Relatos de um ano de aprendizado
KAMILA AZULAY
2013 foi um ano vivido com muita intensidade. Boas ou ruins, as coisas aconteceram de maneira impactante para mim. Foi o começo de um novo tempo, de uma nova fase, e posso dizer que definitivamente ingressei no "mundo dos adultos", com um trabalho muito sério a ser executado, contas para pagar, cobranças e expectativas para corresponder, responsabilidades para arcar e projetos para realizar. Em alguns momentos achei que não conseguiria, mas sobrevivi.
O maior de todos os desafios que encontrei durante essa caminhada por 2013 foi o exercício da profissão que escolhi: o magistério. Meus primeiros contatos com a sala de aula enquanto professora efetiva foram quase um trauma, pois me vi sozinha na frente de 12 turmas de adolescentes, em uma escola de periferia, depois ter ouvido as piores previsões possíveis do que eu iria enfrentar, sentindo-me despreparada e (por que não?) desesperada. As primeiras semanas foram um tormento com uma sequência de decepções em cadeia, quase um efeito dominó que destruiu um por um todos os meus sonhos referentes à profissão.
Cheguei a pensar que tinha escolhido errado, que aquilo não era pra mim. Não conseguia me aproximar dos meus alunos que, com raras exceções, não demonstravam simpatia alguma pela minha pessoa. Minhas aulas não alcançavam seus objetivos e os sinais do meu iminente fracasso puderam ser observados nas provas do primeiro bimestre. Confesso que chorei. Fiquei desolada com as notas baixas que fui obrigada a lançar, reconheci que a culpa era minha e passei a questionar a mim mesma sobre minha prática docente. O que faltava? Experiência? Técnica? Conhecimento? A resposta veio do Céu: faltava amor.
Até aquele momento a minha preocupação maior era simplesmente mostrar um resultado numericamente positivo, uma caderneta cheia de notas boas que comprovasse para mim mesma que eu tinha conseguido, que havia me saído bem. Por mais que eu soubesse que meus alunos eram seres afetivos, nunca havia dado espaço para que eles se expressassem enquanto pessoas cheias de sentimentos e emoções. Nunca me mostrei disponível para ouvi-los e isso os impedia de me ouvirem. Depois de muito refletir, Deus me mostrou o que fazer. Passei a orar pelos meus alunos, a me importar com seus problemas e com o que eles tinham para falar, a ser mais afetuosa e a mostrar-me disposta para ajudar.
O resultado foi quase automático! Não só as notas melhoraram como minha relação com eles se tornou muito mais agradável. Senti que minhas aulas ficaram mais interessantes até para mim mesma e eles perceberam que eu realmente amava o que estava fazendo. Infelizmente, vivenciamos uma tragédia no dia 23 de outubro, na qual muitos de meus alunos perderam suas casas no incêndio ocorrido no bairro Perpétuo Socorro, mas até isso Deus usou para que os laços entre docentes e discentes na nossa escola fossem estreitados. Meu coração chorou junto com eles e pude participar de dias que não esquecerei nunca, auxiliando a equipe da escola no socorro aos nossos meninos e meninas e suas famílias.
Enfim, 2014 ainda está com cheirinho de livro novo, prontinho para presenciar uma nova história, mas o que eu quero levar do ano que se encerrou é essa lição que o Pai me ensinou nos meus momentos de desespero: tudo que eu me propuser a fazer deve ser feito com muito, mas muito amor! Não há barreira que não venha a ruir diante de um coração determinado a amar independente das circunstâncias e não há pessoa que não aceite um trabalho feito com amor. Em todo caso, Deus é quem nos capacita para toda e qualquer obra e Ele multiplicará os frutos dos nossos esforços.
Que em 2014 cada um de nós possa amar desmedidamente as tarefas que nos forem confiadas e que todos a nossa volta se contagiem com esse amor.
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