A expectativa da sociedade civil organizada local, principalmente os comerciantes é de que após a inauguração da ponte binacional, aconteça o pior. O incremento nas ações criminosas por conta do contrabando de ouro, do tráfico de drogas, armas, munição, pessoas e prostituição infantil. 
De acordo com informações locais, no sábado (16/11), um intenso tiroteio aconteceu na BR 156, em frente ao terminal rodoviário de Oiapoque, tombando morto um indivíduo supostamente envolvido em contrabando de ouro. O autor seria uma dos "chefões" do crime organizado, que continua impune.
As fiscalizações dos policiais franceses em garimpos já provocaram até conflitos com mortes. Em 27 de junho de 2012, dois 'Gendarmes' foram assassinados a tiros quando desciam de rapel de um helicóptero, em uma área de exploração ilegal de ouro na região de Dorlin, sudoeste da Guiana Francesa. 
Quase um mês após a morte dos policiais, os dois suspeitos de cometer o crime foram capturados pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), em um hotel de Macapá . Ambos confessaram os assassinatos e estão presos na penitenciária do Amapá aguardando julgamento da Justiça Brasileira.

Laurent Pichon, coordenador da Gendarmerie, a polícia francesa, relatou a imprensa amapaense que o fato de os garimpeiros irem de forma ilegal para áreas de exploração clandestina na região fronteiriça, a inauguração da Ponte Binacional sob o Rio Oiapoque não será uma preocupação a mais aos policiais franceses. "Porque eles continuarão entrando no país irregularmente.Após a abertura da ponte, não vai mudar nada. Eles não passarão porque são ilegais, e nela só atravessarão pessoas com visto", destacou Laurent Pichon.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...