Enchente em Laranjal do Jari
Problemática tem aspectos ambientais e sociais
Wanda Borges diz que mora há 13 anos em Laranjal do Jari, onde trabalha nas redes de ensino municipal e estadual. Ela conta que já presenciou várias e previsíveis enchentes no Vale do Jari e Laranjal. Num dos trechos da narrativa, a blogueira pontua que "a enchente de 2011 pode ser considerada a terceira maior enchente que este município vem sofrendo no decorrer de seus 24 anos de emancipação política"(sic).
Cidade baixa
A classificação da professora acerca da maior enchente da cidade é a mesma dos moradores jarilenses que citam também a ocorrida em 2000 como de grande proporção. "A cidade baixa ficou submersa pelas águas por quase três meses. Houve mortes, muitos desabrigados, destruição de palafitas, de escolas, de ruas e comércios. As aulas foram paralisadas, pois as escolas da cidade alta transformaram-se em abrigos, professores foram obrigados a trabalhar nos abrigos e para piorar a situação o município sofreu intervenção estadual por causa do afastamento do então prefeito Manoel da Conceição, por corrupção ativa".
Entre os números impressionantes dessa enchente (2011) que atingiu direta e indiretamente cerca de 7 mil pessoas, está o nível da água que chegou a quase 4 metros acima do normal, inundando 7 bairros e paralisando as atividades em 18 escolas, das quais 10 foram invadidas pela água e 8 viraram abrigos provisórios. Os fatos levaram o município ao estado de calamidade pública.
Em 2014
O período chuvoso começa a preocupar a população de Laranjal do Jari (distante 275 quilômetros da capital), onde ainda predominam moradias em palafitas, vulneráveis à invasão das águas. Este ano o Rio Jari já deu sinal de aumento de volume em 20 centímetros, o que deixou em alerta a Defesa Civil do município. "A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros do município estão sempre em alerta nesse período, especialmente nas áreas ribeirinhas. As primeiras chuvas dão uma prévia de que esse inverno vai castigar a população novamente", prevê o coordenador executivo da Defesa Civil estadual, Jerrilson Oliveira.
Soluções paliativas
Pelas condições adversas de sua constituição, Laranjal do Jari vem enfrentando sérios problemas com as enchentes que de uns dez anos para cá têm sido cada vez mais frequentes. Apesar da situação constante, não há políticas públicas que priorizem a retirada total dos moradores da cidade baixa, a chamada área de risco.
Até agora as soluções apresentadas foram paliativas. Um número pequeno de moradores foi retirado da região. Mas, um número bem maior de moradores retorna para essas áreas de risco alegando falta de condições nos bairros para onde são levados. Eles reclamam, inclusive, que nos locais não há escolas, órgãos públicos, comércio e, principalmente, transporte público.
Para os moradores do município, o grande entrave para que as pessoas deixem definitivamente a cidade baixa é exatamente a permanência do centro comercial nesta área. "Tirando o centro comercial da cidade baixa e promovendo serviços básicos suficientes e de qualidade, como saúde, educação, saneamento básico e transporte, poderemos estar escrevendo um novo capítulo na história de Laranjal do Jari. No entanto, falta vontade política, pressão do poder público para que sejam promovidas tais retiradas ou para se tentar minimizar os impactos das enchentes na vida das pessoas da cidade baixa e do município de forma geral", opina Wanda Borges
Flagelos previsíveis
Também é fato que a cidade baixa de Laranjal do Jari constituiu-se desordenadamente sobre a margem esquerda do Rio da Castanha (Jari). Entre os moradores de Laranjal, o termo “Beiradão” não soa bem, por remeter a uma época de pouco desenvolvimento, isolamento, prostituição e violência – além das condições já mencionadas nesta reportagem.
A história de Laranjal do Jari, porém, derivou-se da chegada à região do Vale do Jari da Companhia Jari Florestal e Agropecuária Ltda., do milionário norte americano Daniel Ludwig, que idealizou construir um império autossustentável na região.
As enchentes, que são um fenômeno natural, já fazem parte do histórico dos moradores do município. Outro problema, é a insistente recusa dos moradores em saírem do local. Eles optam por permanecer nas palafitas para guardar e proteger os pertences. Essa alternativa ocorre porque nesse período muitos moradores são deslocados para abrigos provisórios, correndo o risco de terem seus pertences saqueados.
A alternativa de mudar para a casa de familiares que não foram afetados pela enchente, para depois retornarem foi considerada a ideal para 38% dos moradores pesquisados.
Esta é a própria história de constituição da cidade: teve seu início a partir de famílias de empregados da empresa Jari e hoje do Grupo Orsa. Apesar dos problemas, a população mais antiga de Laranjal diz sentir orgulho em declarar que eles construíram a cidade e não os governantes.
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