AMAPÁ DA INSEGURANÇA
Enquanto o Estado cruza os braços, cidadão se diz acuado pelos bandidos
José Marques Jardim
Por volta das 20 horas da quarta-feira passada, a insegurança em que vive o cidadão amapaense veio mais uma vez à tona. O sargento da Polícia Militar Luiz Eduardo Vieira de Moraes acabou sendo morto em troca de tiros com um assaltante em um restaurante e lanchonete no centro de Macapá. O policial foi vitimado por disparo saído de um revólver calibre 38, mas antes alvejou Johnatan Correa Lopes, vulgo “Macaco”, de 18 anos de idade.
Sargento da Polícia Militar Luiz Eduardo Vieira de Moraes foi morto em troca de tiros com um assaltante |
Quatro membros da quadrilha foram presos logo após o crime. Todos com idades entre 22 e 27 anos e mais um menor de 16, que teria sido o autor do tiro que matou o militar. A quadrilha era composta por Dayan Ramos Modesto Frazão, 22, Wladimir Araújo Marques, 22 e Tatiane Sabrina Modesto Dias, a “Tati”, 27.
Organizados, os bandidos montaram uma verdadeira operação para assaltar o restaurante. “Tati” e outro bandido chegaram ao local mais cedo se passando por clientes. De lá, passavam informações da movimentação via celular para os outros assaltantes. Dessa forma, eles tiveram noção de quanto poderia haver no caixa e o número de pessoas dentro do restaurante.
Casos como este têm acontecido praticamente todos os dias na cidade com os bandidos tendo a certeza de que a polícia está impotente. Neste caso em particular, a prisão só aconteceu devido o assalto ter sido frustrado tanto pelo militar que estava paisana e também pela ação dos próprios clientes e vizinhos que pegaram um dos marginais a dois quarteirões. Ele entregou os comparsas.
A entrevista coletiva convocada para a imprensa na tarde de quinta-feira (13) mais pareceu um show de humor protagonizado pelo secretário de segurança Marcos Roberto. Em sua defesa, ele disse que há muito tempo não se registra nenhuma fuga do presídio. Entre uma evasiva e outra, os jornalistas saíram de lá, mais desinformados do que chegaram sobre a real situação da segurança no Amapá.
A polícia hoje não tem como combater a violência na qual vive o Estado e principalmente a capital. Só nas primeiras duas semanas de janeiro, o número de mortes violentas já havia superado as ocorrências do mês inteiro em 2013. Raptos, assaltos, estupros e homicídios têm se tornado corriqueiros.
Foi assim com o aposentado Mário Ivo Sampaio, 82 anos, raptado de dentro da casa onde morava no bairro Infraero II e encontrado morto três dias depois em uma cova rasa na área rural do município de Mazagão. Os bandidos, num total de três, sendo uma menor de idade agiram com crueldade. O assassino, identificado como Josinei Ferreira Miranda, o “Cabeça” disse que matou Ivo por causa de uma discussão.
Parte da família, que ainda mora próximo à casa da vítima, depois do acontecido se diz traumatizada e pensa em vender o imóvel por medo de represália. “Sabemos que a polícia está desestruturada e não vai poder fazer nada se caso queiram nos atacar aqui”, dizem.
Mas tanto o sargento Vieira quando o idoso Mário Ivo são apenas duas das inúmeras vítimas da violência no Amapá. Os números absurdos colocaram o Estado e a capital em pesquisas nacionais e internacionais. Uma delas, a “Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil”, coordenada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari, de São Paulo revelou que Macapá é a 36ª cidade mais violenta do planeta e que municípios como Porto Grande, Laranjal do Jari e Santana já ostentam taxas de homicídios superiores à média nacional, de 26,2 por 100 mil habitantes. Os dados foram divulgados em 2012, e hoje, considerando a situação, provavelmente aumentaram.
Para ter uma ideia, em três décadas, a taxa de assassinatos no interior do Amapá cresceu 950%. Passou de 2,4 homicídios por 100 mil habitantes, em 1980, para 25,2 em 2010. Nestas cidades, diz a pesquisa, há pelo menos dez anos, não havia registro de nenhum homicídio. Jacobo traça um mapa tendo como base os registros feitos durante uma década, com números e percentuais que revelam os seguintes dados.
Homicídios se tornaram corriqueiros no estado. Segurança pública se mostra impotente diante da violência |
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