sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

denuncia

AMAPÁ DA INSEGURANÇA

Enquanto o Estado cruza os braços, cidadão se diz acuado pelos bandidos

José Marques Jardim


Por volta das 20 horas da quarta-feira passada, a insegurança em que vive o cidadão amapaense veio mais uma vez à tona. O sargento da Polícia Militar Luiz Eduardo Vieira de Moraes acabou sendo morto em troca de tiros com um assaltante em um restaurante e lanchonete no centro de Macapá. O policial foi vitimado por disparo saído de um revólver calibre 38, mas antes alvejou Johnatan Correa Lopes, vulgo “Macaco”, de 18 anos de idade.
Sargento da Polícia Militar Luiz Eduardo Vieira de Moraes foi morto em troca de tiros com um assaltante

Quatro membros da quadrilha foram presos logo após o crime. Todos com idades entre 22 e 27 anos e mais um menor de 16, que teria sido o autor do tiro que matou o militar. A quadrilha era composta por Dayan Ramos Modesto Frazão, 22, Wladimir Araújo Marques, 22 e Tatiane Sabrina Modesto Dias, a “Tati”, 27.





Organizados, os bandidos montaram uma verdadeira operação para assaltar o restaurante. “Tati” e outro bandido chegaram ao local mais cedo se passando por clientes. De lá, passavam informações da movimentação via celular para os outros assaltantes. Dessa forma, eles tiveram noção de quanto poderia haver no caixa e o número de pessoas dentro do restaurante.
Casos como este têm acontecido praticamente todos os dias na cidade com os bandidos tendo a certeza de que a polícia está impotente. Neste caso em particular, a prisão só aconteceu devido o assalto ter sido frustrado tanto pelo militar que estava paisana e também pela ação dos próprios clientes e vizinhos que pegaram um dos marginais a dois quarteirões. Ele entregou os comparsas.
A entrevista coletiva convocada para a imprensa na tarde de quinta-feira (13) mais pareceu um show de humor protagonizado pelo secretário de segurança Marcos Roberto. Em sua defesa, ele disse que há muito tempo não se registra nenhuma fuga do presídio. Entre uma evasiva e outra, os jornalistas saíram de lá, mais desinformados do que chegaram sobre a real situação da segurança no Amapá.
A polícia hoje não tem como combater a violência na qual vive o Estado e principalmente a capital. Só nas primeiras duas semanas de janeiro, o número de mortes violentas já havia superado as ocorrências do mês inteiro em 2013. Raptos, assaltos, estupros e homicídios têm se tornado corriqueiros.
Foi assim com o aposentado Mário Ivo Sampaio, 82 anos, raptado de dentro da casa onde morava no bairro Infraero II e encontrado morto três dias depois em uma cova rasa na área rural do município de Mazagão. Os bandidos, num total de três, sendo uma menor de idade agiram com crueldade. O assassino, identificado como Josinei Ferreira Miranda, o “Cabeça” disse que matou Ivo por causa de uma discussão.


Parte da família, que ainda mora próximo à casa da vítima, depois do acontecido se diz traumatizada e pensa em vender o imóvel por medo de represália. “Sabemos que a polícia está desestruturada e não vai poder fazer nada se caso queiram nos atacar aqui”, dizem.
Mas tanto o sargento Vieira quando o idoso Mário Ivo são apenas duas das inúmeras vítimas da violência no Amapá. Os números absurdos colocaram o Estado e a capital em pesquisas nacionais e internacionais. Uma delas, a “Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil”, coordenada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari, de São Paulo revelou que Macapá é a 36ª cidade mais violenta do planeta e que municípios como Porto Grande, Laranjal do Jari e Santana já ostentam taxas de homicídios superiores à média nacional, de 26,2 por 100 mil habitantes. Os dados foram divulgados em 2012, e hoje, considerando a situação, provavelmente aumentaram.
Para ter uma ideia, em três décadas, a taxa de assassinatos no interior do Amapá cresceu 950%. Passou de 2,4 homicídios por 100 mil habitantes, em 1980, para 25,2 em 2010. Nestas cidades, diz a pesquisa, há pelo menos dez anos, não havia registro de nenhum homicídio. Jacobo traça um mapa tendo como base os registros feitos durante uma década, com números e percentuais que revelam os seguintes dados.

Homicídios se tornaram corriqueiros no estado. Segurança pública se mostra impotente diante da violência


Santana, a segunda maior cidade do estado, com 101.262 habitantes, já era violenta com os 21 assassinatos de 2000 e registrou 30 mortes em 2010 - a taxa de homicídios, que era de 26,1 em 2000, pulou para 29,6 em 2010.


A epidemia da violência também chegou a Laranjal do Jari, com população 39.942 pessoas, que não havia registrado nenhum homicídio em 2000. Mas os 14 assassinatos ocorridos em 2010 elevaram a taxa para 35,1.
O mesmo fenômeno ocorreu em Porto Grande, com 16.809 habitantes, onde o número de homicídios saltou de zero, em 2000, para sete em 2010. Com isso, a taxa chegou a 41,6 assassinatos por 100 mil habitantes, atrás apenas da capital, Macapá, que registrou 195 homicídios em 2010 contra 131 em 2000, com uma taxa de 49,0.
Outra pesquisa do mesmo ano (2012) intitulada “Mapa da Violência – Crianças e Adolescentes do Brasil coloca o Estado como 20º colocado  entre as 27 unidades da federação com um crescimento de 7,8% homicídios por 100 mil habitantes entre 2000 e 2010.

Em 2013
Deixando a pesquisa de Jacobo e o “Mapa da Violência”, ambos com dados de 2010, um outro levantamento feito ano passado trouxe dados mais assustadores e confirmou que o Amapá vive uma escalada de criminalidade ignorada pelas autoridades locais.
O trabalho de campo perguntou aos entrevistados se eles já haviam vivenciado alguma situação com assalto. A confirmação foi quase unânime.


O número de entrevistados foi de 78 mil pessoas em 346 municípios entre junho a maio de 2010, e de maio de 2010 a maio de 2011, e de junho a outubro de 2012. Os crimes listados para os entrevistados foram agressão, discriminação, furto de objeto, fraude, acidente de trânsito, roubo de objeto, furto de carro, ofensa sexual, furto de moto, roubo de carro e sequestro relâmpago.
O resultado é surpreendente. O primeiro colocado foi o Amapá, com 46% dos entrevistados dizendo ter sofrido algum dos crimes relacionados. O Estado do Pará, muito mais extenso ficou com o percentual de 35,5%, seguido do Rio Grande do Norte (31,3%) e São Paulo (20,1%). O Rio de Janeiro ficou com 20%.

Ranking internacional


Uma outra informação, desta vez vinda de uma Organização Não Governamental mexicana colocou ainda mais lenha na fogueira. De acordo com a Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, o Amapá é o quinto Estado mais violento do Brasil. O projeção é de 45,08 mortes violentas para cada 100 mil habitantes. Segundo a mesma ONG, Macapá está entre as cinquenta cidades mais violentas do mundo.


A cidade ocupa a 36ª posição no ranking mundial com 38,7 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2013, foram 210 homicídios registrados. Um dado curioso está no meio deste fogo cruzado de percentuais e estatísticas. De acordo com a Secretaria de Estado e Segurança Pública, a situação não é bem assim e chegou a haver uma redução acentuada na criminalidade. Resta saber de que Estado a gestão está falando, no real, onde o cidadão se diz acuado pela marginalidade, ou no da propaganda oficial que custa aos cobres do pobre Amapá nada menos que R$ 28 milhões.

 



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