sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

analise

 Adrimauro Gemaque - Analista  do IBGE

 

 

As ilusões do brasileiro e a realidade

O ano de 2014 está passando muito rápido. Já estamos caminhando para o final da primeira quinzena de fevereiro, próximo da maior festa popular que é o Carnaval. Festa mesmo só o Carnaval, o que a população está vendo é um Brasil que patina no seu desenvolvimento em vários setores, fazendo com que o povo indignado volte às ruas novamente, a exemplo do que ocorreu em junho de 2013, fortalecendo ainda mais os diversos movimentos sociais e banalização da violência.
    2014 é um ano importante para o Brasil, não só por sediar a Copa do Mundo depois de 64 anos, mas também porque é ano de eleições gerais. Oportunidade para o eleitor não renovar o mandato do político que não honrou o seu compromisso de campanha, e se utilizou dele para proveito pessoal, assim como também eleger quem de fato se apresenta com propostas inovadoras e não das velhas práticas. É preciso dar um basta nas oligarquias familiares que estão instaladas nos poderes executivo e legislativo de estados e municípios.
    Não podemos ficar inertes, assistindo o que é veiculado nas mídias oficiais, senão vejamos:  os 2,4%  que deve crescer o PIB neste ano, segundo cálculo do Banco Mundial. É menos da metade da média de expansão econômica prevista para os países em desenvolvimento, de 5,3%. O Brasil ocupa a 103 ª posição no ranking de estimativa de crescimento, integrado por 122 países em desenvolvimento. Nos últimos vinte anos, somente quatro vezes o país cresceu acima da média - em 1994 e 1995, com o Plano Real; em 2008, na crise econômica mundial; e em 2010, quando Lula usou o seu arsenal para impulsionar o PIB e eleger a presidente Dilma Rousseff.
    Portanto, o que é mostrado pelas mídias oficiais retrata um Brasil de ilusões para sua gente, sempre destacando os avanços que são naturais e óbvios de qualquer país em desenvolvimento, porém, os retrocessos são desastrosos. Todas as vezes que os discursos prometem que o país vai dar um salto para a frente, os fatos mostram que o Brasil  anda dois para trás.
    A Revista VEJA (Edição nº 2.360), fez um apanhado destes avanços e retrocessos vejamos: em 2006, o ex-presidente Lula anunciou que o país havia atingindo a             autossuficiência em petróleo. O que ocorreu, desde então foi que a produção caiu 1,7%. No ano passado, a Petrobras gastou 16,5 bilhões de reais para importar combustíveis, o maior valor dos últimos quatro anos. A safra agrícola bateu recorde no ano passado, com 188,2 milhões de toneladas. Na hora de vender essa riqueza, o Brasil fracassa. A exportação de um contêiner demora treze dias e custa 2.215 dólares, enquanto em Singapura leva a metade do tempo, por um quarto do valor. O acesso a banda larga aumentou seis vezes em quatro anos, e hoje beneficia 60% da população. Porém o Brasil, está apenas em 84º lugar no ranking da velocidade, com uma conexão de 2,7 Mbps - nos Estados Unidos, o oitavo colocado, a média é de 9,8 Mbps. Já com relação a Educação, foi anunciado que o número de adolescentes  de 15 à 17 anos no ensino médio subiu em uma década de 35% para 54%. Entretanto, a qualidade do ensino continua ruim - a média brasileira no Pisa (prova internacional que avalia os estudantes do ensino médio) subiu apenas 9,2%  entre 2000 e 2012, e o país ocupa a 57ª posição entre 65 nações. Quando o Brasil comemorou em 2007 a escolha para sediar a Copa. A previsão era gastar 2,6 bilhões de reais em estádios e 7,9 bilhões de reais em obras de transportes, como metrôs e trens. Agora o que está se vendo, é que os estádios já consumiram 8 bilhões de reais, mas apenas 2,7 bilhões foram para obras de infraestrutura. O orgulho de sediar o evento deu lugar ao temor de que ele resulte em vexame.
    Todos estes pontos destacados merecem de nós uma reflexão, já que as mídias oficiais preferem omitir. O otimismo do governo em mostrar a inclusão social das classes mais baixas contrasta com a inesgotável sangria dos cofres públicos. Os especialistas apontam reiteradamente que os problemas do Brasil são de planejamento, falta de segurança e de infraestrutura precária.
    Aqui no Amapá não é diferente. O que se tem visto é uma mídia oficial pintando um quadro que contrasta com a nossa realidade. O Amapá que vivemos não é este da propaganda oficial. Em três anos do governo atual, não foi construída nenhuma obra de infraestrutura para alavancar o desenvolvimento. A reclamação da população pela qualidade de serviços públicos tem sido recorrente. É falta de médicos e medicamentos básicos nos hospitais. Pais de alunos denunciando a falta de professores em várias disciplinas. Obras que estão paralisadas, sendo deterioradas, e o dinheiro do contribuinte sendo escoado pelo ralo.
     No momento atual, o que pode ser apontado como mais preocupante é a segurança pública. O Amapá lidera o ranking dos Estados mais violentos do Brasil. Por aqui, quase metade da população diz já ter sido alvo de criminosos. Os resultados foram apresentados pela primeira Pesquisa Nacional de Vitimização feita pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (05/012/2013). O certo é que, hoje em Macapá, se formos fazer uma abordagem junto aos nossos  familiares, amigos ou colegas de trabalho, existirá sempre uma pessoa que foi ou conhece alguém bem próximo que foi vítima da violência, o que é um dado muito grave.
    Por conta desses baixos índices na qualidade dos serviços públicos, o governo estadual possui hoje uma rejeição de 74% , dados apontados pela pesquisa IBOPE/CNI. É latente em grande parcela da população a compreensão do se espera de um governante. As manifestações que ocorrem não são pelo contentamento do povo com melhorias na qualidade vida. Descobrimos que a manifestação e o protesto é questão de respeito próprio. Neste momento, os obstáculos que surgirem terão o efeito de uma peneira e não impedirão que o brilho do sol nos ilumine na busca por dias melhores.

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