sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ANTENADOS

Bárbara de Azevedo Costa

Um leãozinho

A semana começou para mim, no domingo passado, com a revisitação de imagens da infância... É que estamos com um primo de visita aqui em Fortaleza, e resolvêramos assistir ao clássico da Disney, "O Rei Leão". 

Ah! Para mim, foi como encontrar um velho, muito velho amigo, que não envelheceu, sabem? E mesmo assim... Foi estranho, também. Porque estava tudo ali, exatamente como nas memórias de infância, mas havia o novo, um novo subjacente. Um novo que vem com essa vida adulta de agora... É descobrir diferentes nuanças nas coisas que antes, pequenininho do jeito que era, você nem percebia.

Eu nunca havia, desde a minha infância, visto "O Rei Leão" de novo. Por sinal, indico a todos a experiência. Então imaginem o meu susto íntimo ao me dar conta de que aqueles dois, Timão e Pumba, acabaram criando... Um leão "vegetariano"! Aqui está a Disney brincando com nossas mentes. E isso é algo que, se não for essencialmente bonito, é ao menos intrigante.

Então fiquei pensando nesse leãozinho vegetariano, o Simba. Quando a gente vê pela primeira vez a animação, não percebe quão genial isso é... Seja de quem for a ideia original! Digo, portanto, que vale a pena buscar de volta essas referências que tivemos na infância e na adolescência. Ainda que corramos o risco de que nossos filmes e livros preferidos, vindos dessa época, não confirmem mais o favoritismo agora, pelo menos teremos algumas reflexões interessantes sobre as mudanças em nós mesmos para refletirmos...
E mesmo eu já não lembrando dessas sutilezas do filme da Disney - um leão que come insetos, hienas com retórica monumental... -, percebi que a premissa maior da obra de arte havia se fixado em mim: as relações de amizade, a traição de um irmão, a morte de um pai, o ressurgimento de um rei... Você fica com as cenas como que carimbadas no cérebro.

Depois vem o curioso: ao reencontrar esses carimbos que estavam perdidos em algum limbo da mente, aquele velho paradigma infantil de quem você foi, das coisas que você acreditava, se choca e se mescla com quem você é hoje, adulto, crescendo cada vez mais. Foi o que aconteceu comigo.

Depois de uma semana que começou brilhantemente, assistindo a clássicos filmes de animação com os primos, indo a parques, desfrutando do hoje como se não houvesse amanhã, de repente sou lançada de volta para a rotina... Porque, afinal, há um amanhã, e não passava ainda de quarta-feira! E então a alegria nostálgica foi findando... Vieram trabalhos de faculdade, idas ao banco, pagamento de taxas, arrolamento de documentos... E a nossa criança interna, a criança que fomos, e o leãozinho com o qual a gente sofreu naquelas duas horas de filme, eles vão se apagando, se calando aqui dentro...

Mas nem tudo está perdido, porque, afinal, pensei bastante sobre esse leãozinho vegetariano ao longo dos últimos dias. Este pode estar soando um texto louco, desconexo, mas, no fim, tudo o que eu pretendia dizer era o seguinte: talvez crescer não seja tão improdutivo, por mais cruel e hostil que pareça... 

Você sempre vai possuir uma infância para rememorar. Aquele ponto em que via todos os desenhos da Disney, e isso era o mais próximo de uma rotina que  poderia ter. E esse ponto especial, essa memória, se torna ainda mais especial quando você olha para ela partindo do hoje, do seu "eu" de agora, que cresceu, evoluiu, amadureceu. Porque, do contrário, como perceber que aquele leãozinho era, também, um exercício filosófico, uma pequena lição de vida? Crescer tem suas vantagens.

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