Nazismo à brasileira
Há muitos motivos para preocupação no Brasil! Temos um governo pretensamente democrático, mas de caráter notadamente ditatorial, apoiado por uma parcela considerável da população que adota posicionamentos claramente nazifascistas em seus discursos cotidianos e postagens em redes sociais. Essa combinação é explosiva e significa que poderemos ter muita gente boa que defende e luta por um Brasil melhor sendo presa, ferida, torturada e morta sob os aplausos de muitos e a conivência de uma presidente que diz ser contra a ditadura, mas cujas ações contradizem o discurso.
Há quase uma unanimidade em criticar Hitler como uma excrescência na história da humanidade. Entretanto, o que se vê são inúmeros posicionamentos de brasileiros hoje em dia que, embora as pessoas não percebam, apresentam conteúdo nazista e, portanto, facilmente passíveis de ser associados ao ditador alemão. O nazifascismo se configura por um ultranacionalismo populista, bem aos moldes de certos parlamentares e apresentadores de televisão que fazem sucesso ao bradar e cuspir soluções simplistas que alimentam um imaginário inadequado. Para que o melhor dos mundos se instale, segundo esses iluminados oráculos do pós-modernismo, basta mandar a polícia baixar a porrada em manifestantes, pois são todos vândalos; acabar com partidos políticos, pois são todos sanguessugas; torturar e matar criminosos sob a lei de Talião (olho por olho, dente por dente) e acabar com essa história de direitos humanos. Segundo dizem, é só fazer isso que o Brasil será de primeiríssimo mundo! Mas se fizéssemos isso, tudo que conseguiríamos seria estabelecer um período histórico de pura barbárie como o foram o nazismo, as cruzadas, a inquisição e os golpes militares na América Latina. Períodos onde direitos, pessoas e vidas não valem absolutamente nada se não forem dóceis e subservientes ao poder tirânico que domina o Estado, atualmente representado pelos detentores do poder financeiro.
E qual a semelhança do Brasil de hoje com a Alemanha nazista? Como esse discurso se ajusta ao fascismo? Basicamente o nazifascismo difunde a ideia de que a esperança de um país melhor sem problemas e crimes reside em perseguir e punir os inimigos, extinguir partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais, reduzir ou eliminar liberdades e direitos individuais (humanos) em favor do poder do Estado. É exatamente o que vivenciamos em muitos discursos de hoje, seja em rodas de bate-papo, nas mídias sociais ou nas grandes redes de rádio e televisão.
Após a mídia deturpar sistematicamente a informação pertinente às manifestações, criou-se um imaginário de que qualquer pessoa que esteja envolvida em um ato de rua é, por definição, um criminoso ou terrorista que irá destruir tudo e, portanto, que pode ser preso, levar porrada, ficar cego de um olho ou qualquer coisa que o valha. Sob tal lógica, essas pessoas perderam seus direitos quando foram às ruas (defender um Brasil melhor). Exatamente por isso, a polícia utilizou no ato contra a copa em São Paulo uma técnica de contenção de conflitos denominada Caldeirão de Hamburgo. A técnica é ilegal e criticada em âmbito internacional, entre outras coisas, porque ao fazer um cerco generalizado aos manifestantes, não discrimina quem estava ou não cometendo delitos, de forma que pessoas inocentes serão presas e incriminadas. O próprio Manual de Controle de Distúrbios Civis da Polícia Militar afirma que "A multidão não deve ser pressionada contra obstáculos físicos ou outra tropa, pois ocorrerá um confinamento de consequências violentas e indesejáveis". É esse o país que queremos, onde as pessoas que buscam uma educação melhor, uma saúde de qualidade, que lutam por um Brasil decente e digno sejam presas e sofram agressões independente de terem cometido um crime? Instaurou-se a lógica de que não podemos mais reclamar nesse país defendendo direitos e existências, de que devemos todos ser submissos ao Grande Irmão que domina o Estado, de que podemos sofrer represálias mesmo sem cometer crime algum. Se isso não for ditadura, o que é? E para ter certeza de que poderão fazer todos esses absurdos sem sofrer críticas, o governo federal e alguns estaduais estão mudando legislações para tornar legal toda essa imoralidade aética.
Costumamos olhar para o nazismo como se fosse algo do passado. Muitos julgam, inclusive, que o fato é inerente ao povo alemão e que não aconteceria em outro local ou com outros povos. Infelizmente, não há nada no nazismo que seja unicamente alemão, ele pode surgir repaginado em qualquer lugar. Vale a pena dar uma conferida no filme "A onda" que trata dessa questão. Para os que acham que de repente o nazifascismo não é tão deletério assim, é bom lembrar que, dependendo de quem controla o poder, o pacote de maldades pode voltar-se contra quaisquer alvos. Na Alemanha, as pessoas lembram basicamente dos judeus, mas foram também atingidas várias outras pessoas em razão de suas religiões como católicos e testemunhas de Jeová; profissões como jornalistas; grupos étnicos não-arianos como os negros e diversos outros imigrantes; posicionamentos políticos como comunistas e democratas; bem como os intelectuais e todos os que ousavam pensar e criticar o regime.
Felizmente algumas pessoas passaram a enxergar esses absurdos, o flerte de nosso Estado com o nazifascismo, as distorções apresentadas pela grande mídia, o ataque aos direitos sociais e humanos e começaram a ver os protestos com outros olhos. Esses perceberam que não é possível admitir tal universo de coisas e passaram a denunciar os absurdos, pois reconheceram que poderão ser as próximas vítimas. Claro que esse despertar ocorre contrariamente aos interesses das grandes corporações de comunicação. A mídia, de forma geral, e, de modo particular, aquelas figuras que ficam gritando absurdos, devem rever sua posição e atuar de forma a impedir que ideias nazistas ganhem força no Brasil. Aos que estão defendendo tais ideias e acham normal que as pessoas sejam espancadas na rua pelo braço do Estado, tenham seus direitos esquecidos e sejam criminalizadas apenas por reivindicar, é bom lembrar que muitos deles poderão vir a ser os próximos alvos. Não podemos admitir que cresça e se estabeleça um nazifascismo à brasileira!
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