Frango à Kiev
Já em Kiev, capital da Ucrânia, em pelo século XXI, o povo entrincheirou-se na Praça da Liberdade. Acampados, sob o ar gélido, na iminência de um massacre, resistiram. Alguns morreram em confronto com as forças de segurança. Muitos ficaram feridos. Não arredaram pé, enquanto o presidente Viktor Yanukovich pediu arrego, pegou o boné e fugiu do país.
O que querem os ucranianos? Romper os laços com Moscou e alinhar-se à União Europeia. Yanukovih teimava em manter o cordão umbilical russo. Vladmir Putin, presidente da Rússia, não se deu por vencido. Nem bem comemorou o topo do ranking da Rússia nas Olimpíadas de Inverno, em Sochi, ele mandou o Exército Vermelho sitiar a Criméia, território ucraniano ao sul de Kiev.
O cerco à Criméia, na costa Mar Negro, esboçou um conflito que pode desembocar em uma guerra de proporções mundiais. Embora ucraniana, na Criméia fala, escreve e lê o idioma russo. Mas sua anexação pela Rússia de Putin, após o colapso do império soviético, desencadeou uma onda de solidariedade dos líderes de potências ocidentais aos destemidos ucranianos.
Na quarta-feira de cinzas, 5, Vladmir Putin pronunciou-se pela primeira vez. Disse que não era objetivo da Rússia anexar a Criméia; enfatizou que não reconhece o governo provisório, pois o presidente Yunokovich foi deposto por um golpe de Estado; culpou as potências ocidentais pelo suporte aos rebeldes ucranianos; e garantiu com todas as letras que iria defender os russos da Criméia até às últimas consequências. Por fim, desdenhou dos norte-americanos.
Minutos após as declarações de Vladmir, Barack respondeu. Obama disse que Putin estava blefando, como sempre fizeram os russos. Acertou no alvo. Durante a "guerra fria" os russos alardeavam que poderiam dizimar os Estados Unidos. Quando o Muro de Berlim foi demolido e a Cortina de Ferro rasgada, o mundo soube, enfim, que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não dispunha de tal arsenal atômico.
Quem possui uma vaga noção de política internacional, sabe que os russos têm gelo, ao invés de sangue, nas veias. Historicamente, quem ousou invadir Moscou foi derrotado. Entre eles, o corso Napoleão Bonaparte, gênio militar, e Adolf Hitler, mandante do Holocausto, mas que havia sido capaz de soerguer a combalida Alemanha pós-Bismark, solapada pela hiperinflação e pela usura dos semitas.
O que se pode esperar da crise ucraniana? O Exército Vermelho manterá suas posições de ataque; os Ianques, além de injetar um bilhão de dólares na combalida economia ucraniana, despacharam um destroier para o Mar Negro, e ameaçaram congelar todos os fundos russos aplicados nos cofres de Tio Sam.
Na quinta-feira, 6, fracassou a reunião no Conselho de Segurança da ONU entre os embaixadores dos EUA e da Rússia. Na sexta-feira, 7, Obama telefonou para Putin. Conversaram por uma hora. O diálogo não frutificou. Se a diplomacia não prevalecer, se americanos e europeus congelarem investimentos russos, teremos, em breve, um conflito bélico de consequências imprevisíveis.
Afinal, brigam russos e ucranianos não pelo território da Criméia, nem pela soberania, mas por gás e petróleo. Russos e americanos jamais abrirão mão de dividir a hegemonia do hemisfério norte do planeta. E nós, na América Latina, devemos ficar com o terço nas mãos, rezando para que a ganância dos homens não destrua os homens.
P.S.: Para quem não sabe, Frango à Kiev é uma iguaria da culinária ucraniana.
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