Crônicas do dia a dia bárbaro
O título pode soar redundante - contar o cotidiano, o prosaico, o trivial-digno-de-prosa, é exatamente o modo como se faz crônica -, mas no adjetivo "bárbaro" escondi o segredo. Já explico.
Hoje deixo registrado junto a meus pacientes e generosos leitores que, a partir de agora, só o quero compartilhar convosco são as miúdezas do meu dia a dia... Meu, sim, por que não? "Bárbaro", de Bárbara, que sou. Mas também de "barbárie" - a barbárie assistida que é a vida no mundo de fora...
Mas quero falar também do mundo de dentro... Já venho fazendo isso, vocês sabem. Agora torno oficial. Não esconderei mais as tendências líricas de meus textos. O mundo jornalístico há de nos perdoar... Minha intenção é ir compartilhando com vocês a vida que vou vendo com meus olhos e a que vou sentindo com minha mente.
Nada disso é novidade, eu sei. O método que apresento agora já é velho conhecido nosso... Faz tempo que uso e abuso descaradamente da Coluna Antenados, exclusivamente para falar de mim - assunto que mais (des)entendo - e dos temas que minha mão direita ama descrever... Já faz algum tempo que converso conversas íntimas demais com esses amigos invisíveis, espectros atentos porém silenciosos a que chamo "leitores". Há, nesta coluna, eu sei, mais intimidade do que suportam os meios jornalísticos...
Mas essa liberdade de escrita é irresistível! Convenhamos, escrevo agora que a coluna passará a abordar as crônicas da vida de uma ínfima aspirante a escritora, mas em minha ingenuidade, nunca enganei ninguém - a página sempre se tratou disso.
Antes, porém, havia a busca culpada por dar uma cara mais "antenada" e jovial à coluna. Acontece, porém, que já me distanciei do adolescer... Estou mais pra lá do que pra cá, minha gente. Agora me resulta um esforço imenso estar "antenada". Não me é mais inevitável como um dia foi saber das fofocas de Hollywood, da trajetória dos astros teen, ou procurar uma maneira desesperada de abordar as peripécias políticas de modo atraente aos jovens...
Atingi aquele ponto de inflexão na vida, aquele em que se percebe que é muito mais válido escrever o que se sente, o que se quer, sem temer a crítica, sem querer agradar por agradar. De fato, ainda que, como pessoas adultas, tendamos a cada vez mais respeitar os limites, os achares, os paradigmas, a opinião alheia, quando se trata da escrita, aqueles que buscam amadurecer dentro dela tendem a não se importar mais com o isso tudo, com o alheio improdutivo... Vai-se crescendo e deixando para trás as amarras... Há somente a missão de escrever, porque o desejo urge. É o que busco.
Simplesmente, tudo o que quero é essa coisa indefinível e ao mesmo tempo tão clara: contar, contar, contar! Sem a pretensão ou a obrigação de ser informativo ou útil... Sem a obrigação autoritária. A escrita não é isto. A escrita, já de primeira, basta por si mesma. Ela dá conta de si sozinha, ela é seu próprio pretexto. Depois é que vêm as outras coisas. Deixo neste ponto o meu sorriso vago e enlevado...
Então ficamos acertados. Enquanto nos permitirem a audácia de contar o indizível, o não-importável, e enquanto houver gente que leia, que se interesse pelo espetáculo da trivial barbárie diária (que é pequena mas ainda assim assusta ou encanta), enquanto houver, estarei por aqui.
Assino meu manifesto e deixo a cargo do destino me dar as boas histórias diárias. Ou quem sabe a minha mente. Que possa imaginá-las. Ou melhor, que possa enxergar as boas histórias através da superfície plana e fria da rotina.
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